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Xis lança álbum sob a mira dos "manos"

Rapper ainda mora na Cohab, mas depois de ter assinado contrato com a Warner e aparecido no Gugu ganhou fama de "bacana" e despertou muita crítica na comunidade

Por Agencia Estado
Atualização:

Xis, 29 anos, vive em um sobrado na Cohab 2, em Itaquera. Nas vielas do bairro em que tem "manos" de longa data, é respeitado como o "pretobomba". É o negro lutador, rapper, que divide a casa com a mãe, o pai e uma irmã grávida de gêmeos. É o cara humilde que não esquece dos "irmãos" da vila só porque aparece na televisão. Em outras comunidades, onde só o conhecem pela TV, comenta-se que Xis anda se vendendo para mídia. Dizem que se queimou por aparecer no programa do Gugu, no SBT, que não deveria gravar discos em uma empresa multinacional e que fala muito com jornalistas. Marcelo Santos, o Xis, está no meio de um tiroteio. Seu segundo disco, Fortificando a Resistência, sai esta semana pela Warner Music e reforça o paradoxo que Xis criou para si mesmo desde que decidiu sair do gueto e fazer sua música soar em outros mundos. Os rappers durões, de um lado, torcem o nariz para o que consideram uma postura de "bacana". Xis freqüenta lugares ditos de "boy", como o Piranha, em Perdizes. É bem articulado e bem informado. Ainda para maior repúdio dos "bad rappers", grava com gente que pouco representa a periferia, como Cássia Eller e Maurício Manieri. No outro extremo, seus seguidores e a crítica o aplaudem. A atitude, para estes, é louvável porque tira a música de um circuito fechado e hostil aos "não-manos". Seria a evolução de um gênero que só não diz mais porque criou para si um muro que o isola em um submundo no mercado fonográfico. Fortificando a Resistência é a estréia de Xis na Warner. A gravadora Trama lançou seu primeiro trabalho, Seja como For, que acabou marcado pelo hit Us Mano e as Mina. Em comparação com este primeiro álbum, Fortificando é infinitamente melhor produzido, tem sonoridade mais pesada e um discurso bem mais perturbador. "Sempre quis ser um artista popular, afinal o rap é popular. Nunca quis ficar no gueto. Gravar com Manieri ou Cássia Eller foi uma forma de conseguir isso", fala Xis. "Com o primeiro disco eu estava ainda com aquela imagem do cantor de Us Mano e As Mina. Não queria fazer mais um disco de rap doce." Entre "manos" - A traição que sua ida para uma grande gravadora pode significar, por contrariar o caráter independente que rege a cartilha escrita pelos Racionais MC´s, não existe na mente de Xis. "A gravadora não alterou o disco. Só pediu para eu incluir Tudo por Você. Nem ouviram o CD antes de me contratarem. Compraram o artista, não o produto." O desgaste de sua imagem junto aos próprios rappers é um fato percebido pelo próprio artista. "Muita gente olha torto. Falam que estou me vendendo. Mas é o que o meu público vê, o que posso fazer? A verdade é que, no rap, tem muita gente falando besteira. Só porque o cara tem uma situação ruim na vida acha que pode fazer rap." Há ainda uma briga que Xis quer comprar para lançar seu novo disco nos palcos. Os shows que quer fazer, previstos para março, não deverão se restringir ao tradicional circuito de festivais em clubes da periferia. Xis quer ir para os melhores palcos de São Paulo, como DirecTV Music Hall e o Credicard Hall. "Quero usar o trompete que aparece no CD. Quero usar o telão no fundo. Enfim, quero mais estrutura."

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