PUBLICIDADE

Wilson das Neves ressurge com "Brasão de Orfeu"

Baterista que já tocou com o primeiro time da MPB lança disco-solo em que canta as próprias composições

Por Agencia Estado
Atualização:

Oito anos separam O Som Sagrado de Wilson das Neves, sua estréia como cantor de suas músicas, do segundo CD, Brasão de Orfeu, que ele lança hoje e amanhã, no Centro Cultural Carioca. Isso porque as gravadoras dormiram no ponto e, também, porque ele não foi à luta para fazer um novo disco. O poeta Paulo César Pinheiro, seu parceiro mais constante, resolveu a questão no selo Quelé, da Biscoito Fino. Assim, conhecemos a produção recente desse sambista, mais conhecido como baterista, que tocou com quase toda a música brasileira (inclusive Chico Buarque, que o trouxe para a sua banda). "Componho muito, só com o Paulinho Pinheiro são 64 músicas, mas não pretendia cantar nesse disco, pois cantor para mim é o Pavarotti ou o Emílio Santiago. Achava que ia ter uma cantora, como aconteceu com aquele disco com a Elza Soares, nos anos 60, mas acabou sobrando para mim", brinca ele, que escolheu o repertório quase democraticamente. "Paulinho e eu fizemos listas separadas, a partir de nossas músicas e as com outros letristas. O que estava nas duas entrou no disco. Só as melodias são minhas, porque não sei fazer poesia. Se você olhar a ficha técnica, verá que estou muito bem de parceiros." Das 13 faixas, 8 são também de Pinheiro, e as outras se dividem entre Aldir Blanc (Imperial, a que abre o disco, referência ao Império Serrano, sua escola de samba), Cláudio Jorge, Delcio Carvalho, Nei Lopes (Lupiciniana, homenagem ao compositor gaúcho) e Ivor Lancelotti. Em comum, além da melodia requintada e o sincopado característico de Neves, há as letras românticas, de quem vive uma paixão, ao contrário do anterior, cujas letras faziam uma crônica saborosa da vida carioca. "Todo mundo diz isso... até minha afilhada me perguntou por quem eu estava apaixonado", confessa o compositor. "Paixão é fundamental. É diferente de sexo e ninguém vive sem ela", ensina ele, do alto de seus 68 anos. "Mais do que falar de paixão, este disco homenageia as pessoas que me trouxeram até aqui, que me ensinaram o que é boa música e como fazê-la." É o caso da já citada Lupiciniana e A Divina, homenagem a Elizeth Cardoso, cuja letra de Pinheiro lembra a cantora e a dançarina de salão. Neste disco, ele não divide faixa com os amigos. "No outro, chamei o Chico (Buarque) para a nossa música, o João Nogueira para homenagear o Cyro Monteiro e Paulo César Pinheiro. Não tinha sentido repetir e o disco fica só meu e dos músicos que acompanham", explica. Estes são a nata dos palcos e gravações brasileiros: os pianistas Leandro Braga, João Rebouças e Sérgio Carvalho, os violonistas Luiz Cláudio Ramos, Cláudio Jorge e Maurício Carrilho, percussionista Trambique e o baterista André Tendetta, que substituiu com louvor o mestre no instrumento. "Não dá para cantar e tocar bateria, só o Phil Collins. E se eu não cantar minhas músicas, quem o fará por mim?", indaga. Assim será no show de hoje, que mistura o repertório dos dois últimos discos e parte dos músicos que o gravaram. "Se aparecer algum amigo para canja, será bem-vindo."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.