PUBLICIDADE

Willy, um yorkshire na noite de São Paulo

Ao lado do músico e biólogo Joka, cãozinho visto no Bar do Julinho durante o projeto Som das Quartas vive 24 horas com o dono, que o leva à academia, hospital, shows, bares, velório e motel

Foto do author Julio Maria
Por Julio Maria
Atualização:

Joka e Willy sentam-se bem ao lado do balcão, em frente à roda dos músicos, enquanto o Bar do Julinho ferve outra vez. É meio de semana, dia do Som das Quartas, e, ainda que ninguém pareça se importar muito com isso, já passa de 1h30 da manhã. Joka, músico e biólogo, tem 57 anos e respira o oxigênio mais puro do interior em uma casa de Pindamonhangaba feita dentro de 11 contêineres. Willy, 17, pesa três quilos, tem pelos macios, um olhar terno e fala mil coisas por um silêncio que parece conectá-lo o tempo todo com seu dono. Joka se levanta, coloca Willy nos braços e vai curtir o som mais perto do grupo. Willy olha sem muita reação até o baixista Carlinhos Noronha iniciar uma levada de Djavan – uma quebradeira que levanta a casa mas que nunca parece ser mais importante a Joka e Willy do que o fato de estarem juntos.

Joka e seu cão Willy: irmandade conectada pelo olhar Foto: Anna Paula Cavalcante

Amigos de bar e da vida, Joka, ou Jorge Kassis, e seu yorkshire estão juntos desde 2011. E juntos mesmo, no sentido de inseparáveis, indissolúveis, indivisíveis. Joka o carrega em uma mala confortável para mercados, hospitais, velórios, academia, shows, bares, passeios de balão, feiras, palestras e motéis. “Quando tenho uma namorada, consigo um cobertor na recepção e peço para ele virar o rosto para o outro lado”, diz Joka. Willy desenvolveu uma dependência emocional de seu dono depois de passar um tempo vivendo com a ex-mulher de Joka. “Ele estava se mutilando, emagrecendo, em uma situação triste.” Willy voltou e, como se selasse um pacto de irmandade pós trauma, nunca mais aceitou a distância. “Se eu saio de perto por dois minutos, ele se desespera.” Hoje, Joka sabe de cada desejo de Willy lendo seus olhos. “Eu sei qual é a cara do xixi, a cara do cocô, a cara da sede.”

A dupla no início da noite do Som das Quartas Foto: Anna Paula Cavalcante

Músico criador de jingles e biólogo sensível à natureza – ele foi professor de cursinho universitário com 18 anos e montou uma escola de educação ambiental aos 19 – Joka acredita que os animais foram colocados no mundo para ensinar aos seres humanos o que eles ainda não aprenderam. Ao chegar pela primeira vez ao Bar do Julinho, o Beco das Garrafas do nosso tempo, Willy causou estranheza ainda na fila. “Mas cachorro não pode entrar no bar”, disse alguém na portaria. Hoje, quando aparece em uma noite de Lua Nova, aos domingos, ou no Som das Quartas, o próprio Julinho recebe Willy: “Ah, meu cliente mais educado chegou.”

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.