'Welcome 2 America': Álbum póstumo de Prince tem visão profética dos EUA

Material inédito do cantor, morto em 2016, aborda temas como lutas sociais, racismo, fratura política e tecnologia

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Por Maggy Donaldson
Atualização:

Na próxima sexta-feira, 30, será lançado o primeiro álbum póstumo de Prince, uma gravação inédita que estava em seu cofre em Paisley Park, o enorme complexo construído pelo falecido músico americano perto de Minneapolis.

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Welcome 2 America, um álbum de 12 faixas concluído em 2010 e arquivado por razões desconhecidas, oferece uma visão profética das lutas sociais, o racismo, a fratura política, a tecnologia e a desinformação que prevalecem hoje nos Estados Unidos.

Combinando lirismo com um funk suave, Prince descreve os Estados Unidos como "terra dos livres / lar dos escravos".

O artista, que morreu aos 57 anos em 21 de abril de 2016 por uma overdose acidental de fentanil, não sabia que, nos anos após sua morte, sua amada cidade natal, Minneapolis, explodiria em uma fúria de protestos após o assassinato de George Floyd, um homem negro, nas mãos de um policial branco.

O cantor Prince em apresentação feita em junho de 2011, no Stade de France, em Paris. Foto: Bertrand Guay/AFP

Mas Prince era um ativista de carreira que defendia o empoderamento dos afro-americanos, não apenas na indústria fonográfica.

“Você vai para a escola só para aprender / sobre o que nunca existiu”, canta ele na faixa de encerramento One Day We Will All B Free (Um dia seremos todos livres).

No disco, Prince lança "um ataque focado como um laser na situação dos Estados Unidos", disse Morris Hayes, tecladista e diretor musical de longa data do cantor.

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"O que acontece com as redes sociais, a justiça social e a consciência social... Este é um esforço conjunto para realmente falar sobre essas coisas", afirmou Hayes, que coproduziu o álbum.

'Liberdade e justiça'

Para Hayes, o peculiar artista "estava muito à frente" ao prenunciar o momento atual. 

"Ele queria, eu acho, um país que realmente represente o que diz querer representar: liberdade e justiça para todos", avaliou Hayes em uma entrevista à AFP. "E sabemos, dolorosamente, que esse não é o caso."

Hayes contou que Prince, que não carregava um celular e memorizava os números de telefone necessários, também falou sobre liberdade quando se trata de tecnologia e dispositivos, o que ele via como "algo que algema as pessoas".

O disco, que aborda temas decididamente importantes - Running Game (Son of a Slave Master) fala de racismo e Same Page, Different Book trata de religião, por exemplo -, também inclui uma mistura de música dançante e lenta.

Vasculhando o cofre

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Um enorme número de canções - mais de 8 mil de acordo com a sabedoria popular "Princiana" - está guardado no cofre embaixo de Paisley Park. Parte de seu conteúdo, porém, foi transferido para Iron Mountain, um depósito climatizado em Los Angeles.

Hayes lembra que, em meados da década de 1990, Prince comentou que fez uma pausa pela primeira vez. “Ele disse 'nunca em minha carreira tinha ficado uma semana sem escrever uma música e pegar meu violão'."

A revelação do vasto tesouro musical de Prince é um assunto delicado. O astro controlava seu trabalho, sua imagem e sua enigmática persona cuidadosamente construída. 

Prince, que administrava sua propriedade, agora nas mãos de sua irmã e cinco meio-irmãos, nunca foi claro sobre suas intenções sobre o que fazer com seu trabalho não editado, embora tenha tomado medidas para preservar suas fitas, filmes, roteiros e músicas, sugerindo que ele queria que fossem compartilhados.

Quando questionado pela revista Rolling Stone em 2014 sobre o que queria para seu trabalho após sua morte, Prince foi caracteristicamente nebuloso: "Não penso no 'depois'."

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