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Walter Franco lança novo disco

O disco começa com uma parceria dele e de Arnaldo Antunes (que participa da gravação), chamada Nasça. Ela é, por exemplo, um dos mundos intimistas de Tutano, seu novo CD

Por Agencia Estado
Atualização:

"Quem tem tutano tutano tem. Quem não tem tutano tutano não tem". Os versos de Tutano revelam a ´essência de compositor´ de Walter Franco, que, depois de 18 anos sem lançar disco, retoma a carreira fonográfica. O novo CD chega neste mês ao mercado pelo selo independente yb music, com canções inéditas e a produção do músico Constant Papineanu. "Não sei o que é mais difícil, chegar ao cerne do âmago ou ao âmago do cerne. A gente não sabe o que é mais profundo", reflete Walter Franco, que, logo após a colocação dessa questão (intrínseca à sua personalidade), dá uma gargalhada, amenizando o papo-cabeça. Entretanto, o autor de Cabeça, música que marcou a história da música popular brasileira no Festival Internacional da Canção de 1972, expõe nessa afirmação aparentemente esquisita os pontos que norteiam o novo trabalho. Tutano não é simplesmente um disco para preencher a lacuna de 18 anos. Para Walter Franco, fazer o álbum foi um desafio constante, justamente porque seus trabalhos anteriores tiveram grande repercussão, por terem conceitos muito intensos. Cabeça, por exemplo, rompia com os padrões da época. A música era baseada em vozes superpostas e repetições de fragmentos da letra, quase incompreensível. "Sinto que estou prosseguindo o meu caminho poético, voltado para as questões existenciais, para a minha relação com o todo", justifica. "Eu estou buscando não o caminho da simples observação, mas o da constatação." O texto poético de Walter Franco dá unidade a Tutano. Segundo ele, "é uma poesia que serve de algo a mais como um instrumento de afinação para as pessoas". O seu humor invulgar, que trata das condições urbanas e humanas, é outro norte do novo CD. "Eu não poderia vir com a tragicidade dos anos 70, daquele momento de escuridão. A teatralidade, sim, é uma verdade na minha composição. Mas, hoje, minha vibração é outra." Walter parece mais zen, mas continua explosivo. Afinal, esse é um dos seus atraentes paradoxos indecifráveis, que transcende gerações. Mundos musicais - Tutano, como observa o compositor Livio Tragtenberg (ele toca clarones na releitura da música Cabeça e é conhecedor da obra de Franco), tem produção inteligente, que condiz com a poética do autor. "O trabalho dele exige isso, pois cada música é um mundo", comenta Tragtenberg. "Não é meramente uma coleção de canções." Walter Franco afirma que mais importante do que a composição em si é saber o que fazer com ela. "O arranjo não é complemento. É parte da composição", diz. Para isso, ele conta que o grande exercício em Tutano foi o de se adequar a uma leitura capaz de integrar o disco ao universo contemporâneo. "A minha geração me alimenta, mas só essa informação é arrogante. Também não optei por me violentar, usando soluções musicais que destoam de algumas das minhas propostas, como a estética minimalista e minha veia rock." Não há nada supérfulo. Como um artesão, Walter Franco produziu Tutano em parceria com o músico Constant Papineanu. O processo começou no início de 2000. Segundo o compositor, tudo ocorreu sob o princípio da afinidade. O disco começa com uma parceria dele e de Arnaldo Antunes (que participa da gravação), chamada Nasça. Ela é, por exemplo, um dos mundos intimistas de Tutano. A seguinte, Quem Puxa aos Seus não Degenera, é um mundo baladeiro, de melodia eterna, que arrasta o canto coletivo sem barreiras. Já Senha do Motim é quase somente "a voz do pensamento". A sua veia raivosa, roqueira, está presente em Ai, Essa Mulher ("Ai, essa mulher/ me fere para que eu cresça"). Questão de afinidade - A maioria das composições não havia sido gravada por Franco, exceto Cabeça e Muito Tudo (de 1975). O disco traz ainda a estréia de Diogo Franco, que interpreta Intradução, um poema de Augusto de Campos adaptado a partir do texto do trovador Bernart de Ventadorn. Diogo está no CD por uma questão de afinidade estética. Um belo começo. O mundo eletrônico ecoa também por meio das programações exatas de Anvil FX. E há muitos outros mundos a se revelar. Quem tem tutano tutano tem.

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