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Wagner Tiso lança box com vários de seus sucessos

Lançado pela Universal Music, 'Da Sanfona à Sinfônica' traz 4 CDs divididos em blocos e com muitos sucessos

Por Pedro Henrique França e da Agência Estado
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Multifacetário, rigoroso, plural, e, sobretudo, exigente de uma cumplicidade entre ele e a obra para um trabalho bem feito. Maestro, arranjador, pianista e compositor, o mineiro Wagner Tiso desdenha preconceitos. É admirador da quebra de paradigmas na música e do envolvimento do popular com o clássico. Tem como referência Heitor Villa-Lobos e sua peregrinação pelo Brasil para colher ritmos populares e dar um tempero erudito. É, como a essência de Villa-Lobos, o que Tiso vem realizando desde 2004 com a série MPB&Jazz, em que repertórios de músicos consagrados da música brasileira ganham uma roupagem sinfônica.   Em agosto deste ano, ele estreou o projeto em São Paulo. Em comemoração ao centenário do frevo, trouxe ao palco os brilhantes músicos pernambucanos Antônio Nóbrega e Spok, e ainda a Orquestra Sinfônica de Heliópolis, e fez uma grande festa no Sesc Pinheiros mostrando que o popular ritmo dialoga harmonicamente com o erudito sem problemas.   Nesta terça-feira, 13, Tiso volta ao mesmo local para mostrar aos paulistanos uma pequena amostra da vasta obra de Edu Lobo, como já fizera no Rio no início deste ano com a Orquestra Petrobras Sinfônico. Aqui, ele sobe ao palco com a Sinfônica de Heliópolis e conta com a presença do homenageado.   Dar uma vestimenta sinfônica às canções de Edu Lobo provoca menos estranheza do que no caso do frevo. Mas, lembra Tiso, apesar da aparente facilidade, o desafio é grande. "A música é mais difícil", comenta. "As nuances já são harmonicamente mais ricas e, por isso, tenho que trabalhar muito para o resultado soar popular de uma forma erudita", diz.   Ele conta que para chegar às 25 canções que compõe o concerto também foi uma tarefa, pode-se dizer, complicada. "A gente tinha uma lista de 200 músicas e o Edu queria todas", afirma, rindo.   Para esta edição do MPB&Jazz, traçam um panorama da carreira de Edu Lobo, mostrando as mais diversas tendências e as inúmeras parcerias do carioca (Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Chico Buarque, Rui Guerra, Capinam), que, assim como Tiso, também tem muitas facetas na música. Além de compositor, Edu Lobo é arranjador, instrumentista e cantor.   Estão na lista da apresentação, composições que marcaram a carreira do músico carioca, como, entre outras, Sobre Todas as Coisas, O Circo Místico, A História de Lily Braun, Ponteio e Upa Neguinho. As canções de Edu, sob a regência orquestral de Tiso, ganham ainda a participação especial de Zizi Possi, a quem o mineiro rasga elogios. "Ela é uma intérprete excepcional. A Zizi sente a harmonia da música com muita precisão e categoria. Poucos cantores têm um entendimento como o dela", diz Tiso.   Mas o mineiro não está imerso apenas no mundo musical de Edu Lobo. Além do show desta, Tiso chega às lojas com uma luxuosa coleção, que se dedica a mostrar os 40 anos de arranjos na música brasileira. E, vale lembrar, não foram poucas consagrações neste meio. O box Da Sanfona à Sinfônica, lançado pela Universal Music com patrocínio da Petrobras, traz quatro CDs divididos em blocos temáticos - e muitos sucessos. "Cada um conta uma história diferente", aponta o músico.   Em Manto das Estrelas aparecem orquestrações sinfônicas produzidas por Tiso para canções como Corsário, para João Bosco. Em Na Batuta do Sucesso, como o título sugere, estão arranjos e sinfonias para hits, entre outros, de Djavan (Meu Bem Querer), Milton Nascimento (Encontros e Despedidas), Gonzaguinha (Começaria tudo outra vez) e até mesmo sua parceria com Milton, que se tornaria hino de movimentos estudantis - Coração de Estudante.   No terceiro disco da caixa, intitulado Futuro do Pretérito, estão novas versões para grandes sucessos, como Sonífera Ilha, dos Titãs, transformada em bossa nova por Adriana Calcanhoto, ou o mix para Se todos fossem iguais a você (Tom e Vinicius), que surge na voz de três cantoras - Maysa, Simone e Nana Caimmy - em registros diferentes. Por fim, Veredas mostra projetos especiais e homenagens promovidas por Tiso ao longo desses 40 anos.   Como se evidencia, o mineiro de fato passeia com desenvoltura pelas distintas vertentes da música popular brasileira, desde que, frisa ele, tenha qualidade. "Essa é a minha vida, fazer de tudo um pouco. Sempre foi assim. Não tenho preconceito desde que na minha concepção seja belo", afirma. "Pode ser uma congada mineira, um choro, uma moda de viola. Tendo qualidade já valeu."   Nestes 40 anos, pouco se lembra de fatos que tenham lhe incomodado. Não gostou, por exemplo, quando Coração de Estudante, marco das manifestações contra a ditadura e a favor das Diretas, se tornou hino da nova República. "Fiquei de mal com a música", recorda.   Outra coisa que tem afastado Tiso das gravadoras é a descrença por parte delas em novos talentos. "Antigamente, quando as gravadoras achavam que um artista poderia dar certo, investia-se muito. Hoje, talentos iguais não têm mais esse espaço. As gravadoras lançam um disco, se não der certo acabou." Ainda sobre este cenário, Tiso avalia como ponto negativo o distanciamento entre arranjo e artista. "Me convidavam para fazer arranjo e aí quando via estava quase tudo pronto, feito a várias mãos, sem sequer ter envolvimento com o artista. Aí abandonei um pouco o mercado de discos", conta.   Atualmente, Wagner Tiso se dá o direito de fazer o que acredita e onde haja parceria e cumplicidade, como a que acontece hoje no Sesc Pinheiros. Aos que não tiverem esta oportunidade, podem ainda se deleitar da intrínseca relação do músico com a obra enquanto arranjador em Da Sanfona à Sinfônica.   MPB&Jazz com Edu Lobo e Zizi Possi. Sesc Pinheiros, Rua Paes Leme, 195, tel (11) 3095-9400. Nesta terça-feira, 13, às 21h. R$ 15

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