Wagner Tiso grava Tom Jobim e Villa-Lobos

Compositor e arranjador entra em estúdio para os trabalhos de Tom e Villa, álbum que será lançado em outubro

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Por Agencia Estado
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Rua Barata Ribeiro, Copacabana, Rio. Estúdio Cia. dos Técnicos. São cerca de 22 horas do dia 8 e Wagner Tiso e o quarteto Rio Cello Ensemble preparam-se para começar a gravação de Tom e Villa, CD que será lançado em outubro, pelo selo Popcorn, com distribuição da Indie Records. Para o aquecimento, tocaram Eu Sei Que Vou te Amar. Para quem observa a gravação, um deleite. Tom e Villa é o segundo disco da trilogia iniciada no ano passado, com Debussy e Fauré Encontram Milton e Tiso, lançado pelo selo Vison. Esse, gravado ao vivo na série Encontros na Sala Cecília Meireles, no Rio, em 1998, reuniu partituras originais para piano de Debussy e partituras originais para orquestra de Fauré adaptadas e orquestradas para piano e quarteto de violoncelos, além de composições de sua autoria e do parceiro Milton Nascimento. "Eu achei muito interessante essa idéia, que originalmente não foi minha, de aproximação e gostei do resultado", analisa Tiso, em entrevista. "Poder jogar com a maneira de compor dos impressionistas franceses, mostrando que há semelhança com o que fazíamos em Minas, fora do rock, me estimulou a continuar." A intenção de Tiso foge do objetivo didático, mas, coerentemente, possibilita ao ouvinte principiante a compreensão sobre estilos. Escolheu a obra de um modernista, Villa-Lobos, que antecede a dos impressionistas, no caso Debussy e Fauré. O anterior, ao vivo, ganhou o calor do público. Tiso conta que a gravação de Tom e Villa feita, no Teatro Leblon, em maio de 1999, não ficou tão boa. "Teríamos de recuperar em outro concerto, mas já quero fazer um espetáculo de lançamento" diz o músico. "Quero começar uma nova turnê, viajar, para depois voltar a pensar no terceiro." Para encerrar esse ciclo, no qual se propõe a fazer esse crossover, ele tem em mente registrar músicas do começo do século, como sambas e jazz. "Quero, com essa formação de celos, pegar toda uma época, que foi riquíssima e interessante, tanto na música internacional quanto por aqui", afirma. "Por meio de três compositores estrangeiros e três brasileiros, dá para mostrar o que rolava nessa época." Segundo ele, não poderão faltar composições de Duke Ellington e Pixinguinha. Pixinguinha, era um solista de sopro. E não apenas isso, como ressalta Tiso. "Era, além de solista, compositor e arranjador; eu já me apresentei com orquestra sinfônica com arranjos dele, espetaculares", opina. "Era um cara que compunha, orquestrava e tocava, como Duke." Similaridades - Já no caso do álbum Tom e Villa, que pretende lançar no dia 15 de outubro, na Praia de Ipanema, Tiso aponta semelhanças que vão muito além do fato de serem apreciadores de charutos e cariocas. "O Tom dizia que tinha sofrido grande influência de Villa-Lobos, que era um grande ponto de referência na sua obra", observa. "Semelhanças que estavam claras não nos sambas de bossa nova, mas nas grandes canções, fora do movimento; e além disso eles estão entre os maiores compositores cariocas", acredita. O repertório do novo álbum é composto por Luiza, Modinha, Eu Sei Que Vou te Amar, Chora Coração - de Tom Jobim -, Caicó (primeira peça de Villa-Lobos orquestrada por Tiso, no disco Sentinela, de Milton Nascimento, em 1980) e Mandu Çarará, apenas registrada em disco por Tiso. Formado por David Chew, Marcio Mallard, Hugo Pilger e Fernando Brú, o Rio Cello Ensemble dividiu a primeira parceria com Tiso, em 1995. O disco, gravado ao vivo no Jazzmania, teve a participação de Nico Assumpção e Marcio Montarroyos. No entanto, a paixão de Tiso pela sonoridade do violoncelo é bem mais antiga. Mallard conheceu Tiso ainda em Minas, em 1964. "Era ainda aquela época em que ele e Milton eram inseparáveis, sempre na rádio Guarani, em Belo Horizonte", conta o mineiro. Depois, reencontraram-se em 1965, já no Rio. "Ele fazia quase todos os arranjos de Milton, de comum acordo, mas era o mentor da banda" lembra. E foi praticamente na mesma época que escreveu Cello Caribe. "Uma jóia de música e arranjo, que tem um solo de celo como se fosse pra mim." A amizade estreitou-se e a parceria também. Tiso tem, como observa Mallard, um grande amor pelos graves. "Aliás, eu acho que os arranjos do Wagner ressaltam os sons graves e médios, e isso dá um equilíbrio fantástico ao arranjo." Tiso, para ele, sente a música como um celista. Fundado em 1991, o Rio Cello Ensemble era composto originalmente por oito integrantes, pinçados da Orquestra Sinfônica Brasileira. No entanto, foi impossível levar adiante essa formação. Felizmente, a proposta foi mantida com grandiosidade pelos quatro instrumentistas. "O mais feliz, em todos esses trabalhos, é estar orquestrando, solando para uma formação por que sou apaixonado", afirma Tiso. "É uma maneira de mostrar um tipo de música que acho muito bonita, uma sonoridade especial e, ainda, quebrar a fronteira que existe entre a música clássica e a música popular." Tiso cita o solista Daniel Barenboin, que tem feito, a partir de uma sonoridade pianística clássica, música popular. Uma mostra de sua paixão pela sonoridade dos celos será exibida amanhã nesta terça-feira. À frente de um corpo de 12 violoncelistas e da Orquestra Petrobras Pró-Música, ele interpreta a sua peça Cenas Brasileiras, uma suíte popular. É o encerramento do Rio Cello Encounter, no Theatro Municipal do Rio. Em outubro, Tiso começa fazer a trilha de um documentário sobre Fernando Pessoa para a GNT.

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