Vozes femininas dominam eliminatória do Visa

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Por Agencia Estado
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A terceira prova eliminatória do Prêmio Visa de MPB, realizada ontem à noite, no Espaço Promon, foi quase que exclusiva das vozes femininas. Reiterando o que se sabe, fenômeno de sempre: há mais cantoras do que cantores, nesta terra. A cada noite - serão, ao todo, seis eliminatórias - apresentam-se quatro candidatos. Na quarta-feira, o representante masculino foi Berbel, gaúcho radicado no Rio de Janeiro. Seguiram-se a paulistana Luciana Alves, a santista Ana Luiza e a mineira Paula Santoro - ela também radicada no Rio. Berbel tem 38 anos. Nasceu em Pelotas, no Rio Grande do Sul, morou no Rio durante algum tempo, nos anos 90, voltou para o sul, fixou-se, por fim, no Rio, a partir do ano passado. Publicitário, designer, fotógrafo, Berbel é um cantor de sotaque bluesy, dedicado àquele tipo de blues leve praticado por Oswaldo Montenegro e sua turma. Pois foi de Oswaldo Montenegro o primeiro número do candidato, "Não me Diga num Blues" (letra de Zé Alexandre). Berbel fez o número a capela, estalando os dedos para marcar o ritmo. E em seguida, acompanhado por piano, cantou, de Caetano Veloso, Tigresa, mantendo o toque bluesy que só não apareceria no samba Isto aqui o Que É, de Ari Barroso. Foi quando convidou ao palco três percussionistas e ele mesmo bateu no cajón, usando vassourinhas. Terminou com o Tom Jobim e Newton Mendonça de Desafinado. A platéia gostou. O maestro Nelson Ayres, presidente do júri, observou, antes de começarem as apresentações, que, tradicionalmente, no Prêmio Visa, que está na quinta edição, as platéias são generosas. Há sempre as torcidas para esse e aquele concorrente. Ainda assim, as platéias se deixam entusiasmar pelo que é bom. A noite foi em crescendo. A segunda candidata, Luciana Alves, começou sua apresentação com uma emocionante versão para A Noite do Meu Bem, de Dolores Duran, acompanhada pelo acordeão de Toninho Ferragutti e pela clarineta de Zezinho Pitoco, seu pai. O conceito do arranjo era da cantora, que já havia participado da outra edição vocal do Prêmio Visa, há três anos, e mostrou, nessa nova vez, que o tempo trouxe maturidade e segurança. Luciana prosseguiu com O Ciúme, de Caetano Veloso, acompanhada, agora, pela banda completa: além de Pitoco e Ferragutti, agora estavam com ela o violonista de sete cordas Swami Jr., o violonista e contrabaixista Kléber Costa e os percussionistas Guilherme Kastrup e Guelo. Seu número mais aplaudido foi 4 e 15 ou 10 pras 3, criação inteligente e alegre do grande Chico César. Para terminar, Luciana escolheu um Paulinho da Viola clássico, Onde a Dor não Tem Razão. Cedeu o palco para Ana Luiza, voz poderosa e educadíssima, de intenções sutis e equilíbrio raro de técnica e emoção. Ana também estava acompanhada por banda numerosa, formada por músicos excelentes: Natan Marques (violão e guitarra), Sylvinho Mazzuca (contrabaixo), Sérgio Reze (percussão), Ubaldo Versolino (flauta e pícolo), Carlos Alberto Alcântara (sax tenor), Paulinho Batista (trompete e flugelhorn) e Valdir Ferreira (trombone). Ao piano e assinando os arranjos, Luís Felipe Gama. Foi dele o primeiro número de Ana Luiza, um pulso quaternário veloz e acidentadíssimo, sem uma solução convencional que desse folga para a intérprete - e também sem letra, apenas silabado. Dessa corrida pelas montanhas Ana desceu à paz camerística de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, numa canção dos anos 50, Modinha. Invertendo a equação do início, a cantora começou a capela; os instrumentos foram entrando aos poucos e Modinha foi emendada em outro Tom, agora com letra de Chico Buarque, Retrato em Branco e Preto. A empolgação da platéia foi tanta que se perdeu a audição do fim do arranjo, que remetia à primeira música do número composto. Por fim, Ana Luiza cantou um pouco conhecido frevo de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, Ninho de Vespa - aliás, isso mesmo: mais um vespeiro acidentado, desafio que só vozes muito preparadas ousariam enfrentar, no pulso veloz escolhido, na harmonia intrincada que já vem do original. A última candidata da quarta-feira, Paula Santoro, deu início à apresentação com a belíssima Iemanjá Rainha, de Moacyr Luz e Aldir Blanc, pérola daquelas a que todos deveriam ter acesso - mas quase não toca no rádio, na televisão muito menos... Quando música aparece na televisão, faz sucesso. É o caso de Resposta ao Tempo, de Cristóvão Bastos e, mais uma vez, Aldir Blanc, que foi tema de minissérie da Globo, interpretada por Nana Caymmi, e pôs a cantora normalmente considerada "difícil" nas paradas de sucesso. Foi o terceiro número de Paula. Antes disso, ela cantou Na Baixa do Sapateiro, de Ari Barroso, e terminou a apresentação dos quatro números regulamentares com um belo Milton Nascimento, pinçado do disco Clube da Esquina 2: Léo, que tem letra de Chico Buarque. Na próxima eliminatória, na quarta-feira, apresentam-se o grupo vocal BR-6, as cantoras Titane e Jhanaína Carvalho e o cantor Cláudio Goldman.

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