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Violoncelista começou na música aos seis anos

Por Agencia Estado
Atualização:

Hoje um dos principais violoncelistas do cenário internacional, o pernambucano Antônio Meneses começou a se dedicar à música aos seis anos. Ele tomou o instrumento nas mãos pela primeira vez orientado por seu pai, também músico, que fazia questão de que seus três filhos dedicassem parte do tempo ao estudo de um instrumento de cordas. Por que o violoncelo? "Sinceramente, não sei". Com dez anos, Meneses foi para o Rio, onde passou outros seis até ser convidado pelo violoncelista Antonio Janigro a estudar na Europa. "Era muito jovem, e não me lembro exatamente desse período, só sei que tive que lidar com vários choques e transformações: a língua era muito diferente, o modo de vida era estranho para mim." A saída foi dedicar-se ao estudo. "Fui bastante determinado e me concentrei." Os resultados não tardaram a aparecer. Em 1977, quatro anos depois de chegar à Alemanha, ele conquistou o primeiro prêmio do Concurso Internacional de Munique. "Não fui para o concurso com a intenção de ganhar, queria ter uma meta de estudo a perseguir e quando fiquei sabendo que havia recebido o prêmio fiquei um tanto surpreso." Cinco anos mais tarde, outro prêmio: o concorrido Concurso Tchaikovski. "Esse foi um pouco diferente, já era um artista mais experimentado e tinha consciência de que, se ganhasse, isso ajudaria bastante no crescimento de minha carreira." Desde então, Meneses não parou mais. Seu currículo inclui apresentações com algumas das principais orquestras do mundo. A lista impressiona: Filarmônicas de Berlim, Moscou, São Petersburgo, Nova York, Israel, Sinfônicas de Londres, da BBC, de Viena, Orquestra do Concertgebouw de Amsterdã, Orquestra da Suisse Romande, para citar alguns exemplos. No que diz a respeito a maestros, a coisa não é muito diferente. Riccardo Mutti, Mariss Jansson, Claudio Abbado, Andre Previn, Andrew Davis, Semyon Bychkov, Harold Blomstedt, Kurt Sanderling, Mistslav Rostropovich, Von Karajan... Com Karajan, aliás, Meneses trabalhou intensamente , sendo convidado por ele a participar do primeiro concerto feito pela orquestra após a superação de uma crise interna no grupo: Karajan havia entrado "em greve" por causa da recusa dos músicos de aceitar a presença de uma mulher, a clarinetista Sabine Meyer, em seus quadros. "Trabalhar com a Filarmônica foi obviamente, bastante importante para minha carreira, mas, mais do que isso, ter a chance de trabalhar com uma excelente orquestra como essa é algo único na vida de um músico". O mesmo vale no que diz respeito a Karajan. "Trabalhar com ele foi muito bom, ele sabia exatamente o que queria e o que exigir de nós, e essa postura me ensinou muito, uma vez que eu ainda era muito jovem." Além da carreira como solista, Meneses é um dos membros titulares do prestigiado trio Beaux Arts desde 1998. "Nesses quase três anos de trabalho, tenho aprendido muito com meus colegas no trio, e o trabalho que fazemos é uma excelente oportunidade para tocar um repertório bastante especial, com obras de Mozart, Beethoven, Schubert, entre outros grandes compositores." Aprendizado - Estar sempre aprendendo é uma das marcas de Meneses, que considera-se, atualmente, "no meio de sua carreira". "Na vida, passamos por fases: em alguns momentos aprendemos mais; em outros, menos, mas o artista está em contínuo aprendizado em busca de um nível artístico elevado, uma das coisas que torna interessante o trabalho com o Beaux Arts." Meneses não gosta, porém, do termo perfeição. "Não é uma palavra boa." Em sua opinião, o que existe é a busca por um ideal. "O artista imagina algo que ele gostaria de atingir e tenta chegar o mais próximo possível, mas, muitas vezes, sente que falta alguma coisa". Em estúdio, a produção de Meneses é bastante considerável e inclui parcerias com Anne-Sophie Mutter, Karajan, a Filarmônica de Berlim, a Orquestra de Câmara de Munique (com quem gravou três concertos de C. P. E. Bach) e a Orquestra Sinfônica da Basiléia (obras de Eugene D´Albert e David Popper). Ao contrário do que pode parecer, no entanto, Meneses diz que não gosta de entrar em estúdio. "Não é o ambiente no qual eu mais gosto de tocar: é muito ruim ter que ficar repetindo uma mesma frase porque o produtor acha que a nota não está correta, que pode ser tocada melhor; o processo não é natural." Para ele, o contato com o público é fundamental. "Gravar é algo exigido pelo mundo musical atual, mas tocar para um público presente é muito mais gostoso." Atualmente, Meneses tem dedicado pouco de seu tempo ao ensino. Após deixar o cargo de professor no Conservatório da Basiléia, ele dá cursos e master classes por onde toca. "Gostaria de dedicar mais do meu tempo ao ensino, mas atualmente tem sido difícil." Perguntado sobre qual mensagem acredita ser mais importante passar ao aluno, responde que não basta ter técnica. "O jovem músico tem que aprender a se expressar por meio do instrumento, saber passar para o público aquilo pretendido pelo compositor e o que ele próprio sente." Serviço - Orquestra Filarmônica Estatal da Renânia. Segunda, terça e quarta, às 21 horas. De R$ 80,00 a R$ 180,00. Teatro Cultura Artística. Rua Nestor Pestana, 196, São Paulo. Tel. 258-3616.

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