PUBLICIDADE

Violão de Yamandu Costa assume o trono

Desde a morte de Raphael Rabello que a música instrumental do País não via um talento tão explosivo quanto o deste músico gaúcho, de apenas 21 anos, que está na final do Prêmio Visa Instrumental

Por Agencia Estado
Atualização:

A entrada é às pressas, logo que anunciam seu nome. Cabelos caídos sobre o rosto, ajeita o violão ao colo sem pronunciar uma só palavra. A cada instante, seus olhos reviram com mais força, sua face desfigura, suas pernas dançam desajeitadas. As reações na platéia são variadas. Enquanto o rapaz deixa o corpo entrar em uma espécie de transe que sua própria música produz, uns murmuram balançando a cabeça, como se não acreditassem no que viam. Outros observam em intrigante silêncio. Quem está no palco é o violonista Yamandu Costa, 21 anos. Suas mãos são responsáveis pela mais recente sensação na música brasileira instrumental. Saído de Porto Alegre, onde deixou família, Yamandu se apruma para a fama. Paulo Moura, Guinga, Paulinho Nogueira e outros de peso similar que o ouviram já deram o aval. "Ele faz coisas inacreditáveis", derrete-se Guinga. Um dos finalistas do Prêmio Visa de MPB - Edição Instrumental, Costa avisa que o ano é seu. "Vai ser o ano em que vou lançar meus discos." Mestre argentino - De uns tempos para cá, o telefone de sua casa não pára de tocar. Ou são jornalistas ávidos por entrevistas ou músicos sedentos por tê-lo como parceiro. O último deles foi o saxofonista Paulo Moura, com quem Costa dividiu recentemente um show no Sesc do Rio de Janeiro. Caladão como ele só, Moura, ainda no camarim, trocou poucas palavras com o jovem músico. Foi só conhecer o garoto no palco, no entanto, para elaborar um convite: "Temos de gravar um disco juntos." O trabalho deve sair ainda este ano. Os queixos da escola erudita também estão caindo. A técnica de Yamandu Costa não segue padrões clássicos. Sua mão esquerda faz coisas que, se os alunos dos conservatórios tentassem fazer, levariam altas palmadas de seus professores. E a direita, para onde sua furiosa ebulição criativa é canalizada, busca inspiração nos repertórios de Radamés Gnatalli, Dilermando Reis e Ernesto Nazaré. As criações de Yamandu têm ajudado a demolir um muro que sempre separou o gosto popular do que se institucionalizou chamar de "música instrumental". Para atrair ouvintes leigos, o violonista recusa peças de maior complexidade harmônica. Yamandu tornou-se músico por dois motivos. O primeiro pelo pai, também violonista, que o levava para shows quando tinha apenas 4 anos. Se tivesse sono, dormia em um cantinho improvisado no próprio palco. O segundo atende por Lúcio Yanel, violonista argentino de 57 anos, que despertou nele, ainda na infância, o fascínio pelas seis cordas. Com ele, Yamandu diz ter aprendido tudo. "É meu mestre". A dupla também lançará um disco este ano, já batizado Dois Tempos. O violonista dos pampas é considerado por muitos como o sucessor de Raphael Rabello. A relação, no caso, não é estilística. Rabello aprendeu tudo o que sabia em rodas de samba e choro. Yamandu tem sua escola na milonga e em outros ritmos de tradição sulista. Bom de copo - A referência a Rabello está mais associada a uma questão de status. Depois de sua morte, em 1995, ficou no universo dos gênios do instrumento um vácuo. E então, só Yamandu apareceu em condições de assumir o cargo: jovem, virtuoso, cativante. Yamandu Costa não nega o sangue boêmio. Vive parte do mês no Rio de Janeiro, em um apartamento na Zona Sul com o também violonista José Paulo Becker, e outra parte em São Paulo, solitário, em um apartamento de Moema. Em ambos os lugares, tem suas atividades notívagas preservadas. "Minha escola inteira foi dentro de um bar. As coisas que se aprende lá são inacreditáveis." Suas palavras não se referem diretamente ao consumo etílico. No entanto, o levantamento de copos é uma conseqüência assumida. Aos 21 anos, Yamandu bebe com a resitência de gente grande. "Também não sou burro. Já vi muita gente se dando mal com isso. Me recuso a ir pelo mesmo caminho." Final do 4.º Prêmio Visa de MPB, quinta-feira, a partir das 19h30, no Tom Brasil (Rua das Olimpíadas, 66 - São Paulo, Vila Olímpia). Ingressos: R$ 10 - estudantes pagam meia-entrada. Censura: 14 anos. Telefone para informações sobre ingressos: 3845-232. A final será transmitida pela Rádio Eldorado FM, 92,9 Mhz, a partir das 20 h, e pela TV Cultura no programa Metrópoles, ao vivo, das 22h30 às 23h30.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.