Video Music Brasil: por que não ignorá-lo?

Reiterando ambições da indústria fonográfica, festa é mico anual desprezado pela crítica, mas ainda assim bastante aguardado

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Por Agencia Estado
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É um mico anual pelo qual todo mundo espera com ansiedade. Como o Grammy ou o Oscar, é um prêmio desprezado pela crítica, que brande sempre o mesmo (e correto argumento) de que aquilo é brega, falso, que ignora as melhores coisas do rock e da MPB em prol do interesse comercial e que só acolhe os artistas subservientes, que possam atuar como coadjuvantes nos seus micos anuais. Então, por que não ignorar isso de uma vez? Porque os VIPs estarão lá, porque dá para rir das gafes da Luana Piovani e aplaudir a lordose da Feiticeira, porque é engraçado ver os Raimundos errando uma entrada e recomeçando, o Zé Bonitinho deixando sem graça a Fernanda Lima, o Jair Rodrigues botando no bolso o Chorão, a Luciana Gimenez tripudiando sobre a conta bancária do Mick Jagger ao som de Satisfaction. Tudo é ensaiadinho e tolinho, mas mesmo no ensaio o talento prevalece. O que não impede de dizer do que se trata de fato. A festa do Video Music Brasil reitera as ambições da indústria fonográfica, mas tenta mascarar isso com uma pose de quem sabe discernir o que é kitsch do que é chique. De quem enxerga a cultura pop em Flávio Cavalcanti e Goretti Milagres. Caetano é "chique", Leandro Lehart é "ralé" - então, precisam estar juntos para que um legitime o outro. Monique Evans é diva do mundinho, então ela pode entrar de mãos dadas com o vocalista dos Travessos que tudo vai ficar bem. A festa de ontem à noite, no Credicard Hall, foi pródiga em celebridades. Gustavo Kuerten, no telão, com um ponto eletrônico no ouvido, foi submetido a um vexame via satélite ao entrar em cena para apresentar a escolha da audiência. Sem retorno, o tenista ficou com um sorriso amarelo esperando para saber qual era a sua deixa. Para piorar, ninguém lhe deu uma palavra-chave para dizer que sua participação estava encerrada e ele ficou parecendo protagonista de um Truman Show particular. Marília Gabriela resolveu tripudiar sobre as mulheres com seu bordão "Vocês lambem com os olhos, que eu lambo com a testa" e exibiu-se com o namorado. E Max Fivelinha e Clodovil fizeram o gênero "bicha nova e bicha velha professoral". O cineasta espanhol Pedro Almodóvar, Oscar de filme estrangeiro por Tudo sobre Minha Mãe, foi exibido como um troféu pela entourage de Caetano Veloso. E foi apresentado como um extra-terrestre por Paula Burlamaqui, amiga do peito da mulher de Veloso, Paula Lavigne. "É verdade que ele está aqui, é verdade, é verdade?", repete a Burlamaqui. "Eu estou nervosa." Pedro vem, lê um texto horrível que devem ter lhe dado para ler entre o trajeto do avião e o hotel e sai à francesa. Claro, nem tudo foi dor e devastação no VMB. As mulheres bonitas nunca foram tão bonitas. Luana Piovani melhorou muito quando colocou um vestido de Vilma Flintstone. O decote da Fernanda Lima - nervosa para uma estréia - era uma transamazônica de emoções fortes. E a VJ Didi, meu bom Deus, o que é a Didi, aquela festa impressionista à solta no mundo? Ronaldinho, de sapato vermelho, entra no final para dizer que "estamos pelo apito do juiz, a festa está terminando". Mentira. Ainda tem um convescote lá nas imediações do MorumbiShopping.

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