Vida orquestral só cresceu em 2013

Porém, espaço para autores brasileiros ainda é incipiente

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Por João Marcos Coelho
Atualização:

Em ciclos virtuosos como este, é lícito esperar que músicos e compositores brasileiros vivos sejam beneficiados com um espaço digno na vida musical. Infelizmente, isso ainda não aconteceu. Talvez a Osesp – que viveu um ano bom, sem novos rateamentos de motor e com a titular Marin Alsop começando timidamente a atuar na programação – não se dê conta, mas ela sinaliza caminhos às demais instituições brasileiras quando encomenda peças pseudoconcertantes e suítes de arranjos de canções travestidas de obras sinfônicas a compositores populares. Vejam-se, por exemplo, os planos para 2014 do Teatro Municipal.

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Desse modo, a Osesp não apenas marginaliza os criadores contemporâneos. Pior: preocupa-se só com seu marketing internacional fazendo encomendas conjuntas com grandes orquestras dos EUA e da Europa a compositores estrangeiros. Por que não trazer estas grandes instituições para encomendas conjuntas em obras de grande porte a compositores brasileiros como Flo Menezes, Silvio Ferraz e Liduíno Pitombeira entre os mais experientes, ou jovens talentosos como Tatiana Catanzaro, Valéria Bonafé, Leonardo Martinelli e Fernando Riederer?

A consequência indireta deste estado de coisas é que um dos melhores concertos do ano, no início deste mês no Teatro Municipal, foi obrigado a recorrer a um concerto para piano de 34 anos atrás para compor o programa. Por quê? Ora, não há exemplos mais recentes, fora o de Gilberto Mendes, dos anos 80, de obras concertantes brasileiras. As orquestras não as encomendam. Qual a mais recente sinfonia brasileira? A de Almeida Prado, de 1985, também presente no concerto da Experimental.

Compositores escrevem para serem tocados. Se as orquestras não lhes encomendam obras, eles optam pela música solista, camerística ou eletroacústica. Nestes gêneros, a produção recente é farta. O melhor termômetro para se medir isso talvez sejam os projetos de CDs aprovados pelo Proac nos últimos anos. Bem ou mal, eles são uma vitrine diversificada e riquíssima da criação musical brasileira atual. E também um veículo para grandes músicos brasileiros, como o fagotista Fábio Cury, que lançou um excelente álbum duplo com obras de Johann Sebastian e Carl Philipp Emanuel Bach ao lado de Alessandro Santoro ao cravo e órgão.

Muitos especialistas já repetiram que as orquestras são organismos conservadores por natureza. É natural, portanto, que se debrucem muito mais sobre a música do passado, obrigadas que são a preencher semanalmente salas de 1.500 ou mais lugares. Nada contra. Aliás, este é o grande ponto positivo da temporada 2013. Graças ao orçamento faustoso da Osesp, comparável ao das grandes orquestras europeias e norte-americanas, tivemos o privilégio de assistir novamente aos solistas e grupos mais reluzentes no auge da forma.

A frase vale para as jovens estrelas em ascensão como o excepcional pianista Daniil Trifonov como para os monstros sagrados como Yo-Yo Ma ou a Concertgebouw e Mariss Jansons. A Sala São Paulo concentrou em 2013 os grandes concertos internacionais, da Osesp ao Mozarteum e à Sociedade de Cultura Artística. Em junho, Frank Shipway, guru dileto dos músicos da Osesp, regeu o pianista inglês Paul Lewis em performances espetaculares do primeiro de Brahms e da quarta sinfonia de Sibelius; o Quarteto Borodin emocionou no quarteto nº 8 de Shostakovich; e a Filarmônica de Lahti surpreendeu, com Okko Kamu fazendo uma incrível quarta de Beethoven e regendo a fulgurante Elina Vähälä no concerto para violino de Sibelius.

A temporada começou e terminou ungida pelo centenário da Sagração da Primavera de Stravinsky: em abril, o fogo de Dudamel incendiou os jovens músicos da Simon Bolivar; na data exata do centenário, 29 de maio, um presente inesperado, com a versão a dois pianos com Paulo Guimarães Alvares e Olga Kopylova. O concerto final da Osesp também trouxe a Sagração, mas o resultado ficou vários degraus abaixo dos dois primeiros tributos.

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