Vida de Kick Drake é contada em documentário

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Por Agencia Estado
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Um dos ídolos mais intrigantes da música inglesa alternativa volta à tona quase 30 anos depois de sua morte. Nick Drake, o recluso autor dos aclamados álbuns Pink Moon e Five Leaves Left e ídolo de bandas como R.E.M. e Radiohead, tem sua vida contada no filme A Skin Too Few: The Days of Nick Drake, do diretor Jeroen Berkvens. O documentário ganha em importância por conter o único registro em filme existente do cantor - trechos de um filme super 8 feito no batizado dele. Nascido em Birmingham, ele aprendeu a tocar saxofone e clarinete no colégio e descobriu a guitarra aos 16 anos. Quatro anos mais tarde, quando estudava na universidade de Cambridge, foi descoberto e contratado imediatamente pela gravadora Island. Gravou o disco Five Leaves Left, mas, alegando um extremo caso de timidez e desapontamento com a indústria fonográfica, não quis ajudar a promover o trabalho. Sua mistura de folk e jazz, no entanto, foi reunindo uma legião de fãs na Europa e também nos Estados Unidos. A timidez do músico, na verdade, era um caso complicado de depressão crônica que rendeu temporadas em instituições de tratamento e um processo de isolamento cada vez mais forte. Em 1970, ele lançou o segundo disco, Bryter Layter, e parou de fazer shows. Pink Moon, de 1972, foi o último trabalho lançado em vida: um álbum intimista, com belíssimas composições, que virou cult instantâneo. O disco foi gravado apenas por ele e enviado pelo correio para a gravadora. Drake passou uma temporada de um ano morando em Paris com a cantora Françoise Hardy (que nunca lançou as gravações que fez com ele), antes de voltar a morar na casa dos pais, no interior da Inglaterra. Em 1973, ele voltou a compor, mas morreu um ano depois de uma overdose de anti-depressivos. A polícia classificou a morte como suicídio, mas a família e os amigos descartam a hipótese. Anos mais tarde, o legado de Drake foi redescoberto pelo R.E.M., que convidou o produtor Joe Boyd, que trabalhou com o músico nos anos 60, para a produção do disco Fables of the Reconstruction, de 1985. Em 1999, uma nova onda de revival nos Estados Unidos, por conta do relançamento dos trabalhos do cantor em CD e da inclusão da faixa Pink Moon em um comercial da Volkswagen. A música fez tanto sucesso como jingle que foi parar em uma compilação chamada As Seen on TV, com várias faixas que haviam virado trilha de propagandas. A idéia de transformar a breve trajetória de Drake em um documentário nunca havia saído do papel pela falta de imagens em movimento dele (apenas poucas fotos foram feitas em seus seis anos de carreira). Ele quase não tinha amigos, os pais já morreram e a casa da família foi vendida. Até as pessoas que trabalharam com ele dizem não saber muito sobre o artista. Assim, com a colaboração da irmã, Gabrielle Drake, Jeroen Berkvens reconstruiu as imagens que inspiraram o trabalho e misturou com o áudio de uma entrevista com os pais, feita para uma rádio holandesa, e o filme super-8 que foi encontrado em baú da família. O diretor filmou as paisagens rurais e as mudanças de estações que influenciaram as canções de Drake (no local real em que fica a casa que pertenceu à família) e recriou em detalhes o quarto dele, tendo fotos da família como base. "Temas como a passagem do tempo e a mudança do clima são recorrentes em quase todas as canções dele", explica o diretor. "É como se ele estivesse apenas assistindo a tudo, como uma mosca na parede." O filme, que está sendo apresentado em festivais de cinema em vários países, deve ser exibido em Nova York nos próximos meses. O lançamento em vídeo e DVD, de acordo com os produtores, ainda não foi liberado pelos herdeiros por conta de implicações legais. De qualquer maneira, o documentário é mais uma boa ferramenta no processo de valorização do trabalho de Drake, que só teve a real importância descoberta 20 anos depois de sua morte.

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