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Velório de Belchior tem música, multidão, empurra-empurra e selfies em Fortaleza

Corpo do músico morto no sábado, 29, aos 70, foi levado para Sobral no início do dia e, depois, transferido para a capital

Por Pedro Antunes
Atualização:

(Atualizado às 21h08) FORTALEZA - A cada 20 minutos, um grito ecoava no Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza. “Viva, Belchior!” Um coro respondia: “Viva!”. “Palmas para Belchior!” E as palmas vinham, religiosamente. Assim se seguiu por um par de horas. As caixas de som também não se calavam. Tocavam Belchior, disco a disco, da fase inicial da carreira, nos anos 1970, passando pelos clássicos da segunda metade da década. 

O funeral de Belchior, realizado no espaço cultural, teve mais riso do que choro. Mais música do que lágrima, como ele certamente gostaria que fosse. Sujeito tímido, talvez estranhasse essa atenção toda depois de anos de um exílio autoimposto. Desde a manhã de segunda, 1.º, os fãs já estavam em frente do portão principal do Dragão do Mar. Reuniam-se para serem os primeiros a se despedirem de Bel, como os próximos o chamavam. O corpo só chegou, contudo, às 15h a Fortaleza. Veio de Santa Cruz do Sul, cidade do Rio Grande do Sul onde morreu, em decorrência de um rompimento da aorta, e seguiu direto para Sobral. 

Caixão com o corpo do cantor Belchior chega ao Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza Foto: MAURI MELO/O POVO

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No município a 240 km de Fortaleza, Belchior viveu até os 16 anos, quando se mudou para a capital do Estado. O corpo chegou a Sobral por volta das 7h30 e seguiu até o Teatro São João, em um carro do Corpo de Bombeiros. Lá ficou até 11h40. Na terra onde nasceu, Belchior foi recebido com palmas. Deixou o teatro ao som de Como Nossos Pais, canção das mais conhecidas do seu cancioneiro, também gravada por Elis Regina. 

Na chegada ao Centro Cultural Dragão do Mar, mais comoção. Do lado de fora, uma multidão o aguardava. Até o fechamento desta edição, 3 mil pessoas já tinham se despedido do músico. Naquela tarde de segunda-feira abafada e nublada, uns cantavam, outros choravam. Alguns “bebiam o morto”, como se diz no Ceará. Do outro lado da grade de entrada do Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza, o corpo sem vida de Belchior reencontrava a família que havia deixado para trás quando sumiu. Parentes e amigos tiveram a chance de reencontrá-lo antes do público que estava do lado de fora. Por 40 minutos, estiveram a sós com ele, em luto. Os mais jovens, possivelmente, o viam pela primeira vez. Os mais velhos, olhavam o rosto que há tempos não viam. Filhos dele, Micael e Camila, eram vistos circulando pelo espaço, mas não quiseram falar com a imprensa – ele é parecidíssimo com o pai, aliás. Ângela, a primeira mulher, esteve presente, assim como Edna, atual esposa. Ela chegou no fim do dia, de óculos escuros e sentou-se ao lado do marido. 

Visto pela última vez em 2009, Belchior manteve o bigode espesso ainda preto. Seu corpo foi vestido com uma camisa azul-claro e recoberto com pétalas de rosa brancas. Na área onde o corpo ficou, montaram um corredor para que o público pudesse prestar suas homenagens – a família tem um espaço reservado para eles, nos fundos e nas laterais do caixão. De desagradável (e talvez desrespeitoso com um artista recluso) era a insistência em fotografar Belchior no caixão. Fãs já entravam na sala com os aparelhos celulares em mãos, prontos para serem erguidos. Selfies com Belchior, no caixão, são de um gosto duvidoso, para dizer o mínimo. 

Do lado de fora do Dragão do Mar, diante da sua entrada principal, fãs se apertavam para serem os primeiros a ver o músico. A fila seguia por metros, serpenteando o espaço externo do centro cultural. Alguns ambulantes vendiam água, cerveja e refrigerante, mas todo o comércio no entorno estava fechado. 

Logo que os portões foram abertos, uma confusão teve início e os poucos seguranças presentes precisaram conter uma briga. Foi o único momento de tensão, contudo. Logo, a situação foi resolvida e o público seguiu, em fila indiana, em direção à sala onde estava Belchior. 

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A previsão é que na manhã desta terça-feira, 2, às 7h, seja realizada uma missa em homenagem ao cantor e compositor. Na sequência, o corpo de Belchior será levado para o Cemitério Parque da Paz. O sepultamento está marcado para as 9h. / COM WELLINGTON MACEDO

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