Única chance para ouvir Daniel Barenboim

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Quarenta anos depois de sua primeira apresentação na cidade, o pianista argentino naturalizado isralelense Daniel Barenboim faz, amanhã à noite, na Sala São Paulo, um único recital de piano, promovido pela Sociedade de Cultura Artística e o pelo WestLB Bank. No primeiro concerto, em julho de 1960, o pianista, então aos 17 anos, interpretou Beethoven, Schubert e Brahms. E, apesar da certa imaturidade no controle do instrumento - ressaltada pelos críticos da época -, já se delineavam a seriedade com que enfrenta a problemática imposta por cada compositor e a simplicidade de sua interpretação, marcas que o consagraram como um dos principais intérpretes do piano do século 20. O programa de amanhã é composto por peças que não são constantes em seu repertório. "São obras pouco tocadas de maneira geral, mas bastante interessantes e criativas", explica Barenboim, em entrevista. Na primeira parte, o pianista interpreta Anos de Peregrinação - 2º Ano, composta por Franz Liszt entre os anos de 1837 e 1849, fruto da mistura de impressões que o compositor colheu durante uma viagem que fez com sua amante Marie d´Agoult, à Suíça e à Itália. Da mesma série, Barenboim interpreta os Sonetos de Petrarca nºs 47, 104 e 123, peças derivadas de um conjunto de obras escritas por Liszt para piano e tenor, em 1838 e 1839. Também de Liszt ele toca Fantasia Quasi Sonata, mais conhecida como Sonata de Dante. "Acredito que essas peças são algumas de suas mais criativas obras, que primam por sua capacidade de reproduzir sensações por meio da música." Na segunda parte, o destaque é a presença dos dois primeiros cadernos de Iberia, de Isaac Albeniz. "Trata-se, basicamente, da recriação de um ambiente a partir das impressões do compositor." Nesse ponto, aliás, está, na opinião de Barenboim, o ponto de união do programa. "Acredito que este é um programa bastante homogêneo e estou muito ansioso para voltar a fazer um recital de piano em São Paulo." Cores sonoras - Barenboim voltou duas vezes a São Paulo de 1960 para cá, mas como regente, à frente da Orquestra de Paris e da Orquestra Sinfônica de Chicago. Há um bom tempo ele desenvolve as duas atividades e acredita que os universos da regência e do piano são completamente diferentes. "Quando você está regendo tem uma imensa quantidade de cores sonoras e, ao piano, você busca recriar a ilusão do colorido da orquestra." Outro ponto ressaltado por Barenboim é o contato com o instrumento. "Regendo eu sinto muita falta do contato físico com o som." Artista conhecido pela preocupação em ir além da música, ele acredita que, mais do que a formação musical, é indispensável ao músico, conhecimentos mais amplos, como o da literatura, da filosofia e das artes plásticas, tendo em vista o enriquecimento do universo do artista. Para ele, isso é decisivo na hora da formação da personalidade do artista, pois é o que torna cada experiência musical diferente. "É muito difícil definir a palavra som, portanto cada pessoa tem sua concepção em relação à música", explica. "A música é a constante renovação de um ambiente e, cada vez que alguém toca, traz ao mundo um novo som, algo diferente de tudo que já foi e será feito, o que torna o trabalho do músico apaixonante." Serviço - Daniel Barenboim. Obras de Liszt e Albeniz. Amanhã (09), às 21 horas. De R$ 60,00 a R$ 150,00. Sala São Paulo. Praça Júlio Prestes, s/n.º, tel. 3351-8000

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.