Uma Abbey Road na São Gualter

Para comemorar sua trajetória, o Língua de Trapo lança Vinte e Um Anos na Estrada, CD com o melhor do besteirol musical, cuja capa faz uma paródia com a rua londrina eternizada pelos Beatles

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Por Agencia Estado
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Em vez de John, Paul, Ringo e George, Laert Sarrumor, Sérgio Gama, Caca Lima, Valmir Valentim, Zé Miletto e Moisés Inácio. Em vez de Abbey Road, em Londres, a Avenida São Gualter no Alto de Pinheiros, em São Paulo. E em vez de Beatles atravessando a faixa de pedestres, os rapazes do Língua de Trapo espichados no asfalto paulistano e cobertos por jornais na cena seguinte, na contracapa. Para comemorar o aniversário do grupo paulistano de música e humor, a Dabliú Discos lançou o CD Vinte e Um Anos na Estrada e embalou-o numa capa-paródia do disco Abbey Road. As comemorações de aniversário incluem fita de vídeo e show marcado para os dias 15 e 16 de dezembro, no Sesc Pompéia. A idéia da brincadeira é do publicitário Carlos Castelo Branco, um dos fundadores do grupo. Ele criou um enredo tragicômico, bem no tom do Língua, a partir da capa dos Beatles: os rapazes da banda paulistana teriam sido atropelados por um ônibus na Avenida São Gualter. E convidou o diretor de arte Cesar Finamori e o fotógrafo António Rodrigues para traduzir visualmente a história. Depois de uma rápida pesquisa de ruas, a escolha recaiu sobre a São Gualter. A semelhança está longe de ser óbvia, mas a foto se encarregou de acentuá-la. Laert Sarrumor (vocal), Sérgio Gama (guitarra, violão e vocal), Caca Lima (baixo e vocal), Valmir Valentim (bateira e percussão), Zé Miletto (teclado e vocal) e Moisés Inácio (performance e vocal) posaram separadamente estendidos como defuntos no chão de um estacionamento. A computação gráfica encarregou-se de juntar as fotos dos músicos à do cenário - que ganhou a presença de um fusca nacional e de um ônibus, sinalizando que a cena é brasileira. O próprio Castelo Branco faz uma ponta à Hitchcock na capa, aparecendo ao fundo como um observador solitário. A capa funciona como um convite ao bom humor de um grupo agora quarentão, que nasceu na década de 80 para criticar e zombar de temas tabus e escatológicos. O Língua de Trapo é herdeiro paulistano da irreverência do Pasquim. Sem gravar desde o lançamento de Língua ao Vivo, em 1996, o grupo volta com oito regravações, como a clássica Concheta, e nove canções inéditas. Entre elas, O Cookie do Meu Bem, um xote em homenagem a Genival Lacerda com letra de duplo sentido, e a Trilogia da Vila Madalena, que satiriza estereótipos do bairro, como intelectuais, ex-hippies e boêmios. O CD nasceu de um show ao vivo realizado em janeiro no Sesc Pompéia. Apresentação que também deu origem à fita de vídeo homônima, vendida por R$ 20 apenas por meio do serviço Disque-Língua (3667-4443). Para completar a dose de humor à la Língua, Laert Sarrumor lança em dezembro o livro Ainda Mais Mil Piadas do Brasil. Após 21 anos de Língua de Trapo, Sarrumor acredita que o grupo mudou porque o Brasil e seus motes risíveis mudaram. Mas resta fôlego para zombar da ordem e da disciplina. Na capa do CD, Branco fez seu convite. Que o público entenda o humor como quiser. Mas faz sua interpretação à parodia: "Um grupo que se preocupa com a qualidade e inteligência foi atropelado pela mediocridade de quem manipula a informação". Vinte e Um Anos na Estrada - (Dabliú Discos). Preço médio: R$ 18 a R$ 20.

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