Um ano de traumas para a música popular brasileira

Da polêmica das biografias às perdas de Dominguinhos e Reginaldo Rossi, saldo de 2013 é triste

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Por Julio Maria
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Se pudesse escolher um ano para esquecer, a geração clássica da música brasileira muito provavelmente escolheria 2013. Deu tudo errado para Chico Buarque, Caetano, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Djavan no assunto “biografias não autorizadas”. A polêmica abriu a maior crise entre artistas, críticos, editores de livros e boa parte do próprio público da MPB – crise maior até do que a Passeata Contra a Guitarra Elétrica, realizada em São Paulo por artistas como Elis Regina, Edu Lobo, Gilberto Gil, Geraldo Vandré e Jair Rodrigues em 1967.

 

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Ao embarcarem no grupo capitaneado pela produtora Paula Lavigne, o Procure Saber, criado originalmente para atuar pelas mudanças com relação à arrecadação de Direitos Autorais (Ecad), os cantores queriam pressionar o Supremo Tribunal Federal a não aprovar mudanças relacionadas à publicação de biografias no País. Queriam que as publicações continuassem sendo submetidas à autorização do biografado.

A repercussão negativa desarticulou o grupo. Roberto Carlos deu uma entrevista superficial ao programa Fantástico e anunciou sua saída logo depois. Caetano, Gil, Djavan e Chico tentaram defender suas ideias em artigos nos jornais, mas só conseguiram aumentar a intensidade do fogo. O STF, alarmado pelo barulho, colocou o assunto como tema de audiência pública e, dos 17 expoentes que foram a Brasília, apenas dois defenderam a manutenção das autorizações. O ano acabou com o presidente do STF, Joaquim Barbosa, prometendo colocar o assunto em julgamento no primeiro semestre de 2014. Por sua vez, o Congresso, que analisa um projeto de lei que prevê mudanças sobre a mesma questão, também promete se empenhar na votação neste início de ano.

Enquanto isso, sem grupos nem lobbies, Ney Matogrosso circulava com a melhor performance que as plateias viriam em 2013. Aos 71 anos, Ney atuou e segue atuando em Atento aos Sinais como se estivesse em algum palco de 1973, com um vigor físico e artístico que não se vê em outros nomes da mesma geração. Ney criou imagens de impacto com o corpo e o figurino, voltou ao som cheio, colocou guitarras na frente e fez suas apostas. Foi a Vitor Ramil (A Ilusão da Casa), Banda Tono (Samba do Blackberry) e Vitor Pirralho (Tupi Fusão). Depois de rodar pelo País testando o repertório novo no melhor show do ano, lançou com ele o melhor disco do ano.

As más notícias vieram nos obituários. Os roqueiros fãs do Charlie Brown Jr. perderam em um só ano o vocalista Chorão, por overdose de cocaína, e o baixista que havia assumido seu lugar, Champignon, encontrado morto em seu apartamento com um tiro na cabeça.

A morte lenta e sofrida do sanfoneiro Dominguinhos computou uma baixa insubstituível. Herdeiro legítimo de Luiz Gonzaga, Dominguinhos se despediu em julho, depois de meses lutando contra as sequelas de um câncer no pulmão, interrompendo a linhagem sucessória dos sanfoneiros nordestinos respeitados em todo o País.

Paulo Vanzolini, mais relevante nome das letras no samba paulista, se foi em abril, aos 89 anos. E Reginaldo Rossi, reconhecido como um pai da música brega, se despediu há uma semana, deixando um outro trono vazio.

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