Na manhã de quarta-feira, quando um novo semestre começou, os alunos foram avidamente para as salas de aula da Universidade de Liverpool para começarem seus cursos de Arqueologia, Letras e Relações Internacionais. Mas na sala de aula nº5 do Rendall Building desta universidade, um programa menos tradicional estava começando: um mestrado dedicado inteiramente aos Beatles.
“Como alguém começa um mestrado sobre os Beatles?” perguntou Holly Tessler, a acadêmica americana que fundou o curso, olhando para 11 ávidos estudantes. Um deles vestia uma camiseta da Yoko Ono; outro tinha um submarino amarelo tatuado no braço. “Eu achei que a única forma de começar era, realmente, com um pouco de música,” ela disse. Então Tessler colocou para a turma o vídeo da música Penny Lane, o tributo dos Beatles a uma rua real em Liverpool, bem perto da sala de aula em que estavam.
Dale Roberts, 31, e Damion Ewing, 51, disseram que eram guias turísticos profissionais e esperavam que o curso os ajudasse a atrair clientes. “A indústria turística em Liverpool é feroz”, disse Robert.
Alexandra Mason, 21 anos, disse que havia se formado recentemente em Direito mas decidiu mudar de rumo quando ouviu sobre o curso. “Na verdade, nunca quis ser advogada,” ela disse. “Sempre quis fazer algo mais empolgante e criativo”. Ela acrescentou, “Na minha cabeça, fui do ridículo ao sublime,” mas disse que algumas pessoas podem pensar que ela fez o oposto. Uma pós-graduação em Beatles é uma raridade, mas a banda vem sendo estudada em outros contextos há décadas. Stephen Bayley, um crítico de arquitetura que agora é professor honorário na Universidade de Liverpool, disse que quando era um aluno na década de 1960 na Quarry Bank High School, em Liverpool – a alma mater de John Lennon – seu professor de Inglês ensinava letras do grupo ao lado da poesia de John Keats.
Em 1967, Bayley escreveu para Lennon pedindo ajuda para analisar músicas do álbum Sgt. Pepper 's Lonely Hearts Club Band. Bayley disse que Lennon “escreveu de volta basicamente dizendo, ‘Não dá para analisá-las.’” Mas atualmente um número crescente de acadêmicos está fazendo exatamente isso. Tessler disse que pesquisadores de diversas disciplinas estavam escrevendo sobre os Beatles, muitos explorando perspectivas sobre a banda relacionadas à raça ou ao feminismo. No ano que vem, ela planeja começar uma revista de estudos acadêmicos sobre o grupo. Tessler terminou a quarta-feira definindo os temas das outras aulas do semestre. Um programa que qualquer fã adoraria, incluindo viagens para a St. Peter 's Church, onde Lennon e McCartney se conheceram em 1967 e para Strawberry Field, o antigo abrigo de crianças que a banda imortalizou em uma música. As aulas cobririam momentos-chave na história da banda, incluindo uma participação ao vivo no programa de televisão The Ed Sullivan Show e o assassinato de Lennon em 1980, Tessler disse. Então ela deu uma lista de leituras aos alunos, encabeçada por um livro chamado The Beatles in Context. "Alguma pergunta?", ela disse.“Qual seu álbum preferido dos Beatles?”, perguntou Dom Abba, 27, o aluno com o submarino amarelo tatuado. Tessler corajosamente respondeu (“A versão americana de Rubber Soul”), depois esclareceu o que quis dizer: “Alguém tem alguma dúvida sobre o módulo?”