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Trilhas de Tom Waits saem em CD

As músicas que o cantor, ator e compositor americano escreveu para a ópera Alice e o drama Blood Money estão em dois CD lançados agora no Brail

Por Agencia Estado
Atualização:

Já estão nas lojas os dois novos discos do cantor, compositor, produtor, ator norte-americano Tom Waits. São músicas feitas para dois espetáculos do dramaturgo e encenador Bob Wilson: a ópera Alice, inspirada na obra de Lewis Carroll - ou melhor, na obsessão do escritor inglês pela menina Alice Liddell, que lhe inspirou o livro -, e o drama Blood Money, história de um soldado que mata sua namorada, na Alemanha. Waits divide a autoria das canções com sua mulher, colaboradora constante, Kathleen Brennan. Os dois discos foram lançados nos Estados Unidos, no dia 7 de maio, mas são trabalhos separados por oito anos. A ópera Alice estreou em Hamburgo, em 1992; Blood Money, em Copenhague, em 2000. Alice era considerada a obra-prima perdida de Tom Waits. Por algum motivo, só agora o compositor resolveu pôr a trilha em disco. Ele mesmo produziu - com Kathleen -, para o selo alternativo Anti-Records, os dois novos títulos - 24.º e 25.º de sua discografia em solo, que teve início em 1973. A distribuição brasileira é da Sum Records. Separados no tempo, os discos são díspares. Alice é um trabalho lírico, onírico, de atmosfera de encantamento parecida com a música que Tom Waits compôs, em 1982, para O Fundo do Coração, de Francis Ford Coppola - trilha indicada para o Oscar, por sinal. Tinha experiências anteriores com música para cinema, mas com Coppola chegou às telas como ator, em Vidas sem Rumo, O Selvagem da Motocicleta, Cotton Club, nos anos 80, em Drácula de Bram Stocker, nos 90 - ele é o louco na jaula, no castelo do conde. Formou com John Lurie e Roberto Benigni o trio principal de Daunbailó, de Jim Jarmush, e voltaria a trabalhar com ele, como ator, em Uma Noite sobre a Terra, e aparece em Short Cuts, de Robert Altman - para ficar em alguns títulos. No teatro, estreou como ator em 1986. Nascido em 7 de dezembro de 1949, em Pomona, na Califórnia, Thomas Alan Waits é uma das personalidades marcantes da cultura dos Estados Unidos, um outsider desde sempre, que começou a estudar piano e guitarra na adolescência, trabalhou em pizzarias, foi porteiro de clubes noturnos, e estreou no disco em 1973. Abriu shows para John Hammond, Frank Zappa e The Mothers of Invenction, Jim McGuinn, Martha Reeves. Três anos após o lançamento do primeiro disco, estreava na Europa. Ídolo de músicos - como Bob Dylan - e de intelectuais, Tom Waits ganhou um Grammy em 1999, com Mule Variations, disco que vendeu mais de 1 milhão de exemplares. Não é uma simples cifra: a música de Tom Waits nada tem com mercado, moda, com o pop onipresente. Pelo contrário, sua obra é densa, de grande riqueza poética armada sobre meticulosa arquitetura musical. Sua obra vai da balada country, branca, ao blues, à valsa, ao cabaré, aos experimentos de vanguarda e explora, quase sempre, o lado negro e escondido dos seres humanos. A voz rouca soa agressiva, às vezes, ou desesperada. A música de Tom Waits é a música do desencanto - mas não do desespero. Lamenta, talvez, a lucidez que permite ao homem observar seu fim.

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