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Trilha de Moulin Rouge reúne signos pop

Filme de Baz Luhrmann mistura fragmentos de Madonna com Kylie Minogue, U2 com Glam Rock, Beatles, David Bowie e Brian Eno, uma pitada de Nirvana e mais

Por Agencia Estado
Atualização:

A pós-modernidade pende para o bem e para o mal em Moulin Rouge - Amor em Vermelho, terceiro filme do diretor australiano Baz Luhrmann, que estréia amanhã em grande circuito. O mal talvez esteja representado na extravagância deliberada, no alto teor de açúcar e na edição por demais "videoclíptica", desassossego que já dava a tom na produção anterior do cineasta, Romeu + Julieta (1996). Suposições essas do terreno dos críticos e cinéfilos mais embasados. Já o pendor do bem está certamente na trilha sonora. OK, trata-se de um musical, mas isso também não é garantia nenhuma de resultado positivo. Vide grande parte da filmografia hollywoodiana do gênero. No fim das contas, o filme se presta a um divertido exercício de reconhecimento dos signos da cultura pop. Alguns explícitos e outros deliciosamente camuflados para atentar o diabo da dúvida. Conheço ou não esse refrão? Já nos primeiros momentos de película, a trupe de artistas despossuídos liderados pelo anão Toulouse-Lautrec (John Leguizamo, qualquer semelhança com o célebre pintor francês homônimo não é mera coincidência) toma doses generosas de absinto para comemorar a adesão do escritor Christian (Ewan McGregor) ao grupo. No delírio coletivo aparece a eles a cantora Kylie Minogue (espécie de Madonna australiana que fez dueto com Nick Cave em Where the Wild Roses Grow). A bela incorpora a fada verde numa referência direta à personagem Sininho imaginada por Walt Disney no desenho do Peter Pan (só que em versão sexy e psicodélica). E por falar em Madonna, a loira é citada duas vezes. No diálogo musicado entre o dono do cabaré Moulin Rouge, Zidler (Jim Broadbent), e o duque de Worcester (Richard Roxburgh). Para ludibriar o burocrata da realeza, o empresário da noite recorre aos versos de Like a Virgin. Na voz da cortesã Satine (Nicole Kidman), outro dos sucessos interpretados por Madonna nos anos 80 é Material Girl que aparece picotada em meio a Diamonds Are a Girl´s Best Friend (ensinamento sussurrado por Marilyn Monroe no clássico Os Homens Preferem as Loiras) . Quem ouvir as guitarras regressivas de Children of the Revolution e captar ecos da estética do glam-rock estará absolutamente certo. A faixa é de autoria de Marc Bolan, ex-líder do T-Rex e um dos responsáveis pela onda que, como disse John Lennon, passou batom no rock´n´roll. Bono, do U2, e Gavin Friday fazem as honras vocálicas. Durante a cena do affair inevitável no telhado, Christian e Satine cantam trechos de All You Need Is Love, dos Beatles, e Pride (In the Name of Love), do U2 , passando por Heroes, de David Bowie e Brian Eno, e Silly Love Songs, do Wings de Paul McCartney. O medley tem ainda acordes (quase irreconhecíveis) de One more Night, de Phil Collins, e da balada country I Will always Love You, escrita por Dolly Parton. Isso sem esquecer de Your Song, de Elton John (essa sem nenhuma probabilidade de erro). E a lista não pára por aí, Moulin Rouge - Amor em Vermelho dá mesmo um bom exercício de sagacidade pop. Tem até refrão do Nirvana envolto nas saias do cancã. Basta ficar atento. Moulin Rouge - Amor em Vermelho - Musical. Direção de Baz Luhrmann. EUA/2001. Dur.: 120 m. 12 anos

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