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Três Tenores: sobra ingresso para o show do século

Em meios às polêmicas envolvendo valores da produção e cachês para os músicos da orquestra, megaevento de Plácido Domingo, José Carreras e Luciano Pavarotti só vendeu 30 mil dos 65 mil ingressos

Por Agencia Estado
Atualização:

Somente o frio, segundo Plácido Domingo, pode interferir na grandiosidade do show que ele, José Carreras e Luciano Pavarotti fazem no Brasil. Encantando platéias e despertando a ira dos críticos por onde passam, os Três Tenores, espetáculo criado pelo empresário Tibor Rudas em 1990, se apresentam neste sábado, no estádio do Morumbi, ao lado da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo. A regência do show, que está sendo chamado de o espetáculo do século na capital paulista, ficará a cargo do maestro italiano Marco Armiliato. O repertório da apresentação será muito similar ao do show de encerramento na Copa do Mundo de 1998, na França. Contudo, como ressaltou Carreras, algumas novidades estão previstas para o show em São Paulo. Uma delas é a interpretação de O Guarani, de Carlos Gomes. Em conjunto, esta é a primeira passagem dos Tenores pela América Latina. Levando-se em consideração as cifras que envolvem a produção, será um espetáculo realmente inesquecível. Números extra-oficiais (em entrevista coletiva, a produtora Ocesa-Mercury se recusou a divulgar os valores) apontam que US$ 3,6 milhões foram gastos para que Plácido, Carreras e Pavarotti pisassem em território brasileiro. A recepção do público, contudo, não empolga como o esperado. Dos 65 mil ingressos colocados à disposição, apenas 30 mil foram vendidos. Entretanto, é impossível negar o frenesi que provocam os tenores considerados os maiores da segunda metade do século 20. A revista norte-americana Poolstar, especializada em Showbizz, divulgou em edição especial as maiores bilheterias dos EUA. Os Três Tenores aparecem encabeçando a lista. Dia 22 de Abril, em Las Vegas, arrecadaram US$ 6,5 milhões. Próximo a eles, apenas os Backstreet Boys, cujo show em St. Louis beirou os US$ 3 milhões de arrecadação. Os gastos do espetáculo envolvem 200 pessoas na produção, 256 microfones especiais, 13 postos médicos, seis ambulâncias, 1.500 quilômetros de cabos elétricos, dois telões de 75 metros quadrados e um palco de 1.400 metros quadrados. Enfim, um mega evento. Repertório - A abertura do show será feita pela Sinfônica Municipal com O Carnaval Romano, de Berlioz. Porém, conforme o ensaio geral que fazem nesta sexta-feira, podem começar o espetáculo com uma ária de O Guarani, de Carlos Gomes. Jose Carreras é o primeiro a subir ao palco. Canta Io Conosco un Giardino, de Pietri. Em seguida, Plácido interpreta Chella Mi Creda, de Puccini, da ópera La Fanciulla del West. Pavarotti vem na seqüência com Recondita Armonia, da Tosca, de Puccini. A ordem se repete. Carreras com Musica Proibita de Gastaldon. Plácido com No Puede Ser, da zarzuela La Tabernera del Puerto, de Sorozabal. E Pavarotti, com Granada, de Augustín Lara. Medley Romântico encerra a primeira parte. Sous le Ciel de Paris (Drejac/ Giraud), Solamente una Vez (Lara), Maria, Mari (Di Capua), Torero Quiero (ária de El Gato Montes, de Panella), Parlami D´Amore (Bixio), Tu, Ca nun Chiagne (De Curtis), Manhã de Carnaval (de Luís Bonfá) e Ti Voglio tanto bene (De Curtis). A segunda parte volta a repetir a seqüência tradicional do espetáculo. Core ´ngrato, de Cardillo, por Jose Carreras. Dein Ist Mein Ganzes Herz, de Leharo, por Plácido Domingo, e Caruso, do italiano Lucio Dalla, por Luciano Pavarotti. Chega a vez da orquestra, que interpreta Bacchanale, da ópera Sansão e Dalila. Uma rodada de árias de óperas italianas anuncia o grand finalle: Carreras canta Lamento di Federico, de Cilea, Plácido, E Lucevan le Stelle, e Pavarotti, Nessun Dorma, ambas de Puccini. No medley final: O Surdato Nnammurato (Cannio), Ay, ay, ay (Perez/Freire), Lolita (Buzzi/Peccia), Stanchen (Schubert), Dicintello Vuie (Falvo) e You´ll never Walk alone (Rogers & Hammerstein). Ópera popular Do show de 1990 para cá, quando a fórmula Os Três Tenores foi inventada, muito mudou. Mas Pavarotti, Plácido e Carreras, mesmo cientes dessas transformações, fazem um balanço otimista do trabalho a que se propuseram: divulgar a ópera ao redor do mundo. "Na minha opinião, a música clássica é muito melhor hoje do que quando comecei, em 1961. Na época, as pessoas riam de minha paixão. Ao menos agora as pessoas podem vir aos nossos shows e serem apresentadas à ópera", comenta Pavarotti. Para Carreras, o fato de os jovens serem os primeiros a procurar por ingressos para o show dos Três Tenores é motivo de comemoração. "Temos todos que nos congratular: nós, os músicos que tocam conosco, a imprensa que sempre nos auxiliou", diz. Plácido finalizou dizendo que enxerga dois motivos para que o público não assista a óperas. "Alguns porque não podem pagar, outros porque não tem vontade, nem interesse. O primeiro problema não conseguimos resolver, o segundo, acredito que sim. Pois os desinteressados passam a procurar por árias e álbuns de ópera após assistir a um show dos Três Tenores.", explica. Esportes e música - São duas as polêmicas que envolvem os 3 Tenores nesta passagem pelo Brasil. Uma, o valor dos cachês. Segundo reportagem divulgada pelo Jornal da Tarde, o valor negociado pela Ocesa-Mercury, empresa associada à CIE do Brasil e responsável pela produção do espetáculo, pode estar subfaturado, medida usada para reduzir a arrecadação dos impostos referentes a shows internacionais no País. Essa discussão levantada pela imprensa, Plácido, Carreras e Pavarotti prefiriram não comentar. Outra, recorrente por onde quer que passem os tenores, diz respeito ao real intuito destes concertos produzidos por Tibor Rudas. Por mais que os tenores digam estar divulgando a ópera ao redor do mundo, muitos críticos crêem que eles não popularizam a ópera em si, mas o show dos Três Tenores. Aos críticos, eles respondem dizendo que não têm mais nada o que provar. Foram os melhores em suas épocas. Ao público, apenas garantem fazer um espetáculo inesquecível. Aproveitam a estada no Brasil para ressaltar o que há de comum entre brasileiros, espanhóis e italianos. "Todos nós adoramos esportes e música", diz Pavarotti. "Aliás, vocês tem o Três Tenores de vocês: Romário, Ronaldo e Rivaldo.", brinca Carreras. Eles esperam que o público que comprou ingressos para o show seja parecido com a torcida brasileira de futebol. Carreras fez questão de ressaltar: "A simpatia, o afeto e a admiração que a torcida brasileira manifesta pelo mundo é fantástica. Digo: vocês tem a melhor torcida do mundo".

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