Tradição e e-music misturam-se no Free Jazz

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Por Agencia Estado
Atualização:

Funk Como Le Gusta e Baaba Maal abriram a segunda noite do Free Jazz Festival em São Paulo, no Jockey Clube, com apresentações no palco New Directions. A banda brasileira e o grupo senegalês animaram a platéia com um som pop baseado em ritmos e percussão africanas. Mais tarde, bem mais tarde, o palco seria transformado novamente na pista Cream, com os expoentes da música eletrônica, hoje muito bem representados pelo DJ Felipe Venâncio, Mutiny, Lottie, Ray Roc e X-press 2, numa festa que duraria até a manhã do domingo. O único palco jazz propriamente dito no festival, o Club, abriu a noite às 21h com a apresentação do violonista gaúcho Yamandú Costa. Com repertório de hits brasileiros, Yamandú fez um de seus principais shows da carreira arrancando aplausos e ´bravos´ da platéia. Tocou Desvairada, Brasiliana, de Radamés Gnatalli, uma interpretação única do tango Adios Nonino, de Piazzolla, Sampa, de Caetano Veloso, emendando com Rancho Fundo, de Ary Barro e Lamartine Babo, depois Tristeza do Jeca, de Angelino de Oliveira, Mariana, uma das poucas composições próprias que Yamandú apresentou no espetáculo, Brejeiro, de Ernesto Nazareth, e encerrou com Trenzinho do Caipira, de Villa-Lobos, mostrando maturação no arranjo combinando metais, cordas e percussão de uma orquestra no violão vigoroso de sete cordas que o coloca como um dos principais violonistas contemporâneos brasileiros. O jazz ganhou finalmente a cena com a entrada do simpático Randy Weston´s African Rhythms Quintet. Apesar do nome, não se trata de uma banda étnica. O conjunto faz uma inteligente assimilação de influências africanas, do figurino à percussão, ao universo jazzístico. Explorando standards do gênero, o pianista Randy, um veterano de 75 anos, aprendiz de Thelonious Monk, mostrou-se bastante generoso no palco. Reservou-se ao comando do show e abriu espaço a seu competente time de instrumentistas para repassar composições como Little Miles e Blue Moses, ambas de autoria do próprio Randy. Bastante à vontade, o time empolgou a platéia e saiu bastante aplaudido, com destaque para os solos do contra-baixista Alex Blake, do percussionista Neil Clarke e a homenagem ao Marrocos, onde Randy tocou entre 1968 e 72. Na seqüência, mais jazz, do puro, com o sexteto de mais um veterano, Benny Golson, 72 anos. O conjunto é uma reunião de feras dos Jazz Messengers. Dos seis, apenas o baterista Carl Allen não tocou ao lado de Art Blakey - por outro lado, seus solos foram dos que mais entusiasmaram o público. Encerrando a noite, o sexteto enfrentou uma platéia já esvaziada - cansada do palco Club, ou mais interessada pelos DJs que já tomavam conta do Main Stage. De um set list enxuto, seus melhores momentos foram a execução de One by One e The Chess Players. Main Stream - Sob aplausos reincidentes, MC Dynamite, vestido totalmente de branco, pergunta: "Eu ouvi dizer que São Paulo é a capital brasileira do drum´n´bass?" O sim, em coro, se espalha pelo salão. "Então nós viemos ao lugar certo e vocês ao show certo". Roni Size e seu Reprazent transformaram o palco principal em uma grande discoteca. O britânico manipulou sua pickup acompanhado de outros três DJs, Die, Suv e Krust, a cantora Onalee, o MC, além de bateria (Rob Merrill) e baixo (Si John). Em pouco menos de duas horas de espetáculo, Roni Size repassou as músicas dos álbuns da banda, e deixou em êxtase o público presente. Antes disso, Dj Dolores e a pernambucana Orchestra Santa Massa fizeram o público dançar coco, ciranda, samba e maracatu numa boa apresentação prejudicada pela acústica do palco Main Stream. Só quem percebeu a rica variação do grupo composto por percussão, guitarra, rabeca, metais e a base de Dolores, foram os fãs da primeira fila, já que estavam próximos às caixas de som, dispostas ao lado do palco. O DJ inglês Richard D. James, conhecido como Aphex Twin, encerrou a noite do palco trazendo ao Free Jazz as inspirações buscadas nos mestres da música atonal e eltrônica Stockhausen, John Cage e no grupo alemão Kraftwerk. Convivência - No Village, rolou uma noite da moderna música brasileira, se assim pode-se definir o trabalho de Jairzinho Oliveira, Luciana Mello, Marco Matolli, Max de Castro, e do trombonista Bocato, que se revezaram em uma canja contínua durante a noite. Em parte responsáveis pelo resgate da música negra brasileira, árvore genealógica que passa por Jorge Ben, Cassiano e Wilson Simonal, entre outros, eles agitaram o grande público presente no espaço de convivência do Free Jazz Festival. A Assessoria do festival não soube informar o público presente no Jockey Clube na noite de sábado.

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