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Tones and I caminha para ser uma nova pop star, à sua própria maneira

Cantora, compositora e produtora australiana viu ‘Dance Monkey’ atingir mais de 1 bilhão de visualizações e agora prepara seu primeiro disco

Por Guilherme Sobota
Atualização:

Foi um encontro da geração vítima de um dos memes mais usados nos últimos tempos (“ok, boomer”) com os millennials muito jovens (que deram à cantora, compositora e produtora australiana Tones and I mais de 1 bilhão de visualizações só no YouTube): a capa do primeiro número da tradicional revista americana Rolling Stone na Austrália, em maio deste ano, foi a imagem dela num visual caprichado. Natural de Melbourne, a cantora é mais um caso de sucesso repentino na internet, um fenômeno do streaming que, antes da pandemia, também começava a ganhar os palcos das Américas, aparecendo como favorita ao prêmio de revelação no próximo Grammy e construindo um tipo de popularidade típico dos nossos tempos.

Os últimos 14 meses foram agitados na vida de Toni Watson, seu nome verdadeiro – a idade ainda é mantida sob segredo, numa de suas tentativas de escapar dos processos tradicionais da indústria da música, embora a forma como ela foi “descoberta” tenha sido a mais tradicional possível. A garota que gostava de jogar basquete e tinha um emprego formal numa loja de discos largou tudo, se mudou de Melbourne, onde nasceu, para tocar teclado na rua. Um empresário de uma gravadora viu ela tocando, lhe entregou seu cartão e esperou.

Tones and I. Shows e visual da cantora viraram objetos de culto na Austrália; planos foram adiados por conta da pandemia Foto: Warner

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E aconteceu. Johnny Run Away, sua primeira música, foi lançada em março de 2019 e meses depois já era álbum de platina duplo. Dance Monkey, dois meses depois, foi a canção número #1 em 35 países, e por seis meses na sua Austrália natal. Ela quebrou recordes na parada britânica, tomando a dianteira de nomes como Rihanna, foi elogiada por Elton John e fez sua estreia na TV americana no The Tonight Show with Jimmy Fallon. Muito rapidamente, entrou no “clube do bilhão” do YouTube, e, mesmo antes de lançar um álbum completo, é apontada pela Billboard como uma das favoritas ao prêmio de Artista Revelação no próximo Grammy, previsto para janeiro de 2021.

Da mesma geração de Billie Eilish, Lizzo e Khalid, a cantora produz um eletropop extremamente programado para pistas de dança e festivais – esses o seu grande objetivo ao começar a carreira na música. Mesmo com poucos lançamentos, seus shows na Austrália, recheados de versões e covers de outros artistas, se tornaram objeto de culto – a turnê pelos EUA e pela Europa foi adiada.

Agora em Melbourne, a cantora diz, em uma ligação com a reportagem, estar trabalhando no que será seu primeiro disco, previsto ainda para 2020. “Acho que me coloquei na rotina, jogo muito basquete, escrevi várias músicas”, conta, com um carisma proporcional à quantidade de cliques que suas músicas recolheram nesses meses. “Consegui escrever um disco na minha casa, e agora relaxei, mas foi um processo bastante intenso.”

Dance Monkey – seu maior sucesso até o momento – é um pop dançante marcado pela sua voz muito característica, não exatamente um exemplo de afinação, mas, sim, afastada da extensão de outras estrelas que lhe servem como referência, algo como um Ed Sheeran muito mais cool. O fato de uma música que ela conta ter escrito em 30 minutos no quarto de sua casa ter estourado tanto, naturalmente, é algo que lhe escapa.

“Foi selvagem. Nem soube como reagir a isso. Pode ser minha voz em conjunto com o baixo, pode ser qualquer coisa. Quando escrevo, nunca penso que vai ser um hit”, conta. Sem se associar a outras artistas da sua geração, ela diz agora tentar levar a carreira um dia de cada vez, usando estratégias como ocultar sua idade para não ser encaixada em “gavetas” específicas criadas pela indústria e utilizadas com vigor pela crítica.

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“Não me comparo agora com o que serei no futuro”, reflete. “Acho mais saudável. Quero poder me sentir orgulhosa do que criei, e saber que gosto de todas as músicas que escrevi. Mas, no fim, quero mesmo é ter certeza de que sou feliz com o meu trabalho”, conta. Embora agora assinada com a Warner, a maior parte de sua equipe é formada pelos amigos que lhe acompanham desde o início. Como a internet ainda é um lugar anárquico, não foram poucos os haters que surgiram, alegando inúmeros motivos para criticá-la, especialmente por uma suposta falta de posicionamento sobre assuntos do mundo em questão.

Mas, na entrevista, ela não foge de questões sobre o assunto. “É difícil, porque eu não entendo o que as pessoas negras passam”, diz, sobre o movimento Black Lives Matter, por exemplo. “Como artista, sempre estive do lado dessas demandas, e esse movimento me parece fazer a coisa certa.” Ela concorda, por exemplo, com a atitude da Academia de Gravação de tirar do Grammy a palavra “urban”, usada para definir um gênero no mínimo discutível, geralmente ocupado por músicos negros. “Mas não podemos parar por aí”, diz a jovem artista australiana. “Até que a mudança significativa seja feita de verdade, o trabalho será árduo e longo.”

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