Tom Zé se apresenta no Sesc Santana

Além de celebrar os 30 anos de sua obra fundamental, o músico se prepara para participar do evento Tropicália - A Revolution in Brazilian Culture, em Londres

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Por Agencia Estado
Atualização:

Ao ser lançado na virada de 1975 para 1976, o álbum Estudando o Samba, marco divisor da carreira do tropicalista Tom Zé, não obteve grande repercussão. Foi preciso a garimpagem do escocês David Byrne, mais de 20 anos depois, para tirar não apenas o disco, mas seu autor do limbo. Agora, além de celebrar os 30 anos de sua obra fundamental, Tom Zé se prepara para participar do evento Tropicália - A Revolution in Brazilian Culture, no dia 1.º de maio, em Londres, e produz dois CDs simultaneamente. Um deles é para comemorar seus 70 anos em outubro. O baiano Tom só se apresenta no sábado e no domingo na série de shows do Sesc Santana, mas alguns dos jovens expoentes que também transitam pelo samba de maneira meio enviesada, a seu modo, abrem o projeto. O show inaugural (hoje) é do paulistano Curumin com a banda The Aipins. Amanhã é a vez do catarinense Wado, que engrenou a carreira em Alagoas com seu grupo Realismo Fantástico. O pernambucano Junio Barreto se apresenta na sexta-feira. Como já foi difundido à exaustão, Tom Zé, sempre vivendo à margem do mercado, tinha se desiludido da possibilidade de viver de sua música e ensaiava a volta para a terra natal - Irará, no interior da Bahia -, para trabalhar de frentista num posto de gasolina. "Nunca permiti que a queixa fizesse parte da minha performance, mas tinha todo aquele pronunciamento de quase renúncia, pelo cansaço de não ter aprovação, o abandono, o sofrimento", lembra Tom. Até que o ex-líder do Talking Heads, à procura de discos de samba num sebo de São Paulo, deparou com aquele de capa branca, apenas com um título, o nome de seu autor e um feixe de corda e arame farpado de ilustração. "Foi esse estranhamento na capa que aguçou a curiosidade de Byrne", lembra Tom. Não foi só isso: ao ouvir o conteúdo, o músico escocês teve a certeza de estar diante de algo nada convencional e logo foi atrás de saber quem era o autor da façanha. O resultado da investida foi que Byrne relançou o álbum, rebatizado de The Best of Tom Zé, por seu selo Luaka Bop em 1990 e ele acabou na lista dos melhores do ano. "Um disco meu feito no Brasil nos anos 70 ser escolhido um dos melhores do ano em 1990 nos Estados Unidos é uma aventura", diz o baiano. "Não sabia que ele era tão importante, mas tinha a intuição." Redescoberto lá fora, o álbum passou a repercutir por aqui também. Chegou a ser relançado pela gravadora Continental (a última edição foi na série Dois Momentos em 2000), mas encontra-se fora de catálogo. Recentemente duas de suas faixas foram regravadas por três cantoras: Tô, por Zélia Duncan e Adriana Maciel, em versões distintas e uma melhor do que a outra, e Vai (Menina Amanhã de Manhã), ótima na voz de Mônica Salmaso. Foi o segundo levante de Tom proporcionado pelo mesmo disco. O primeiro foi na própria realização. "Saí do abismo em que tinha mergulhado desde o tropicalismo dando forma a esse tipo de arranjo que me levou para o mundo", diz ele, que não pensou em fazer novos arranjos para as versões que vai apresentar nos shows desta semana. "Os arranjos eram praticamente as composições. Pela primeira vez encontrei uma maneira de realizar os ostinatos do baixo, da guitarra, dos bandolins. Era com isso que conduzia os sambas, tentando criar subcódigos para permitir ao ouvinte decifrar outros códigos." Vai, claramente influenciada pela poesia concreta, tem "uma levada seca, quase para não parecer samba". Toc era da mais "radical experimentalidade". "Naquela época era uma ousadia, por isso queria chamar o disco de Entortando o Samba, mas pareceu pretensioso." Dos compositores que participam da homenagem a Tom, expoentes da chamada MCB (Música Contemporânea Brasileira), todos reconhecem a importância e a qualidade de Estudando o Samba, mas dos três, o que tem o estilo mais influenciado por ele é Wado. "Esse disco foi muito importante na minha formação. É um tratamento inusitado para a MPB. Embora com respeito, é samba sem reverência, como eu faço. Eu sempre dizia pros meus amigos que fazia samba torto." Curumin endossa: "É uma referência forte para as coisas que faço e me ajudou a ter idéias nessa onda de desconstruir a música para reconstruir em lugares diferentes." Embora não identifique as fontes de sua música nele, Junio Barreto reconhece: "É um disco maravilhoso. Como transformador do samba é antológico. Tem que ter em casa." Estudando o Samba. Sesc Santana. Av. Luís Dumont Vilares, 579, metrô Jardim São Paulo, 6971-8700. De hoje a sáb., 21 h; dom., 19 h. R$ 5 a R$ 15.

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