TIM Festival: dois power trios e um Caetano roqueiro

O músico fez eletrizante prévia da turnê do novo álbum, Cê; a banda The Bad Plus, que se apresenta nesta terça no Bourbon Street, foi a melhor surpresa do evento

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Por Agencia Estado
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Na noite mais vazia e esquisita do palco Lab - onde uma atração não tinha nada que ver com a outra - dois trios protagonizaram os melhores momentos de toda esta edição do TIM Festival. O primeiro, o americano The Bad Plus, saiu consagrado como a melhor surpresa do evento. O segundo, formado pelos meninos do Rio Pedro Sá (guitarra), Marcello Calado (bateria) e Ricardo Dias Gomes (baixo), acompanhou Caetano Veloso numa eletrizante prévia da turnê do novo álbum, Cê. Em ambos os casos o rock surgiu como elemento relevante da sólida estrutura sonora. Impecável do começo ao fim, o Bad Plus - formado por Reid Anderson (baixo), Ethan Iverson (piano) e David King (bateria) - transitou com desenvoltura entre o jazz e o rock, exibindo uma incrível capacidade para o improviso. Assombrou não apenas pelo refinamento da linguagem sonora, mas também pela notável performance individual e em conjunto, além da predisposição para conduzir temas conhecidos como Smells Like Teen Spirit, do Nirvana, para estratos imprevisíveis. Amanhã eles tocam no Bourbon Street Music Club e prometem fazer tudo diferente. Pelo menos o espaço é mais adequado para o som que eles fazem. Caetano interpretou pela primeira vez ao vivo as 12 novas canções em seqüência até mais bem equilibrada do que no CD e com os mesmos músicos com quem gravou. Já passava das 3 horas da madrugada de hoje, quando Caetano e banda começaram o show, provocando impacto imediato com os versos de Outro ("Você nem vai me reconhecer/ Quando eu passar por você"), repetido aos berros pela tietagem aplicada, que demonstrou conhecer quase a íntegra do álbum. Outro refrão que pegou foi o de Rocks, no fim: "Você foi a ?mór? rata comigo". Foram dois dos instantes mais intensos do show, além de Deusa Urbana, da power ballad Não me Arrependo e de O Herói. Nesta, sem ter ainda a letra decorada, Caetano optou por dizê-la, cantando só a parte final, arrematando com um grito crescente em duo com Sá. Um Sonho e Porquê? foram as menos entusiasmantes, mas até nessas o trio brilhou. Pedro Sá, que conduz a banda e define a sonoridade rascantemente roqueira, teve momentos espetaculares sem apelar para malabarismos. Os outros correspondem ao grau de vigor e competência, mas ele é mais. Apenas em duas canções eles mudaram a formação original substituindo a guitarra por um teclado de sonoridade vintage. O melhor estava reservado para o final, quando Caetano e banda voltaram para um bis arrasador, reunindo três de seus clássicos dos anos 70: You Don?t Know me, Como 2 e 2 e Nine Out of Ten, esta com a introdução de Mora na Filosofia, de Monsueto, gravada por ele no mesmo álbum, Transa, de 1972, que tinha estas duas canções em inglês. Foi um encerramento enfático para uma noite que começou gélida (não apenas pelo insuportável volume do ar-condicionado) com o gaúcho Marcelo Birck, que não disse muito a que veio com sua mescla de surf music, jovem guarda e programações eletrônicas. Ainda que menos equivocada, outra aposta que não deu certo foi a do trio vanguardista nova-iorquino Black Dice, com seu excesso de ruído e experimentalismo ensurdecedor. Só serviu para espantar os gatos pingados que resistiram a três ou quatro temas na platéia e torturar quem estava trabalhando. The Bad Plus. Bourbon Street (350 lug.). Rua dos Chanés, 127, Moema, tel. (11) 5095- 6100. Hoje, às 22 horas. R$ 95

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