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TIM Festival deste ano entra no túnel do tempo

Ativistas da contracultura como Patti Smith e Charlie Haden, e neo-hippies, como Devendra Banhart, estão entre as 30 atrações do evento, que começa nesta sexta

Por Agencia Estado
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Eles acreditaram na revolução pela música, na expansão da consciência, nas viagens místicas, no amor desregrado e numa sociedade solidária. Isso tudo aconteceu há quase 40 anos, mas continuam acreditando em quase tudo isso. E eles estão chegando, todo mundo ao mesmo tempo agora, para o TIM Festival, que ocorre a partir de sexta-feira no Rio, em São Paulo, Vitória e Curitiba. Eles são: a cantora e poeta Patti Smith, de 59 anos, eterna rainha da Blank Generation; o contrabaixista Charlie Haden, de 69 anos, um dos inventores do free jazz, que percorria o mundo nos anos 60 com sua Liberation Music Orchestra, batalhando pelas causas da esquerda; Herbie Hancock, de 66 anos, que fez a trilha sonora para um dos clássicos da contracultura, "Blow-Up", de Michelangelo Antonioni. Os que não são daquela época gostariam de ter sido No TIM Festival 2006, os que não são daquela época gostariam de ter sido. É o caso do texano Devendra Banhart, que imita o cantor Donovan e é comparado a totens do rock psicodélico, como Marc Bolan (T-Rex) e Syd Barrett (Pink Floyd). Ou então os garotos do TV on the Radio, que parecem velhos militantes dos Panteras Negras (grupo ativista negro dos anos 60), e revigoram a fleuma esquerdista em canções como "Dry Drunk Emperor", "elogio" ao presidente Bush no qual cantam: "Eu era um amante/Antes dessa guerra." É o TIM Festival mais bicho-grilo de todos, mas não tem nada de depreciativo nessa constatação - é apenas uma nota comportamental. Patti, Haden e Hancock são alguns dos maiores artistas da história da música. Mas o maior festival de música do País, em sua quarta edição, não é só história e mística. Tem a blitzkrieg eletrônica do duo francês de música eletrônica Daft Punk, o hip hop pioneiro do Beastie Boys; e a diversão escatológica do Bonde do Rolê. Edição toda é um grande revival Patti Smith anuncia que pretende cantar quase o repertório inteiro do disco Horses, de 1975, que tinha "Gloria", "Birdland", "Elegie", "Free Money". Seria mais do que suficiente pra consagrar essa edição do TIM Festival: a diva da Blank Generation em carne, osso e cabelos desgrenhados fazendo seu disco mais famoso. Mas esta edição toda é um grande revival dos dias de discurso & revolução: do jazz dos pianistas Ahmad Jamal e Herbie Hancock e do contrabaixista Charlie Haden ao toque eletrônico francês do Daft Punk, que em 1993 detonou uma rebelião na música eletrônica européia, segundo um fã insuspeito: Stephen Dewaele, do grupo belga 2 Many DJ?s. Sem contar com um garoto barbudo fissurado no folk alternativo dos anos 60, Devendra Banhart que veio das escolas de Artes Visuais, é fã extremado de Caetano Veloso e do cantor Donovan (aquele que foi considerado um dia "a resposta britânica a Bob Dylan"), Devendra é um neo-hippie que ainda acredita nas flores vencendo o canhão. Rock e grafite O que caracteriza alguns músicos do festival também é a interdisciplinaridade - gostam de fazer arte, não importa o meio se é música ou grafite. É o caso do rock experimental de "Tunde Adebimpe", do TV on the Radio, um intelectual do Brooklyn à moda antiga, graduado em cinema em Nova York e que também é pintor e produtor, etc., etc., etc. O festival reúne influenciados e influenciadores. Patti Smith, por exemplo, é influência de centenas de cantoras, como Karen O, do Yeah Yeah Yeahs. Vem ainda a Maria Schneider Jazz Orchestra costuma se apresentar com 17 músicos e regente (a própria Maria). "Big band tem uma conotação histórica, diretamente ligada ao jazz, e eu gosto de pensar que faço uma música orquestral que se vale da capacidade de improvisação do jazz, mas soa realmente como orquestra", conceitua a compositora de Minnesota que, aos 25 anos, conheceu seu mestre, Gil Evans, com quem trabalhou e cuja influência é audível em seu trabalho. Festival muda do MAM para a Marina da Glória Este é o ano em que o TIM Festival, em sua quarta edição, se muda definitivamente do Museu de Arte Moderna para a Marina da Glória, no Rio. O motivo é que um concorrente do mercado de telefonia, a Vivo, resolveu construir um auditório no famoso prédio de Afonso Reidy, batizado com seu nome, e seria um tipo de contramarketing fazer os shows ali. Mas, na Marina da Glória, a estrutura permanece, com os quatro palcos diferentes. O antigo espaço Village, de circulação do público, bares, restaurantes e apresentação de DJs e artistas performáticos mudou de nome. Agora, é Espaço Motomix, com 2,4 mil metros quadrados e palco para cerca de 2,2 mil pessoas. Essencialmente é a mesma coisa, com a cena eletrônica mundial e DJs locais. Além do produtor e DJ Jason Forrest, estarão em cena a dupla alemã Booka Shade, o alemão DJ Shantel, e os brasileiros Camilo Rocha, Mauricio Valladares e Pet Duo. O ingresso para o Motomix custa R$ 20.

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