Tia Carroll: 'As mulheres do blues que não aceitaram um não como resposta acabaram sendo ouvidas'

Blueswoman de Richmond, Califórnia, Tia está no Brasil para lançar o álbum 'You Gotta Have It' com o guitarrista Igor Prado; show será nesta sexta, no Bourbon Street

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Por Julio Maria
Atualização:

Quanto mais vida, mais voz – e, ao menos no blues, isso não tem a ver com idade. Tia Carroll, nascida em 1958 em Richmond, Califórnia, viveu muito até começar a cantar em uma banda de rock, no início dos anos 80. Sensação instantânea, seu caminho se cruzaria com figuras estupendas do blues dos anos 50 e 60, com as quais cantou em tempos diferentes como apoio: o bluesman Jimmy McCracklin, de The Walk, e a explosiva lady de 1,50 metro, a blueswoman Sugar Pie De Santo. Agora, o tempo de Tia Carroll é anunciado por prêmios o Band Leader of the Year, de 2016; West Coast Best Female Blues Vocalist, de 2017; e Traditional Blues Woman of The Year, de 2018. Ela está em plena forma, e está no Brasil.

Cantora Tia Carroll Foto: Bob Hakins

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Tia se apresenta nesta sexta, 3 de dezembro, na casa Bourbon Street. Vem com um álbum chamado You Gotta Have It, produzido por Jim Pugh, o mesmo produtor de Robert Cray, com blues, rock, soul e balada dos anos 50. “Este álbum revela muitas das minhas histórias de vida”, ela diz. A seu lado, estarão músicos brasileiros como o excelente guitarrista Igor Prado, que no álbum toca a faixa Move On, o também guitarrista Rodolfo Crepaldi, o baixista Rael Lúcio e o baterista Juninho Isidoro. O Bourbon abre seu Jazz Café às 18h e o show começa às 21h. O ingresso sai por R$ 75 e o tel para reservas de mesa é 5095-6100, além do Whatts (somente texto): 97060-0113. A casa pede comprovante de vacinação em dia. 

Ao Estadão, Tia Carroll respondeu a algumas perguntas sobre blues e, claro, mulheres no blues:

Seu álbum You Gotta Have It tem blues, soul, rock, R&B, balada dos anos 50 ... Como você construiu esse repertório? Podemos dizer que você viveu cada um desses gêneros? Eu cresci ouvindo todos esses tipos de música no rádio e no aparelho de som de meus pais, então sim, você pode dizer com confiança que vivi cada um desses gêneros musicais. Este álbum realmente revela muitas das minhas histórias de vida.

Gostaria de saber sobre sua experiência com Jimmy McCracklin. O que você pode dizer que aprendeu com ele? Foi uma ótima experiência poder trabalhar com Jimmy. Ele me tratou como se eu fosse sua filha, como fez com os outros vocalistas de apoio. Jimmy McCracklin se sentia muito confortável com sua música e acho que essa foi a melhor lição que ele deixou para mim. Estar confortável em seu próprio desempenho é uma experiência maravilhosa para os ouvintes.

E Sugar Pie DeSanto? Como foi sua história com ela? O que ela te ensinou? Oh meu Deus, Sugar Pie DeSanto é uma criatura pequena com uma tremenda energia e emoção. Assisti-la agarrar o público e segurá-los até que estivesse pronta para deixá-los ir foi absolutamente incrível. Ainda estou aprendendo com ela, a lição ainda não acabou.

Carroll, você diria que o blues é um gênero machista? Por que as mulheres demoram tanto para aparecer? Oh, as mulheres estiveram lá o tempo todo, mas a promoção das músicas produzidas por elas foi pouca. Os homens, que sempre fizeram a maior parte das agendas e das promoções, colocavam outros homens na frente. Eu sinto que havia diante das mulheres uma mentalidade do “entre quando e onde você couber”, mas algumas mulheres fortes que não aceitariam um não como resposta para sair da frente acabaram sendo ouvidas.

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Assim como Sugar Pie DeSanto, quais outras cantoras ainda não foram reconhecidos mundialmente no blues? Você pode nos dizer alguns nomes? Bem, essa é uma pergunta difícil. Neste ponto, a maioria das vocalistas de blues são reconhecidas em suas próprias áreas, mas, novamente, é necessária uma máquina de mídia para que elas tenham alcance mundial. Hoje também é preciso perseverança por parte das cantoras. Você tem que se manter ocupado com programas, gravações e redes sociais. É um trabalho 24 horas, e quem tem tempo para dormir?

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