The Sonics mostra como o rock é capaz de rejuvenescer décadas

Grupo responsável por criar uma tendência hoje conhecida como rock de garagem, nos anos 1960, estreia em São Paulo

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Por Pedro Antunes
Atualização:
 Foto: Mila Maluhy/Divulgação

Era possível sentir a fervura ao chegar perto do palco. Talvez fosse a refrigeração da casa de shows paulistana Audio, não preparada para aquela quantidade de gente espremida diante do Sonics, em sua estreia no Brasil. Mas é mais gostoso (e romântico) imaginar que o calor emanava do palco e refletia no público fissurado que estava ali. Diferentemente dos convidados da festa, mais interessados em conversar e gritar no fundo do salão, as pessoas que se aglutinavam para ficar centímetros mais próximos da banda lendária, liderada por Jerry Roslie, entendiam os motivos pelos quais a noite de quinta, 5, era especial – e única. 

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O Sonics não fez o sucesso que poderia ter feito quando surgiu, em meados dos anos 1960. Um par de discos e um par de hits depois, a banda chegou ao fim. Roslie e companhia eram jovens demais para entender o que tinham realizado: gritos selvagens e guitarra distorcida que diferenciavam do rockabilly inocente das rádios populares. Abandonaram a banda antes da década de 1970 e a música. Cada um para um canto, deixando o sonho para trás. 

O grupo foi ofuscado por plateias embasbacadas por Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix, The Who, Led Zeppelin, mas deixou marcas profundas na música e ajudou a mudar o rock. Seus integrantes são tidos como influenciadores de bandas como Stooges e New York Dolls, mais tarde líderes do movimento protopunk, que culminaria no punk mais agressivo e veloz que tomou os clubes norte-americanos e londrinos nos anos 1980. Também ajudaram a fomentar o movimento do grunge, na década seguinte e até o retorno do garage rock, com Strokes, Libertines e companhia, já nos anos 2000. 

Por isso, pouco importa se Roslie já passou dos 70 anos e sua voz precisa do auxílio de backing vocals para ser ouvida ou mesmo quando cede o posto de vocalista para Freddie Dennis, o baixista da nova formação, mais jovem que ele e ainda capaz de alcançar notas mais altas. O Sonics ali é pura energia, entrega surreal de senhores que já são avôs, mas ainda cantam sobre garotas, bebedeiras e arruaças infantojuvenis.

Não são como Peter Pan, presos numa infância que não volta mais e, sim, representam aquilo que de mais puro o rock pode produzir. Seja com músicas da nova safra, como Bad Betty, ou clássicos, caso de The Witch e Psycho. Som alto, berros e uma vontade impressionante de se tornar um rebelde ensandecido como James Dean, a cada três minutos de som. Quente, definitivamente, seja qual for a melhor explicação para isso.

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