The Raconteurs é a nova sensação do mundo rock

Desde os tempos de Led Zeppelin e Cream não se ouvia um blues rock branco tão rascante. Grupo com Jack White (White Stripes) acaba de lançar o CD Broken Boy Soldiers é está cotado como atração do Tim Festival

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Por Agencia Estado
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Imagine que Angus Young, do AC/DC, juntou-se a Robert Plant, do Led Zeppelin, e eles resolveram gravar com um cara que produz melodias assobiáveis como se fosse o Phil Spector, ex-produtor dos Beatles. Dureza imaginar isso? O negócio então é ouvir a banda The Raconteurs, um grupo all stars que junta o guitarrista, cantor e compositor dos White Stripes, Jack White; o cantor pop Brendan Benson (de Detroit); e Jack Lawrence e Patrick Keeler, a seção rítmica da banda Greenhornes (de Cincinnati, Ohio). Há muito tempo, desde o Cream e o Led Zeppelin, não se ouvia um blues rock branco tão rascante, tão britânico quanto Blue Veins. E olha que ele é legitimamente americano. The Raconters é a nova sensação do mundo do rock, com absoluta Justiça. Da combustão entre a boa mão pop de Brendan Benson (um dos cantores preferidos de Beck, segundo o próprio) e a estridente sujeira guitarreira de Jack White nasce um dos melhores CDs de rock da temporada, Broken Boy Soldiers, que a Sum Records lança no Brasil nesta sexta-feira. É correto dizer que as melhores faixas do Raconteurs são aquelas que têm a presença mais marcada de Jack White, seja cantando ou fazendo solos de guitarra. Não seria exagero também dizer que Steady as She goes, que abre o disco, é tão boa quanto Seven Nation Army, dos White Stripes. White e Brendon, amigos há tempos Mas seria ignorância dizer que essa banda é uma invenção casuística de White e Brendon. Eles se conhecem há tempos, e o embrião dos Raconteurs surgiu em 2000. Nesse ano, quando os White Stripes ainda não eram bombados como são hoje, Jack White juntou uns amigos de Detroit para abrir um show de sua garage banda favorita, os Greenhornes. Com Brendan Benson e mais uns camaradas, ele criou o que chamou, na época, de Jack White & The Bricks, e fez um show (que quem viu diz que foi memorável) no Garden Bowl, um velho boliche de Detroit transformado em templo do rock. Os Greenhornes, que professam a mesma fé numa mistura de punk rock, ritmos tradicionais (bluegrass, country e blues) e guitarras sujas, também adoraram. O tempo passou e, uma tarde desocupada de 2004, Jack White baixou na casa do chapa Benson em Belle Isle, no lado leste de Detroit. ?Fui pedir emprestado uma xícara de açúcar?, brinca o guitarrista. Benson, naquele momento, estava compondo, mas empacara num riff de guitarra que lembrava o Kinks e num verso apenas da letra: ?Find yourself a girl and settle down/ Lead a simple life in a quiet town? (algo tipo: Encontre sozinho uma mina e sossegue o facho/ Leve uma vida simples numa cidade pacata). Parece Casinha Branca, do Dalto, não?). Jack resolveu ajudar e criou mais um verso: ?Your friends have shown a kink in the single life/ You?ve had to much to think, now you need a wife? (tradução enfeitada: ?Seus amigos têm mania de viver à toa/ Você já teve tempo para pensar, agora o que precisa é de uma patroa.? Inventaram um refrão (Steady, as she goes) e no final do dia estava concluída a mais quente canção da temporada. Depois, Benson compôs Broken Boy Soldiers, com Jack martelando um órgão antigo que acharam na casa de Belle Isle. Keeler e Lawrence vieram depois, convidados pela dupla, para ajudar no resto. Resolveram gravar um disco no sótão de Benson. Em 2005, porém, os três lançaram discos com seus grupos, e tudo foi interrompido. Mas, ao final do ano, Jack White voltou com a corda toda e acabaram lançando esse discaço, além de iniciarem uma turnê pela Inglaterra. ?Nenhum de nós precisa estar nessa banda. Então, não temos nada a perder. Não há uma pessoa no centro do grupo que todos olham como se fosse o líder. Então, a responsabilidade é dividida e todos ficamos imaginando se vai funcionar?, diz Jack White. White Stripes, duelo com a bateria de Meg White White já afrontou muitas das certezas do rock com os White Stripes, banda na qual coloca em xeque a estrutura básica do gênero (baixo, guitarra, bateria) e duela apenas com a bateria de Meg White em cena. Como homem-banda, é capaz de, num show, tocar piano, órgão, guitarras, violões, bateria, xilofone e cantar como se fosse estourar as cordas vocais. Seus discos Elephant e Get behind me, Satan, os levaram a ser indicado para um Grammy de rock alternativo (e ganhar um). Mas, quando o White Stripes ameaça se tornar mainstream, Jack já começa a flertar com novos desafios. Há dois anos, ajudou a country momma Loretta Lynn a voltar ao topo produzindo seu disco Van Lear Rose, para a qual compôs 12 temas e tocou e ainda foi receber o Grammy com ela. Agora, experimenta com uma formação comum. ?Não quero me repetir. Quero me movimentar. Você precisa deixar a música te conduzir?, diz White. Para Brendan Benson, um cantor pop que começou a carreira antes dos 20 e levou 15 anos para ser notado (e virar cult), o Raconteurs é o lugar onde recarregam baterias. ?Talvez, se tivéssemos 18 anos e estivéssemos iniciando uma banda, isso fosse um problema. Mas, como já estamos há um tempão nisso, sabemos como reagir?, diz Keeler. Turnê pode chegar ao Brasil Na semana que vem, dia 21, estarão no festival Wireless, no Hyde Park, em Londres. Depois, vão para a Alemanha, Bélgica, Noruega. Voltam para 10 shows nos Estados Unidos e retomam os festivais (Fuji Rock Festival, no Japão, Lollapalooza, Reading, Leeds, Austin City Limits e Canadá). A última data é no dia 30 de setembro, no Metropolis de Montreal. Há uma forte torcida para, logo a seguir, desembarcarem aqui no Tim Festival, em outubro - Jack White já veio duas vezes e casou no Amazonas, há um ano. Seus agentes mantêm relação com a Duetto, produtora que realiza o Tim. Só não dá samba se o pessoal marcar touca.

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