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Tesoureiro da SBMC deixa o cargo

Em protesto, o compositor paranaense renunciou no início da semana, em carta enviada ao presidente da Sociedade Brasileira de Música Contemporânea Hary Crowl, ao cargo de tesoureiro da entidade

Por Agencia Estado
Atualização:

O compositor paranaense Rodolfo Coelho de Souza renunciou no início da semana, em carta enviada ao presidente da Sociedade Brasileira de Música Contemporânea Hary Crowl, ao cargo de tesoureiro da entidade, posto que ele ocupava desde abril, quando foi empossada a nova direção da sociedade. Na carta, Souza diz que a decisão foi tomada por causa de divergências com a direção da entidade quanto ao modo de conduzir críticas feitas à "Rádio Cultura" sobre o espaço dado em sua programação para a música contemporânea brasileira. Em carta encaminhada à produção da emissora e distribuída pela Internet, e também publicada na edição de agosto da revista Concerto, Crowl, "em nome da Sociedade Brasileira de Música Contemporânea", expressa a sua "indignação e perplexidade em relação à programação da Rádio Cultura FM". Segundo ele, ao se observar a programação da emissora, "fica claro que a música atual ocupa um lugar irrelevante (...), além de a produção dos programas evitar a grande maioria dos compositores brasileiros e aqueles com linguagens menos comerciais, de um modo geral". No fim da carta Crowl afirma que a posição contida na mensagem havia sido discutida em assembléia extraordinária da SBMC realizada em Belo Horizonte durante o 4.º Encontro Latino-Americano de Compositores e Intérpretes, no dia 27 de maio. Em sua carta, Rodolfo Coelho Souza escreve que, apesar de declaradas em nome da sociedade e seus associados, as mensagens e seus conteúdos não foram discutidos com a diretoria ou os membros da entidade. "Como membro da diretoria, não aceito que V. Sa. insista em se pronunciar em nome da sociedade sem consultar sua diretoria e seus associados. Em nenhuma oportunidade fui consultado. Seus protestos contra a "Rádio Cultura" da Fundação Padre Anchieta de São Paulo incluem acusações e difamações a respeito dos quais lhe manifestei, imediatamente após seu primeiro pronunciamento, meu inteiro desacordo. A reincidência e o caráter público de seu recente pronunciamento, em desconsideração aos seus pares, são motivos imperativos para que eu me desligue da diretoria sob sua presidência." Segundo Souza, a assembléia na qual teria sido discutido o teor das mensagens encaminhadas à rádio foi irregular. Ele diz que os sócios da SBMC não foram comunicados da assembléia de maneira regimental, "em conformidade com o estatuto". Da mesma forma, o compositor argumenta que a "ata lavrada não relata nenhuma decisão sobre conduzir uma campanha difamatória contra a "Rádio Cultura", emissora onde atuam diversos membros ativos da nossa sociedade, inclusive seu presidente anterior". Ele se refere ao compositor e pianista Amaral Vieira. À reportagem, Crowl disse que acredita que a reação de Coelho de Souza é "exagerada". "Os aspectos regimentais apontados por ele em relação à assembléia realizada em Belo Horizonte são, no mínimo, imprudentes, pois em todas as assembléias de que participei da SBMC nunca vi mais de oito pessoas presentes e o número de procurações enviadas nunca foi tão expressivo em relação ao número de associados." Debate - Segundo o gerente de programação da "Rádio Cultura", João Batista Torres, a emissora estranhou as declarações de Harry Crowl. "Sempre tivemos um excelente relacionamento com a sociedade e acreditamos que as críticas poderiam ter sido feitas de outra forma. Dentro da música clássica, há uma série de estilos e gostos diferentes e a rádio tenta diversificar ao máximo sua programação, apesar de ser impossível agradar a gregos e troianos. No entanto, não somos donos da verdade e aceitaríamos tranqüilamente um debate sobre a questão", disse ele à reportagem. Entre os projetos desenvolvidos com a SBMC, Torres relembra a promoção de um concurso para novos compositores, no ano passado, que resultou na gravação de um disco das obras dos autores premiados com a Sinfonia Cultura, orquestra da "Rádio e TV Cultura". Torres afirmou ainda que não gostaria de ver o relacionamento da emissora com a entidade se desgastar. "Ainda somos da opinião de que a rádio tem como função unir e não provocar discórdia em um meio já tão sofrido. Acreditamos que é preciso colocar questões que possam ser transformadoras; essa deve ser a nossa contribuição ao meio musical." Nelson Rubens Kunze, editor da revista Concerto, ressalta a idéia de que a questão deve servir como um estímulo ao debate sobre a música contemporânea no Brasil. "Decidimos publicar a carta assinada pelo sr. Harry Crowl como uma contribuição ao debate a respeito da divulgação da música contemporânea no Brasil", diz Kunze. Ele lembra, também, que a carta foi publicada em uma seção aberta da revista, na qual os textos são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente a linha de pensamento da revista.

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