Tereza Gama canta o samba à moda antiga

Cantora reverencia os mestres do partido alto em show e CD, interpretando músicas de Candeia, Nei Lopes e Oswaldinho da Cuica. Ouça Barracão é seu

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Por Agencia Estado
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Quem gosta do bom samba feito à moda antiga não deve perder. Tereza Gama é bem conhecida de quem já bailou nas suingadas noites paulistanas ao som do samba-rock do Clube do Balanço. Com shows no Blen Blen, nesta sexta e na próxima, a cantora paulista mostra outra faceta registrada em seu ótimo CD de estréia, Aos Mestres com Carinho - Homenagem ao Partido Alto (Rio 8 Fonográfico). Quase todo mundo que está no disco deve acompanhá-la no show: Oswaldinho da Cuíca Arnaldinho, Bocato, além de Marco Matolli, Fred Prince, Guto Bocão, todos do Clube do Balanço. De voz grave, rouca e calorosa, Tereza se destaca na contramão do modismo cool-bossa enjoadinho, que infesta o mercado. Dos 12 sambas do CD - assinados por Candeia, Wilson Moreira, Nei Lopes, Jamelão, Aniceto do Império, Gracia do Salgueiro e Oswaldinho da Cuíca, entre outros - oito são dos anos 70, um é de 1969 e os outros dois são de 1981 e 83. O repertório coincide com a época da juventude da cantora, que tem 51 anos, mas o critério de escolha foi mesmo o conteúdo. Uma das melhores faixas (se é possível fazer esse tipo de distinção qualitativa) é Barracão É Seu, de domínio público, que aparece em duas versões no disco e excede o período em questão. "Além de ter muito a ver com minhas origens, esses compositores procuraram retratar seu cotidiano nas músicas. Você podia entender a mensagem através das letras", explica Tereza. O sentido do partido alto é justamente o contrário disso é o da agregação, da reciprocidade. Trazido da Bahia para os morros cariocas em fins do século 19, esse gênero de samba foi um dos componentes formadores das escolas de samba. Como no samba-de-roda baiano, o partido alto tradicional é cantado e dançado com os partideiros formando um círculo, um por vez improvisando sua parte no centro da roda. A marcação do ritmo é feita na palma da mão e acompanhando instrumentos como violão, cavaquinho, flauta, pandeiro, prato-e-faca, como faz até hoje a baiana Dona Edith do Prato. Tereza cresceu cercada de outras influências, mas aprendeu a sambar rápido. Filha de imigrantes do interior paranaense, ouviu na infância muita moda de viola e os cantos dos lavradores nos mutirões das colheitas. "Aprendi a gostar de todos os estilos, mas aos poucos fui afinando com o samba que vem do terreiro, que faz parte de minha história." Chamando jovens e veteranos para a roda de partideiros, Tereza exalta as "coisas da antiga": "Para os que são da minha idade, vale o resgate. Os jovens estão conhecendo parte da história. Quero que saibam como é importante revitalizar a essência do partido alto." Tereza Gama. Blen Blen. R. Inácio Pereira da Rocha, 520, Pinheiros, 3815-4999. Sexta, a partir das 22h. R$ 20

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