Terence Blanchard vem ao País e toca no Bourbon Street

O trompetista, ex-integrante do mítico grupo Jazz Messengers, de Art Blakey, fez a trilha sonora de O Plano Perfeito, de Spike Lee

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Por Agencia Estado
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Sem usar de superlativos nem listas de prêmios, é possível definir o jazz de Terence Blanchard apenas como uma suntuosa experiência emocional. Não que não haja um currículo a empilhar aqui: trompetista, 44 anos, ex-integrante do mítico grupo Jazz Messengers, de Art Blakey, aluno de Ellis Marsalis, sideman de Lionel Hampton, ganhador de um Grammy, parceiro e amigo de Herbie Hancock e Wayne Shorter, e por aí vai. Blanchard também fez a trilha sonora do filme mais recente de Spike Lee, O Plano Perfeito - já tinha feito música também para Mais e Melhores Blues, Malcolm X e Barbershop. Ele chega ao Brasil nos próximos dias para um show único no Bourbon Street, dia 18. É um virtuose do seu instrumento, o trompete, mas o que ele busca com sua banda é mais do que impacto técnico: quer tocar os sentimentos das pessoas. Simples assim. "Gostaria de dizer a você também o que estou dizendo para todos os jornalistas que estão me ligando: que estou chocado e consternado pela morte do produtor brasileiro Paulinho Albuquerque", disse Blanchard, em conversa por telefone com o Estado, na sexta-feira passada. Paulinho Albuquerque morreu de um enfarte no dia 26, no Rio de Janeiro, aos 65 anos. Era produtor de música e trabalhou com João Bosco, Guinga, Chet Baker, Herbie Hancock e Ivan Lins, com quem mantinha uma editora musical (Dinorah Music) e uma gravadora (Velas). Era também curador da área jazzística do antigo Free Jazz Festival desde os anos 80, e foi quem trouxe Blanchard pela primeira vez ao País. Blanchard tem se apresentado ultimamente com um sexteto, com o qual toca músicas dos discos mais recentes, Bounce (2003) e Flow (2005). No Brasil, ele diz que talvez mude esse repertório, para incluir alguns standards, fazer um agrado ou outro ao público que não o vê com freqüência. Flow, o disco mais recente, é produzido por Herbie Hancock, quatro vezes ganhador do Grammy, e mostra um artista no auge de sua capacidade criativa. Os músicos que estão vindo com Blanchard tocaram no álbum, e ele diz que um dos seus grandes desafios foi fazer com que o disco soasse exatamente como soa ao vivo. "Queríamos que o disco carregasse a personalidade da música, que é aquela que trazemos nos shows, que mostrasse como a banda funciona tocando junta", afirmou o trompetista. Para essa aventuras musicais, Blanchard junta um saxofonista de Tucson (Arizona), Brice Winston; um baterista de Houston (do Texas), Kendrick Scott; e um pianista, Aaron Parks, que Blanchard arrancou da escola de música aos 18 anos, julgando-o já completo; além do baixista Derrick Hodge, que compôs um dos temas que ele toca, Over there; e um violonista do Benim (África), Lionel Loueke, que não virá ao Brasil (está gravando no Colorado, onde vive, conta Blanchard). "Eles não fazem isso pelo dinheiro, fazem porque amam a música. É por isso que digo que eles são visionários", disse Blanchard na África do Sul, recentemente, sobre seus muito jovens discípulos. Seu show costuma ser aberto com a peça Transform, do disco Bounce. A segunda já é Over there, de Flow. Já a trilha do filme de Spike Lee, O Plano Perfeito, que também já é encontrável nas lojas, é uma colcha de retalhos musical, e a parabólica de Blanchard captura isso com precisão. A trilha abre e fecha com a música indiana Chayya Chayya, sucesso do cinema da Índia, o famoso Bollywood, cantada por Sukhwinder Singh, Sapna Awasthi e com o MC Panjabi. A música de Blanchard ilustra um curioso diálogo musical que propõe reaproximações entre Nova Orleans e o coração da África. Que ressoa límpida, seja nas ruas de São Francisco ou no topo escalpelado da Table Mountain, na Cidade do Cabo. "Quero música honesta, não importa a terminologia", diz Blanchard Em show recente, o sr. tinha a seu lado o guitarrista Lionel Loueke, do Benim, que dava um show à parte com percussão improvisada e beat box (uso da boca como instrumento). Como trazer esse tipo de conhecimento para o terreno do jazz? Não é difícil. É tudo música. Tento não acreditar em rótulos. Alguns definem minha música como world jazz? Podem chamar como quiserem. Queremos apenas tocar música honesta, não importa a terminologia. Siga seu coração e permaneça ao redor dele. O sr. fez música para diversos filmes de Spike Lee. É muito diferente de compor para álbuns? Sim. A música para filmes é feita para ajudar a contar uma história, torná-la inteligível. Com a minha banda, tento combinar as qualidades dos músicos, trazer para o disco aquilo que somos criativamente. O Plano Perfeito é um filme de entretenimento de Spike Lee. Sim, ele pode fazer todo tipo de filme. O cinema é sempre algo novo para ele, e com O Plano Perfeito, ele mostrou para todo mundo em Hollywood que é sério. Para a maior parte dos cineastas de lá, entretenimento é a única coisa que sabem fazer. Não é o caso dele. É grande em qualquer gênero. Há grandes trompetistas na história: Miles, Clifford Brown, Fats Navarro, Don Cherry. Seu mestre está na lista? Miles Davis, certamente.

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