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Tempo fechado para os festivais

Cancelamento do Sónar mostra cenário turvo para os concertos internacionais

Por Jotabê Medeiros e Roberto Nascimento
Atualização:

Cancelado, segundo sua organização, por conta das "dificuldades e instabilidades do mercado brasileiro de entretenimento", o Sónar Festival (que já tinha elenco e datas fechadas) acabou revelando a ponta de um iceberg: depois de anos de euforia, o ramo de shows internacionais está dando mostras de saturação na maior capital cultural da América Latina.

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Fontes ligadas à organização do Sónar indicam que o motivo é a falta de patrocínio. Empresas que investiram pesado em entretenimento nos últimos três anos, possibilitando uma bonança de festivais no País, estariam mudando o foco e apostando em esportes, com a proximidade da Copa do Mundo. Assim, com o cancelamento do festival SWU, no ano passado, shows que não alcançaram a cota desejável de ingressos, como o de Lady Gaga, e agora o cancelamento de um dos festivais mais interessantes do circuito, pinta-se o retrato de uma bolha estourada no ramo de entretenimento brasileiro.

O Sónar é de origem espanhola, um dos países mais afetados pela crise econômica na Europa. A Dream Factory e a Advanced Music, responsáveis pela produção do Sónar São Paulo, ainda não tinham colocado ingressos à venda, mas já tinham confirmado diversas atrações, como Pet Shop Boys, The Roots, Explosions in the Sky, Nicolas Jaar, Matmos. A edição de aniversário de 20 anos do Sónar em Barcelona se realizará nos dias 13, 14 e 15 de junho. O Sonar Sound Tokyo acontece nos dias 6 e 7 de abril e a primeira edição de A Taste of Sonar Osaka nos dias 5 e 8 de abril.

O festival foi um sucesso no ano passado, quando trouxe Kraftwerk, James Blake e Cee Lo Green. Cerca de 30 mil pessoas foram ao Anhembi. Entre os motivos do recuo, este ano, podem estar a questão dos preços dos ingressos e a concorrência de diversos festivais novos. A organização do Sónar chegou a estudar uma forma de distribuir shows por outros espaços da cidade (como o Cine Joia e o Espaço das Américas) para tentar alcançar públicos específicos, em vez de genéricos.

Outro festival que enfrenta um impasse é o BMW Jazz Festival. Segundo sua assessoria, a mostra deste ano deverá ser anunciada em uma coletiva de imprensa em alguns dias. Mas, segundo a reportagem apurou, mesmo com algumas atrações já fechadas (como o guitarrista Pat Metheny), o patrocinador BMW poderá abandonar o projeto, sendo substituído por uma nova companhia. Isso ocorre em decorrência de rearranjos financeiros na matriz da empresa, na Alemanha.

Megafestivais que chegaram a reunir 179 mil pessoas, como o SWU, sumiram da agenda do ano (ao Estado, os organizadores garantiram recentemente que a jornada deve voltar). Em fevereiro, Elton John fez show no Jockey, um conceito novo, mas que teve público de 11.500 pessoas, 3,5 mil a menos do que a organização esperava.

No final de 2012, houve comentários também sobre uma provável extinção do festival Planeta Terra. A mostra, de característica mais indie, teria sido tremendamente abalada pelo desembarque no País do Lollapalooza, que consegue fechar contratos com os artistas mais cobiçados da atualidade. Mas, segundo disse esta semana Roni Cunha Bueno, vice-presidente de marketing do Terra, ao jornal Folha de S. Paulo, são apenas "boatos". O festival, de perfil pop rock, deve realizar sua sétima edição este ano, e teve em 2012 um investimento de R$ 25 milhões.

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Bueno confirmou a mostra para outubro, mas admitiu que pode não ser realizado no Jockey Club, como no ano passado. "Tenho datas reservadas em dois outros locais, mas ainda não fechamos. Talvez o festival diminua de tamanho, mas nosso foco continua nas bandas independentes. E digo mais: estamos ambiciosos."

A nova configuração da conjuntura do show biz no Brasil vem se revelando por diversos sintomas. No ano passado, artistas como Lady Gaga e Madonna tiveram dificuldades de esgotar os ingressos de seus megashows, apelando para promoções. São Paulo também assistiu recentemente ao fechamento de algumas casas importantes para a saúde do sistema, como o Citibank Hall (de capacidade para até 3 mil pessoas e que funcionava havia 28 anos em Moema) e o Via Funchal (havia 15 anos abrigando concertos, com capacidade para até 7 mil pessoas).

The Cure. Ontem, a organização do show da banda inglesa The Cure anunciou que o show de São Paulo, no dia 6 de abril, foi transferido para a Arena Anhembi (inicialmente, estava previsto para o Morumbi). Segundo a XYZ Live, a "alteração na agenda de montagem da Fórmula Indy viabilizou a utilização do local inicialmente previsto para o show". Mas, do Morumbi para o Anhembi, há uma diferença substancial do número de espectadores (os promotores dizem que o Morumbi estava configurado para 40 mil pessoas).

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