'Tem que chegar devagar', diz Roberto Carlos sobre assédio a mulheres

O cantor recebeu a imprensa a bordo de seu cruzeiro Emoções em Alto Mar, no qual falou por 45 minutos sobre política, velhice e um novo disco que pensa em lançar este ano

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Por Roberta Pennafort/RIO
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Roberto Carlos faz cerca de 50 shows por ano, e, em geral, dá apenas uma entrevista: a bordo do cruzeiro “Emoções em alto mar”, que realiza desde 2005. Nesta quinta-feira, 1º, o cantor falou por 45 minutos a jornalistas – e a cerca de mil fãs, que lotaram o teatro a bordo destinado ao encontro com a imprensa – sobre assuntos tão variados quanto a política nacional (voltou a exaltar o juiz federal Sergio Moro, responsável pela Lava Jato), a velhice (“não tenho medo, tenho pânico”, brincou, aos 76 anos) e a possibilidade de chamar Pabllo Vittar para seu especial de fim de ano na TV Globo (“Por que não? Não tenho preconceito algum”).

Roberto: coletiva de imprensa em navio no Rio Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

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Para aplausos entusiasmados das fãs, ele comentou as demandas feministas contra assédios e abusos que têm vindo à tona no mundo artístico. “O cara que entende de mulher sabe como chegar de muitas formas, sem ofendê-la, sem chocá-la, sem agredi-la. Chegar devagar, estudar como é. Usar uma forma que seja agradável a ela. A gente não pode agredir uma mulher de jeito algum”, defendeu.

Ao falar da velhice, disse que tem “horror, um medo filho da p...” do avanço do tempo. “Mas fazer o quê? A gente tem que fazer tudo para ter sempre uma aparência um pouco mais jovem do que a idade que a gente tem. Pelo menos consola, ajuda a ir em frente. A minha velhice ainda falta muito tempo para chegar”, zombou.

Na entrevista, dada com o navio ancorado no porto do Rio, o cantor discorreu até sobre os escândalos de corrupção que vêm levando políticos aos tribunais e à cadeia, e também sobre as próximas eleições – ele costuma evitar falar de temas tidos como áridos.

“Eu ainda voto, embora não precise votar, e vejo tudo isso com muito otimismo, as coisas sendo resolvidas. O trabalho do (juiz federal) Sergio Moro e de todas as instituições é uma coisa maravilhosa, que nos consola, que nos anima. Ele merece todo o nosso apoio, carinho e aplauso”. 

Roberto então puxou palmas para o juiz, sendo acompanhado pelo público (parte dos passageiros se inscreve para assistir à entrevista). Moro ainda não foi a um show do “rei” depois de se tornar conhecido em todo o País, mas já mandou uma mensagem de áudio declarando que a admiração é mútua.

O projeto “Emoções em alto mar” é um sucesso comercial desde que zarpou pela primeira vez, há 14 anos. Mais de 50 mil pessoas já embarcaram. O que atrai o público é a ideia de ter “intimidade” com o cantor: o show é realizado para mil pessoas por noite, número ínfimo se comparado aos grandes estádios e casas de espetáculos por onde passa. Roberto reforça essa sensação de proximidade ao subir ao palco e dizer, com malícia: “É muito bom estarmos mais uma vez sob o mesmo teto”.

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“Meu marido não gosta e eu resolvi vir sozinha mesmo, parcelando em quatro vezes a passagem”, contava nesta tarde Silvia Dias, de 44 anos, gerente de um hotel em Atibaia (SP). “Sou fã do Roberto desde os meus 5 anos e comecei a tocar violão para aprender suas músicas. Hoje meu filho toca também. Já ganhei uma rosa num show no meio de 6 mil mulheres.”

Este ano, o passeio, que sai de Santos e passa por Ilhabela, Rio e Búzios, está sendo realizado no navio Costa Favolosa. O transatlântico, de bandeira italiana, tem mais de 1.500 quartos e partiu com 4 mil passageiros (lotação máxima). Anunciado como um “castelo sobre a água”, tem cinco restaurantes, 13 bares, piscinas, spa, cinema ao ar livre, cassino e discoteca, sendo a apresentação de Roberto a atração principal. 

Para o verão de 2019, ano em que ele completa 60 anos de carreira, foram vendidos 30% das cabines em doze horas, entre quarta-feira e esta quinta-feira, mesmo sem navio e datas anunciados (sabe-se apenas que o cruzeiro sempre é uma ou duas semanas antes do carnaval).

“Nunca temos reclamação. A única é ‘não consegui tirar uma foto com o Roberto’”, brincou o empresário do cantor, Dody Sirena, que já planeja versões para os mares do México, da Itália e também em Miami. Em 2017, por causa da crise, que afastou os transatlânticos da costa do Brasil, a série de shows foi realizada em terra firme, num resort na Bahia.

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No Costa Favolosa, as cabines mais caras, com varanda e área total de 42 metros quadrados, custam R$ 42,8 mil (para quatro pessoas); as mais baratas, internas, saem por R$ 9,4 mil (para duas pessoas). “Não acho caro. O clima é de amizade no navio, todas temos o Roberto em comum”, elogiava a dona-de-casa Meire Bronzin, de 49 anos.

Há décadas dando voz a músicas do passado em seus shows, Roberto promete lançar ainda em 2018 seu aguardado CD de inéditas. O cantor já tem “algumas começadas”, mas, obcecado por perfeição, admite publicamente que sente dificuldade de dar o trabalho como encerrado.

“Estou muito entusiasmado com esse próximo disco. Não acho que a pressa seja inimiga da perfeição. A pressa é amiga dos defeitos. Fazer coisas com pressa é aceitar os defeitos que vão acontecer”, ele declarou na entrevista. 

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“Eu termino um disco, mas gostaria de trabalhar nele por um ano mais. Aprendi isso com Sting, quando ele disse que nunca entrega um disco, mas o abandona. O que eu tenho feito tem tido bom resultado, ‘Esse cara sou eu’, ‘Sereia’... Fico muito tempo num disco, ouço, penso ‘está faltando isso’, ‘traz o músico de novo, vamos gravar de novo a parte dele’. Quanto está pronto, eu digo ‘ainda não está’.”

O CD em espanhol que gravou para o mercado latino, prometido para maio, já está finalizado, “mas ainda faltam umas coisinhas”, fez graça. Para o segundo semestre é que é esperado o de inéditas em português, com versões em português, feitas por ele mesmo, das canções em espanhol (de compositores latinos), além de outras de sua autoria, com e sem Erasmo Carlos.

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Um projeto ainda em desenvolvimento é o filme de Breno Silveira, com roteiro de Nelson Motta e Patricia Andrade, que deve chegar aos cinemas no ano que vem. São, na verdade, dois filmes, que abarcam toda a sua trajetória artística. “O ator (que o interpretará) ainda não foi escolhido. Eu pensei no Brad Pitt, mas ele tem olhos azuis...” O ator será dublado – uma preocupação a menos para o perfeccionista Roberto.

Setenta e sete anos em abril, o “rei” sente-se feliz ao ver sua música chegar a um público mais jovem do que a mulher-de-sessenta que forma seu público óbvio – o que é nítido no público do navio, que vai da infância aos 90 anos. “Se jovens gravam, é porque os jovens gostam. Vejo com muita alegria o resultado da minha música esse tempo todo em todas as camadas.”

Ainda sendo gestada, a comemoração dos 60 anos de música poderá incluir shows com convidados pelo Brasil, nos moldes dos especiais da Globo. O ritmo e o número de apresentações não devem aumentar. “Recebemos mais de 400 convites para o Roberto cantar. Meu trabalho é escolher onde ele vai”, contou Dody Sirena. “A disposição é impressionante, de um jovem de 20 anos caindo na estrada para fazer shows”.

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