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Tem baile na laje do Nando

Calcinha Preta, Wando, Roupa Nova, Zezé Di Camargo... Nando Reis canta tudo e todos no CD e DVD Bailão do Ruivão

Foto do author Julio Maria
Por Julio Maria
Atualização:

Anos 70, quadra do Clube Caiçara, Jaú, interior de São Paulo. Lá está Nando Reis, menino, maravilhado com a banda que faz o baile de carnaval da cidade. O natural seria imaginar que os seres que habitam o inconsciente emocional de um roqueiro que passou boa parte de sua vida ao lado de um grupo como o Titãs sejam Beatles, Rolling Stones, The Who, Eric Clapton. Claro, eles também devem estar lá, mas Nando resolveu abrir outras portas desta vez. O disco com DVD que lança agora, gravados ao vivo, Bailão do Ruivão, é um apanhado de músicas supra-populares, que saíram não necessariamente da vitrola de sua casa, mas que flutuavam por aí até atingi-lo sem pedir licença à sua própria vontade. “O óbvio seria eu regravar rock em um disco como esse, mas não era isso que eu queria”, diz Nando.

 

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O termo ‘bailão’ já era usado sempre que a plateia pedia bis em seus shows. Ali, era a hora da diversão. Músicas que resolveu gravar agora, como Fogo e Paixão, de Wando, emendada a My Pledge of Love, do Joe Jeff Group, são tocadas há tempos em suas tirações de onda. Sem uma linha clara que defina o perfil do público que estaria na pista desse bailão (anos 60, forró, lambada, sertanejo, black music), Nando toca tudo aquilo que funciona quando resolve pagar o violão e relaxar. E faz um desfile de músicas que seguem apegadas a suas formas originais, com poucas invenções.

 

O rock aparece pouco – na pegada de Rita Lee, com Agora Só Falta Você, ou na única lembrança dos ex-amigos de Titãs, com Bichos Escrotos. Whisky a Go Go, rainha em bailes de formatura e casamentos do Roupa Nova, sai tal qual a versão original, assim como a ensolarada I Can See Clearly Now, que Johnny Nash escreveu e cantou em 1972 mas que acabou agraciando foi a carreira de Jimmy Cliff, em 1993.

 

Nando se incomodava com uma reação comum em seus shows. Quando disparava algo como Lindo Balão Azul, por exemplo, sentia olhares que pareciam dizer ‘é cara, essa música tem mesmo que ser destruída, acabe com ela.’ “Isso me incomodava, não queria parecer que estivesse fazendo escárnio daquilo.” Gravadas em um ‘álbum de carreira’, elas perdem qualquer tom de ironia. Nando assumiu os riscos ao sair de seu terreno para fazer um disco sério de repertório ‘engraçado’. “Apesar de não querer inovar nos arranjos, passei um tempo tocando essas músicas para descobrir o melhor formato de entrar nelas”, diz.

 

E assim segue um bailão sem DJ, daqueles que quem troca a música é o próprio dono da casa. Gostava Tanto de Você, de Tim Maia, vira uma balada um pouco mais solta que a original; Muito Estranho (Cuida Bem de Mim), de Dalto, recebe coralzinho emocionado da plateia. Aqui e ali, arrasta-pés radicalizam o ‘manual Nando Reis para festas, bailes e afins’. Com Chimbinha e Joelma, do Calypso, ele faz a lambada Chorando se Foi. Do repertório de Genival Lacerda, canta Severina Chique Chique. Do Calcinha Preta, dá o maior passo para distanciar-se de si mesmo com Você Não Vale Nada. E de Zé Ramalho, faz Frevo Mulher. Com Zezé Di Camargo e Luciano, canta duas: sua própria Do Seu Lado e a mais romântica Você Pediu e Eu Já Vou Daqui. Já que baile é para se divertir, e não refletir, o de Nando Reis ficou bem arretado.

 

    Nando Reis

Bailão do Ruivão

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Universal. CD: R$ 24,90 DVD R$ 37,90

 

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