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Teatro Municipal de São Paulo  estreia nova montagem de 'Salomé'

Espetáculo traz soprano Nadja Michael ao País pela primeira vez

Foto do author João Luiz Sampaio
Por João Luiz Sampaio
Atualização:

Ao escrever Salomé, o dramaturgo inglês Oscar Wilde nutria um sonho – ver no papel título a grande atriz francesa Sarah Bernhardt. Tinha tudo para ser um daqueles momentos mágicos da história do teatro. Mas o texto não agradou à censura britânica. A estreia foi adiada, Bernhardt jamais interpretou o papel e a peça ficou de fora do rol das mais célebres obras do autor. Até ser imortalizada pelo compositor Richard Strauss em uma das mais importantes óperas do repertório, que ganha nova montagem a partir de hoje, no Teatro Municipal de São Paulo. 

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Salomé é o resultado de uma mistura de épocas. A base do enredo sobre a princesa, seu padrasto Herodes e o profeta João Batista surge no Novo Testamento. Em meados do século 19, é recuperada pela arte ocidental, especialmente em textos de Heinrich Heine e Gustave Flaubert. E, nos anos 1890, Wilde cria a própria versão para a história, já sob os ares do decadentismo, movimento que sinaliza uma crise nos valores artísticos da época, apontando para a modernidade do início do século 20, da qual, ao escrever a versão operística do texto, Strauss seria símbolo.

Em meio a um universo tão rico de referências, como levar a obra hoje ao palco? “A minha produção evoca as maneiras como a história foi tratada ao longo do tempo, mas o foco da ópera me parece ser o que as personagens sentem, a ação da ópera se passa no universo interior de cada uma delas. E por conta disso, resolvi não ambientar a ação em uma época específica”, explica a diretora Lívia Sabag, que assina a concepção cênica do espetáculo. Ainda assim, como invocar o caráter transgressor da peça de Wilde, que levava ao palco personagens complexos, tomados por desejos profundos, evocando o corpo e a sensualidade em cenas fortes, como o beijo de Salomé na cabeça decepada de João Batista? “A transgressão, hoje, me parece ser a expressão dessa fisicalidade por meio da sugestão e da sutileza.”

A direção musical do espetáculo está a cargo do maestro John Neschling, que rege a Sinfônica Municipal. Sobrinho-neto do compositor Arnold Schoenberg, um dos símbolos da arte da passagem do século 19 para o 20, ele diz que o repertório deste período está em seu DNA. “É como uma língua materna. Você pode aprender várias outras, mas há uma primeira com a qual você se sente totalmente à vontade”, diz. Para ele, Salomé é a mais moderna das óperas de Strauss. “É seu trabalho mais audacioso em diversos sentidos, desde o texto até o modo como ele constrói a partitura. E pode ser lida de maneiras diferentes. Pode ser uma ópera noturna, quase romântica; uma ópera sanguinária; ou uma obra erótica, sexual.”

Para Neschling, um aspecto particularmente interessante é a trajetória de Salomé, de menina mimada à mulher que sabe o que quer. Já a soprano Nadja Michael, intérprete do papel título, afirma que o mais importante é revelar a humanidade da personagem. “Strauss consegue revestir as personagens de uma dimensão humana que faz o texto da peça parecer quase frio.” Para ela, a grande dificuldade está em dosar os contrastes da partitura. “O papel foi escrito para uma voz grande, dramática, mas exige, ao mesmo tempo, momentos de lirismo, afinal, Salomé é uma adolescente.” Nadja se reveza, durante a temporada, com a soprano Annemarie Kremer; os tenores Peter Bronder e Jürgen Sacher interpretam Herodes; e os barítonos Mark Steven Doss e Michael Kupfer, vivem João Batista. SALOMÉTeatro Municipal. Pça. Ramos de Azevedo, s/nº; 3397-0300. Sáb. (6 e 20/9), 3ª (9 e 16/9); 5ª (11 e 18/9) e dom. (14), 20 h. R$ 40/R$ 100.

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