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Strokes repetem a receita em mais um bom disco

Em Room on Fire, banda mostra mais do mesmo: ou seja, um rock bom e divertido, feito por uma banda cujo som já se tornou imperioso Clique para ouvir trecho de "12:51"

Por Agencia Estado
Atualização:

Os vocais comprimidos de Julian Casablancas (como se estivesse cantando dentro de uma tubulação de esgoto), a batida seca e sugerindo amplificação defeituosa da bateria de Fabrizio Moretti, as guitarras fabulosamente simples e cruas de Nick Valensi e Albert Hammond Jr. Há alguns dias, os novos hits dos Strokes já se espalham pelo dial das rádios e pelos aparelhos de CD do País, a bordo de um novo disco, Room on Fire, no qual Casablancas canta "Eu quero ser esquecido/E eu não quero ser lembrado". Não é uma questão de vontade, o som dos Strokes tornou-se imperioso. O maior dos novos hits é Reptilia, mas também toca muito What Ever Happened?, 12:51 e Automatic Stop (que tem uma batidinha de reggae). Depois do grande sucesso do primeiro disco, Is This It? (que alguns chegaram a pensar, apressadamente, que fosse um novo Nevermind), a jovem banda nova-iorquina Strokes viu-se frente à hercúlea tarefa de reafirmar a expectativa, a de que eles fossem "a nova grande coisa do rock". Room on Fire não vem nem para reafirmar nem para dissipar essa impressão. É mais do mesmo: ou seja, mais do bom rock dos Strokes, que não é fundamental, mas é bem divertido. Os Strokes trabalham com diversos gêneros, mas sempre filtrando todos eles numa leitura muito particular, muito personalizada, do punk rock (em The Way It Is) ao metal (The End Has No End), do blues ao folk e new wave. O seu ingrediente pessoal é o frescor juvenil, uma certa displicência de garagem, coisa que pega todo mundo de jeito. Os Strokes não são traidores de sua própria causa juvenil, sua urgência feita de autenticidade e crueza. Como já cantava antes Casablancas, em Someday ("Quando nós éramos jovens/Oh, man/Nós nos divertíamos/Sempre, sempre"). Simples assim, uma síntese perfeita de forma e conteúdo, como ressaltou a revista NME. Agora, em Room of Fire, eles atualizam essa busca de espaço para quem ainda está aprendendo a posicionar-se. "Dê a eles algum tempo/Eles só precisam de um tempinho", diz Casablancas (compositor e escritor de todas as letras da banda), na faixa You Talk Way Too Much. Ou então: "Nós somos jovens, baby/Não temos controle/Estamos fora de controle" (Under Control). Os versos de Casablancas falam das agruras do cinismo que vêm com o fim de um amor, de desencontros. "Não posso vencer", lamenta o cantor, em I Can?t Win, e todas as meninas da platéia querem levar aquele moleque meio esfarrapado para casa. Diversos críticos vêem também um componente "sexy" na música dos Strokes, mas aí já é viagem. Casablancas fala de coisas mais emocionais, de coisas do coração. Junte a isso uma estética uspiana, tênis all star, blusões de couro velho e muita cara de cachorro pidão e pronto: está feito o milagre alquímico. O primeiro disco do The Strokes veio em 2001, com uma reverência crítica que beirava o publicitário. O segundo, em 2003, já repete o fenômeno, incensado principalmente pelas revistas mainstream, de natureza mais propagandística. "O look, o som e a atitude estão de volta", diz um display da gravadora, que também virou um post-it colado na capa do disco. Não é culpa dos Strokes, evidentemente, mas é um tipo de "despojamento" instrumentalizado, uma diluição. É preciso dizer, no entanto, que há uma enfadonha uniformidade no álbum dos Strokes, se ouvido de cabo a rabo, como se eles só mexessem no andamento das canções. E também não tem nada parecido com as melhores do disco anterior, como Barely Legal ou Last Nite. Mas é inegável que é uma das boas bandas da atualidade, como foram boas em seu tempo Stone Roses ou Jesus and Mary Chain.

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