Sting volta a São Paulo aos 65 anos e diz aceitar a morte: 'Me faz aproveitar mais a vida'

Músico, em entrevista exclusiva, fala sobre o novo disco '57th & 9th',

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Por Pedro Antunes
Atualização:

Dia após dia, Gordon Matthew Thomas Sumner, mais conhecido como Sting, passava pela mesma esquina a caminho do estúdio onde gravava o 12.º disco de estúdio da carreira. O trabalho, mesmo que não cite Nova York nada além do título, transpira o caos e a miscigenação da cidade norte-americana. Não é por acaso que Sting, ícone do transformador trio The Police, está mais roqueiro do que nunca.

Músico inglês Sting Foto: Eric Ryan Anderson / Divulgação

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Com 57th & 9th, nome emprestado do cruzamento caótico que obrigava o roqueiro a esperar minutos intermináveis à espera de uma chance de atravessar a rua, Sting é preciso. Debate, com ironia, questões que o presidente norte-americano Donald Trump ignora (como o aquecimento global), sem nunca citar o nome do político. Sting, aos 65 anos, não quer brigar. Sem ser mórbido, ele quer mais é aproveitar o que a vida ainda tem a lhe oferecer. 

O que há de tão especial nessa esquina das ruas 57ª com a 9ª? Na verdade, é bem simples. Por ser uma esquina localizada no caminho da minha casa em Manhattan até o trabalho, no estúdio onde gravava o disco, passava por ali todos os dias, pela manhã e à noite. É um cruzamento muito cheio, sempre movimentado. Passava longos períodos à espera para poder atravessar. Então, usava esse tempo para meditar, pensar sobre a vida, sobre o disco, sobre essa cidade. Se tornou uma rotina. Me fazia pensar no que imaginava do futuro. 

E o que pensa sobre o futuro?  Eu vejo 2016 como um ano bastante incomum. Um período que mexeu com todos – todo mundo foi afetado pelos acontecimentos daquele ano. E, de algo tão ruim, deve vir algo bom. Acredito que coisas boas virão a partir de agora. 

Como assim?  O que aconteceu de ruim no ano passado deve servir para estimular as pessoas à se juntarem no mundo. O que vemos atualmente é mundo se separando, criando muros. As nações estão se dividindo, como aconteceu com o Brexit. Devemos olhar para os problemas do mundo como uma comunidade, não separadamente. 

Sim, muros estão sendo prometidos por aí.  Exato. E não é só isso. Veja só a questão do aquecimento global. Isso não é uma questão que afeta só os Estados Unidos, o meu país (Inglaterra) ou o Brasil. Isso afeta a todos. O mesmo vale dizer sobre as questões de imigração. Tudo deve ser tratado como uma verdadeira comunidade. Não basta construir muros e esperar que os problemas vão embora. Eles não vão. 

E parece ser possível ser otimista sobre 2017? A verdade é que é difícil ser otimista agora, nessa situação atual, mas eu acho que nos transformará em algo melhor. 

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Esse disco, contudo, é menos biográfico do que o anterior, The Last Ship, de 2013, e mais roqueiro. Como ele representa a sua versão de 2016/2017?  Eu vejo canções pessoais, como essa última que acabamos de tratar. Outras nem tanto. É um disco menos pessoal, mas que trata de questões que são importantes para mim, como a mudança climática ou a falta de moralidade. No ano passado, chegamos ao recorde de calor no globo. Pessoas dizem que isso não existe. Nós somos responsáveis por isso! 

A sua agenda, pelo o que vi, está cheia até julho deste ano. Ouço músicos reclamarem de passar tanto tempo na estrada.  Para mim, é revigorante. Não acho que uma turnê longa como essa veio do nada. Trabalhei duro e é um privilégio alcançar esse nível. Turnês são difíceis, mas me ajudam a sentir vivo. 

FOTOS: 10 curiosidades sobre Sting, que faz show em São Paulo em maio

Curioso tocar nesse assunto. O disco traz, entre os temas, a morte. São várias reflexões sobre a mortalidade. Uma das músicas, 50.000, é um tributo a Prince e David Bowie, não?  No ano passado, perdemos grandes ícones culturais. Todos falavam sobre como isso era pouco comum. Quando ícones dessa grandeza morrem, percebemos o quanto somos pequenos. David Bowie morreu, entende? Prince idem. Como isso? Ficamos surpresos. Temos uma noção ainda maior da nossa mortalidade. 

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Você sente isso também?  Claro. Todos nós, infelizmente, somos mortais. E isso acontece. É importante aceitar que isso, a morte, chegará para todos em algum momento. É bom entender que não há tempo sobrando. Isso é algo a ser levado como uma filosofia de vida. Não quero ser mórbido, pelo contrário: a noção da proximidade da morte deixa a vida inteira mais rica. 

Você chegou a pensar que, agora, a esquina que dá nome ao disco ficará ainda mais cheia, a partir de agora, com curiosos e fãs? Eu mesmo devo passar lá na próxima visita à cidade. (Risos) Acho que sim. Mas é um lugar já bastante movimentado. Quando estiver por ali, aproveite para comer em um restaurante grego de lá chamado Morning Star. 

Mas é muito caro? Convenhamos, o salário de um jornalista é bastante diferente do dinheiro de um rockstar.  Não se preocupe! Eles são baratos, é um preço de almoço justo. Quando estiver por lá, diga a eles que foi o Sting que lhe indicou o lugar. Pode ajudar. 

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STING  Allianz Parque – Anfiteatro.  Avenida Francisco Matarazzo, 1705, Água Branca. Show dia 6 de maio, 21h. R$ 300 / R$ 850.

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