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Springsteen se une aos Stones em show relaxado no Rock in Rio Lisboa

Lendas do rock se apresentam em clima de festa no festival

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

 “Gostaria de dar as boas-vindas ao sr. Bruce Springsteen.” Essa foi a senha, na madrugada desta sexta-feira, em Lisboa, para um encontro de dois gigantes lendários da música nesse conturbado ano (seja política ou economicamente, seja em termos de humanismo). Para os fãs do rock, foi uma dádiva. Bruce Springsteen tocando e cantando com os Stones em Tumbling Dice, correndo com sua guitarra nas costas pela passarela, sorrindo no meio de 90 mil pessoas ao lado de Mick Jagger: tudo parecia um roteiro inacreditável. 

Correndo no palco do Rock in Rio Lisboa, Bruce Springsteen tocou e cantou "Tumbling Dice" ao lado de Mick Jagger Foto: José Sena Goulão/EFE

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Mas havia mais. Mais adiante, Mick recebeu no palco, sem aviso prévio, novo rotundo convidado, o ex-integrante da banda Mick Taylor, outra instituição da guitarra (integrou os Bluesbreakers de John Mayall e foi um dos Stones entre 1969 e 1974, após a morte de Brian Jones). A primeira entrada de Taylor foi uma participação modesta, pouco reverente. Mas o guitarrista voltaria para o bis final, com o set matador de Sympathy for the Devil, Brown Sugar, You Can’t Always Get What You Want e ainda Satisfaction.

Gary Clark Jr. que fizera show na abertura, também foi chamado ao palco e tocou e cantou com os Stones em Respectable (do disco Some Girls, de 1978). A pegada hendrixiana de Clark dava uma nova eletricidade à canção, uma das boas surpresas do repertório. 

Em clima de festa, sem o peso da megaturnê, os Stones permitiram-se improvisos de todo o tipo. “Portugal vai ganhar a Copa do Mundo. A final será Portugal e Inglaterra,” previu Mick Jagger, notório pé-frio – o que não projeta um destino brilhante para os seus anfitriões.

Os Stones pareciam relaxados, quase em férias. Wood tocava guitarra com o cigarro aceso na mão. De piadas sutis de Keith Richards (“It’s nice to be here. It’s nice to be anywhere”, ou “É legal estar aqui. É legal estar em qualquer lugar”) a chistes em português de Jagger (“Ronnie, onde arranjastes esses sapatos?”), transcorria o show num clima cool. Mas com mais entusiasmo e entrega do que apresentações anteriores, como na vigorosa pegada gospel que imprimiram a Out of Control, com um solo de gaita e uma corrida desenfreada de Mick pela passarela até o meio do público.

Richards, usando uma bandeira de Portugal enrolada como uma bandana, cantou duas músicas: You Got the Silver (com slide guitar de Ron Wood) e Can’t Be Seen. Sua reverência respeitosa aos gêneros originadores do rock, do velho rhythm’n’blues ao blues e ao delta do Mississippi, é tocante e é esse combustível que inflama os melhores momentos do show, a antiga pegada suja dos Stones turbinando os ritmos fundadores. A plateia dos Stones, habitualmente veterana, estava coalhada de “miúdos”, jovens de todas as idades. Estavam ali desde o ex-presidente norte-americano Bill Clinton até astros da TV brasileira, como Thiago Fragoso.

Forma física estupenda demonstraram os septuagenários, que suaram a camisa desde Jumpin’ Jack Flash, a primeira música, passando por It’s Only Rock’n’Roll, Live with Me e Tumbling Dice (esta com o Boss como visita chique) até a vigorosíssima Doom and Gloom e uma versão demolidora de Midnight Rambler. Algumas foram presentes generosos, como Wild Horses. “Que público maravilhosa”, disse Mick, no seu português canhestro. Ele e Keith Richards não deram grandes demonstrações de afeto em público, e nem mesmo fizeram duelos amistosos. Pareciam estar em duas esferas distintas.

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Na abertura, os shows de Xutos & Pontapés, decano grupo português, e de Gary Clark Jr. foram apenas um pontilhado de açúcar de confeiteiro no bolo de três andares dos Stones. Os Xutos limaram o repertório e ofertaram mais punk rock do que baladas em seu set, privilegiando em 15 músicas o lado Ramones ao dos rocks radiofônicos com saxofone.

Clark Jr., vestido como caubói de filme do Spike Lee, passeou por Albert Collins (If Trouble was Money), B.B. King (Three O’Clock Blues) e, claro, Jimi Hendrix, seu modelo maior. Mas sua identidade parece estar se fortalecendo, e apesar de abrir com Hendrix, Catfish Blues, ele aprimorou sua proposta de redimensionamento da guitarra e dos improvisos, e é hoje um dos mais originais artistas do seu instrumento.

O Rock in Rio Lisboa prossegue na sexta com shows também muito aguardados, como o Queens of the Stone Age e Linkin Park (um dos shows mais pedidos pelos portugueses), além dos brasileiros do Capital Inicial. Tem ainda Arcade Fire e Lorde hoje, e tudo acaba no domingo com Jessie J. e Justin Timberlake.

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