SP cai no samba-rock do Trio Mocotó

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Por Agencia Estado
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O samba-rock de Fritz Escovão, João Parahyba e Nereu Gargalo, o Trio Mocotó, de fato, sustenta a retomada do gênero, criado no fim dos anos 60, sob a vigilância esquizofrênica do regime militar e dos olhares dos patrulheiros da MPB engajada. Em pleno vigor criativo, o conjunto, formado na famosa boate Jogral, em 1968, apresenta-se nesta quarta-feira na Choperia do Sesc Pompéia. Desde o princípio, o samba-rock é música impura. Isso não é demérito. Por meio da visão de Jorge Ben, do trio, de César Camargo Mariano, Wilson Simonal, Tim Maia, Roberto e Erasmo e outros, o samba foi relido - nem melhorado nem piorado. Ganhou, na ocasião, o frescor do jazz, do blues e do soul norte-americano, através das suas harmonias e letras ingênuas, sem conteúdo contestatório. A mistura, que teve outros ingredientes autorais e particulares, resultou numa música atraente e suingada, nomeada de samba-rock. Hoje, samba-rock é tendência musical no País. "Parece que ele se encaixou direitinho nos desejos da nova geração, que trabalha com grooves, que tem uma preocupação maior com a música do que com a palavra", analisa Parahyba, referindo-se à talentosa geração de DJs, como Patife, Dolores e Max de Castro. "O samba-rock foi resgatado e projetado na mídia, mas nunca deixou de existir; e manteve-se recluso e criativo nos subúrbios justamente porque sempre esteve nesses locais, sempre foi música de aceitação e de consumo nas periferias. Hoje, encontra espaço no meio universitário, justamente por não sofrer mais preconceito. Acho que isso é um grande passo de conscientização política: não ter preconceito." João Parahyba conta que o Pasquim foi um dos poucos veículos de comunicação a valorizar o samba-rock, especialmente, o do Trio Mocotó. Entretanto, o samba-rock também é modismo. O interessante é que ele está sendo bancado por vias alternativas, como os selos independentes. E o trio, certamente, não está entre os grupos que logo mais desaparecerão. Não só porque ele é composto por excelentes instrumentistas, mas também porque esses sabem dialogar com o novo, no caso, algo da tecnologia da música popular eletrônica. No novo disco, lançado recentemente pelos selo YB e Net Records (inovador no mercado fonográfico por distribuir CDs em bancas de jornais), Samba Rock, o conjunto utilizou esses efeitos, subvertendo a eletrônica a seu favor. O show ainda não usa essa instrumentação, porque, segundo Parahyba, o trio é muito perfeccionista e acredita não estar com essa novidade no ponto certo para o palco. O trio também tem antenas para o rap e no roteiro do show e do disco inclui a participação despretensiosa do MC Max B.O, do grupo Academia Brasileira de Rimas, fazendo um freestyle na música Kibe Kru. João Parahyba informa que o espetáculo de amanhã vai dar atenção especial aos clássicos do grupo, como Palomares, Aleluia, Aleluia e Não Adianta. O show será também o primeiro momento em que o videoclipe do trio, dirigido por Mauro Lima, será exibido em público. No palco, Fritz toca violão, cuíca e faz a voz principal. Nereu Gargalo suinga com o pandeiro (e também canta) e João Parahyba marca o ritmo com toda a percussão (e também canta). O trio será acompanhado pelos músicos Luiz Dumont (guitarra), Roberto Lazzarini (teclados), Gilberto Pinto (baixo), Alcides Oliveira (percussão), Cláudio Zicciato (bateria), Paulo Oliveira (sax), Carlos Alberto (sax tenor), Jericó (trompete) e as vocalistas Vera Lúcia de Menezes e Juliana Lourenço. Trio Mocotó. Amanhã (03), às 21 horas. De R$ 7,50 a R$ 15,00. Choperia do Sesc Pompéia. Rua Clélia, 93, tel. 3871-7700.

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