Sony lança pacote com 24 CDs da Jovem Guarda

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Por Agencia Estado
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Não se trata do mainstream da Jovem Guarda. Não tem Roberto nem Erasmo aqui, mas The Youngsters, Trio Melodia, Robert Livi, José Roberto, Pedro Paulo e outros esquecidos. E também Wanderléa e Jerry Adriani, mais célebres. A data também não é uma efeméride respeitável - 35 anos da Jovem Guarda. Parece mesmo apenas uma desova de arquivo da Sony Music. Mas o fato é que o pacote 2 por Um da gravadora reúne 24 volumes, todos com discos duplos, além de faixas-bônus que ajudam a fazer a arqueologia sonora daquelas jovens tardes de domingo. Alguns desses CDs só estão no mercado de novo por generosidade de alguns colecionadores, como Valdir de Almeida Siqueira e Luiz Antonio Cardoso Martins, que cederam suas capas originais para a Sony Music. Os melhores discos são de fato os mais prováveis, como os oito CDs de Renato e Seus Blue Caps. Estão ali desde Viva a Juventude, gravado em janeiro de 1965 pela gangue de Renato Barros, até Renato e Seus Blue Caps, gravado em agosto de 1971. Esse primeiro disco de Renato e Seus Blue Caps, Viva a Juventude, é totalmente decalcado dos Beatles, com o iê-iê-iê de Negro Gato (Getúlio Cortes) e o megassucesso Menina Linda, versão de I Should Have Know Better, de Lennon e McCartney. Há outras duas versões dos Beatles aqui: Garota Malvada (I Call Your Name) e Sou Feliz Dançando com Você (I´m so Happy just To Dance with You). "Aqueles anos representaram muito para mim, musicalmente; politicamente não", lembrou Renato Barros, em depoimento no livro No Embalo da Jovem Guarda, de Ricardo Pugialli (Ampersand Editora). "Em 64 eu estava servindo no Exército, no Regimento Sampaio; era engraçado eu, cheio de rock na cabeça, de cassetete na mão fazendo segurança em porta de trem na Central do Brasil", ele conta. Esse divórcio entre música e realidade, entre política e guitarra, entre ser jovem e ser maduro, era a grande marca da música que se fez naquela época. O disco que marca a gênese dessa geração é inacreditável: Sergio Murilo, gravado em novembro de 1959 com a orquestra do maestro Lyrio Panicalli. Murilo canta nesse seu primeiro disco versões de Paul Anka, Neil Sedaka e outros astros do incipiente rock´n´roll, mas também se arrisca em interpretações pessoais de duas composições de Edison Borges. "Sergio Murilo não é somente cantor de rocks e baladas mas também de música popular brasileira", dizia o texto no encarte, anunciando o novo astro. Em 1959, já havia a preocupação em não gerar uma legião de clones musicais. Com uma voz inusual, de moleque afinado à beira da adolescência, Sergio Murilo Moreira Rosa, carioca do Catete, barbariza estabelecendo-se entre o crooner de baile, discípulo de Frank Sinatra e o bossa-novista renitente. Chegou a ser ídolo - pasmem - no Peru, onde provocou confusão de fãs na rua. O outro disco dele no pacote, Novamente Sergio Murilo, traz o cantor com acompanhamento de Bob Rose e seu conjunto, aí já muito mais na onda do rock´n´roll e do twist, em janeiro de 1961. Pacote - Entre os mais bizarros do pacote estão dois discos do The Youngsters, gravados em 1963 e 1964. Twist only Twist, como o nome diz, só traz músicas do gênero - mas boa parte em espanhol (embora sejam faixas predominantemente instrumentais). Bienvenido Amor abre com um canto de canarinhos, seguido de solos de trompete e saxofone. Wanderléa Salim, a Ternurinha, mineira de Governador Valadares, comparece com seis discos. Num deles, Wanderléa, gravado em janeiro de 1963, ela tinha apenas 17 anos. O Velho Turco, seu pai, ainda proibia que ela fosse a programas de auditório, na época. Era a Christina Aguilera dos anos 60, muito mais do que uma Sandy. Entre as faixas dessa antigüidade, está uma inacreditável chamada Picada da Pulguinha, de Gilberto Lima e Dora Lopes. "Uma pulguinha me mordeu na orelha", canta a Ternurinha. "Eu fiquei louca quando olhei no espelho". Jerry Adriani tem dez CDs relançados. O cantor Jair Alves de Souza, nascido no Tatuapé, foi um dos rebeldes da Jovem Guarda. Filho de operários, foi iniciado no meio musical pela avó, que o ensinava a cantar em italiano - portanto, não foi uma novidade seu disco interpretando Renato Russo na língua de Dante. Antes mesmo, em 1964, ele já tinha gravado dois em italiano: Italianíssimo e Credi a Me. Também só tinha 17 anos, o pirralho. "Já chorei de raiva, tristeza e de alegria, sou muito supersticioso e ando sempre com meu amuleto", dizia Sergio Murilo a uma revista de variedades em setembro de 1965. "Farei tudo para ser jovem de espírito no ano 2000", anunciava. O espírito da Jovem Guarda parece um tanto perdido no ano 2000, mas ninguém pode contestar-lhe o pioneirismo e o entusiasmo histórico. Coleção Jovem Guarda. 24 CDs duplos com capas originais. Sony Music. Preço médio do CD: R$ 24,00.

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