Sinfônica de SP executa as favoritas do público

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Por Agencia Estado
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Um experiente maestro e uma meio-soprano em ascensão no cenário lírico mundial abrem, nos dias 29 e 31, a temporada 2001 da Associação dos Patronos do Teatro Municipal. O austríaco Julius Rudel comandará a Orquestra Sinfônica Municipal e o Coral Lírico Municipal nos dois recitais da norte-americana Denyce Graves, que vai interpretar trechos de óperas de compositores como Bizet, Saint-Saëns, Mascagni, Massenet e Poulenc. Os trechos a serem apresentados - Habanera, da Carmen, Mon Coeur Souvre a ta Voix, de Sansão e Dalila, Voi lo Sapete, da Cavalleria Rusticana, por exemplo, - são alguns dos favoritos de platéias de todo o mundo. Segundo Rudel, trata-se de um programa bem balanceado. "A escolha das peças respeitou uma unidade e o balanço é bastante interessante", diz. Para ele, apesar de as peças serem bastante conhecidas e executadas mundo afora, é sempre possível manter frescor e originalidade a cada interpretação. Razão pela qual, aliás, em sua opinião, a ópera sobreviveu tanto tempo. "Cada cantor traz algo de novo e é isso que torna a ópera interessante. São as variações que trazem a verdade e a beleza à música." Denyce Graves, que despontou no cenário internacional ao interpretar Carmen e Dalila, diz concordar com o maestro. Ela afirma que papéis como Carmen e Dalila vão sempre impor ao intérprete novas possibilidades e que o mundo atual da ópera exige cada vez mais dos cantores respostas a esses questionamentos. "Em especial nos Estados Unidos, os teatros e o público estão atrás do cantor que arrisca mais, leva a interpretação a sério, assume um compromisso com o seu personagem", indica. Nesse contexto, Denyce acredita que a interpretação é um dos fatores decisivos. "Quando o público assiste a uma montagem de Carmen, ele quer ver alguém que se pareça com Carmen, que saiba recriar sua personalidade. As pessoas querem ver o que estão ouvindo, o que o libreto." No entanto, a meio-soprano faz questão de ressaltar que cabe ao cantor encontrar um balanço entre o aspecto dramático e a técnica musical. Explica-se: "É preciso encontrar um nível de balanço confortável e entender que, algumas vezes, é necessário sacrificar um dos lados. Por exemplo, quando canto a ária de Dalila - Mon Coeur S´ouvre a ta Voix -, preciso dizer ao diretor que não quero correr, andar, fazer piruetas no palco. É uma ária conhecida e as pessoas esperam que ela seja bem cantada, o que importa ali é cantar o mais bonito possível." Esse balanço, ressalta Rudel, nem sempre é atingido, o que não necessariamente significa que o canto de ópera se encontra em um momento de crise, uma espécie de anomia apontada até por alguns cantores, como a soprano Aprile Milo que, em recente entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, falava da inexistência de cantores "como os do passado". "É comum olharmos para o passado com uma certa nostalgia, mas é preciso lembrar que há 50 anos as pessoas olhavam os cantores e chegavam às mesmas conclusões a que chegamos hoje", explica o maestro. O mesmo, em sua opinião, pode ser dito em relação a algumas óperas. Maestro acostumado a reger estréias de óperas em todo o mundo, ele rebate críticas ao novo repertório - pouco aceito pelos principais teatros do mundo, inclusive no Brasil -, lembrando que nem sempre o antigo consegue manter o interesse do público. "Milhares de óperas já foram escritas, mas quantas restaram no repertório? Duzentas?" Não é só na escolha do repertório que Rudel se mostra um maestro moderno. Quando completou seus estudos em Nova York (ele e sua família deixaram a Áustria natal fugindo dos Exércitos de Hitler), logo começou a trabalhar na New York City Opera que, na época, ainda estava em processo de formação. Após alguns anos, tornou-se diretor da companhia, cargo que ocupou durante 37 anos. Nesse período, aprendeu mais do que fazer música. "Nova York é uma cidade difícil. A população tem acesso a grandes eventos culturais toda semana: grandes orquestras, cantores, companhias de ópera. E isso faz com que ela exija, sempre, o melhor", explica. "Assim, nessa busca pela qualidade, aprendi a entender e participar de todos os passos de uma produção, desde a confecção de cenários e figurinos, escolha de elenco, direção cênica, até o marketing e a melhor maneira de "vender" uma apresentação", lembra. Esse trabalho não passou despercebido pela cidade: a data de aniversário do maestro, hoje com 80 anos, faz parte de seu calendário oficial. Facilmente encontrado regendo tanto nos Estados Unidos como na Europa, Rudel aponta diferenças, em sua opinião, decisivas, na maneira de fazer ópera nos dois pólos. "Na Europa, você lida com uma tradição muito maior, o que, se por um lado ajuda, por outro traz conseqüências ruins para o trabalho. Uma dessas conseqüências aparece em decorrência do tipo de gestão administrativa que, a seu ver, tem influência direta no processo de criação artística. "O sistema de gestão estatal de orquestras muitas vezes transforma artistas em funcionários públicos que, por terem uma segurança maior, não encontram espaço para a inovação, a experimentação." Aliás, segundo Rudel e Denyce, parece ser esse o caminho para a ópera no início do século 21, quando, mais do que nunca, o gênero compete com um grande número de outras mídias. "É preciso ter sempre algo novo a dizer, sempre com originalidade" observa o maestro. E Denyce completa. "A ópera persiste em momentos no qual os intérpretes têm a liberdade para explorar ao máximo o envolvimento com o personagem, podendo buscar fórmulas originais de dizer o que precisa ser dito. É como quando canto, por exemplo, com tenores como Placido Domingo ou José Cura: são cantores que sabem o que fazer no palco, acreditam que a ópera pode e deve ser algo real e fazem todo o possível para que ela seja."

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