Sinfônica de Praga apresenta-se em SP

Sob a direção do maestro Jiri Belohlávek, concerto vai destacar a música checa, terça e quarta, na Sala São Paulo

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Por Agencia Estado
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Após a apresentação da Orquestra Filarmônica Checa em abril deste ano no Teatro Alfa, os músicos checos estão de volta a São Paulo. Agora é a vez da Orquestra Sinfônica de Praga, sob a direção do maestro Jiri Belohlávek, apresentar-se na Sala São Paulo nesta terça e quarta-feira, dentro da programação da Sociedade de Cultura Artística. A diferença entre os dois concertos não está apenas na tradição e na história dos dois grupos, mas, principalmente, nos programas das apresentações. Enquanto a Filarmônica Checa fez concertos com peças de Beethoven, Mendelssohn, Sibelius e Dvorak a Sinfônica de Praga fará concertos dedicados em grande parte à música checa. Amanhã, o grupo abre o concerto com O Rio Moldávia, de Bedrich Smetana. Na seqüência, toca o poema sinfônico Bruxa do Meio-Dia, de Dvorak, e a Sinfonia n.º 4, de Bohuslav Martinu. Encerram o programa o Concerto para Piano e Orquestra n.º 2, de Liszt, que contará com os solos do pianista húngaro Dezsö Ranki. Na quarta-feira, dá início ao concerto a Abertura Carnival, de Dvorak, à qual se seguem o Concerto para Piano e Orquestra n.º 2, de Brahms (com solos de Ranki), e a Sinfonia n.º 8, de Dvorak (pela terceira vez, neste ano, na programação de uma orquestra que visita o País). "O programa é sempre fruto de discussões e acertos com quem está patrocinando o concerto, mas estou bastante feliz de poder mostrar um pouco da música checa", confessa o maestro Belohlávek em entrevista pelo telefone de Buenos Aires, onde a orquestra se apresentou antes de vir ao Brasil. "É muito bom tocar Martinu quando se sabe que o seu trabalho não é muito conhecido e acredito que a peça que escolhemos mostra o compositor em sua melhor forma." Para o maestro, o compositor, apesar de sua vida difícil e de sua complicada relação com seu país natal, sempre teve como base de trabalho os ritmos e o universo checo. "Ele compõe de uma forma em que condensa todos os estilos e períodos sem, no entanto, perder o colorido checo." Da mesma forma, o maestro mostra-se satisfeito com as peças de Dvorak escolhidas para as apresentações. "A Sinfonia n.º 8 é bastante conhecida e popular, mas a A Bruxa do Meio-Dia, um poema sinfônico baseado na poesia checa, é pouco tocada, apesar de ser excelente." Nacionalismo - A escolha do programa está, de certa forma, em harmonia com o trabalho de Belohlávek, que tem dedicado grande parte da carreira ao repertório de seu país. "É bastante natural que eu inclua muita música checa em meu repertório", afirma o maestro que ressalta, no entanto, ser contra nacionalismos exacerbados que partam da exclusão. "Em meu trabalho, o que me preocupa é criar um balanço entre o repertório checo e não checo." Ex-aluno de Sergiu Celibidache, Belohlávek tem seu nome associado constantemente à ópera, tendo, nas últimas temporadas, regido produções de Jenufa, de Janácek, Rusalka, de Dvorak, Carmen, de Bizet, e Così Fan Tutte, de Mozart, no Teatro Nacional de Praga e em importantes centros do gênero na Europa, como o Glyndebourne Festival Opera. Em seu currículo também estão apresentações ao lado de orquestras como a da BBC de Londres, a Sinfônica de Berlim, a Filarmônica de Londres e a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig. Belohlávek foi diretor artístico da Sinfônica de Praga de 1977 a 1989, tornando-se alguns anos mais tarde diretor musical da Orquestra Filarmônica Checa, atualmente dirigida por Vladimir Ashkenazy. Criada em 1934, a Sinfônica de Praga tinha seus objetivos simbolizados no acrônimo FOK (Film, Opera e Koncert). Essa multiplicidade, segundo Belohlávek, surgiu em consonância com a época em que o grupo foi criado. "Naqueles tempos, a versatilidade, ou seja, a capacidade de trabalhar em diferentes estilos, era a única forma de garantir o interesse do público e a sobrevivência de um grupo orquestral", lembra. "Dez anos mais tarde, no entanto, isso já não era tão importante e a orquestra acabou firmando-se como intérprete de música de concerto e ópera." Face ao desprestígio da música orquestral e da complicada situação dos músicos na República Checa atualmente, Belohlávek acredita que essa fórmula não é a mais adequada. "Fazendo trilhas de filmes e coisas do tipo pode ser que consigamos atrair um número maior de jovens, mas isso não resolveria o problema", indica. Para ele, a solução está na educação. "É com desespero que acompanhamos o desaparecimento da educação musical das escolas, o que, a longo prazo, só colabora para agravar a situação." Investimento privado - O problema é velho conhecido dos músicos brasileiros. "É importante ressaltar que o governo tem investido, mas, se o público não for aos concertos, o problema financeiro fará com que os músicos tenham de procurar outros empregos e a qualidade artística pode acabar sendo reduzida." A saída? "É difícil dizer, pois essa prática ainda é muito restrita, mas a presença da iniciativa privada pode ser uma solução interessante." Orquestra Sinfônica de Praga - Sala São Paulo. Praça Júlio Prestes, s/n.º, tel. 3351-8000. Terça e quarta, às 21 horas. De R$ 90,00 a R$ 200,00.

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