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Sinfônica de Colônia inicia no Rio sua miniturnê

Mahler é um dos principais destaques entre os compositores que estão nos programas da orquestra no Rio, em São Paulo e em Santos. Mas, serão apresentadas ainda composições de Wagner, Brahms, Strauss, entre outros

Por Agencia Estado
Atualização:

A WDR Sinfonie-Orchester Koln (Orquestra Sinfônica de Colônia), ligada atualmente à Rádio Ocidental Alemã, inicia sexta-feira, no Teatro Municipal do Rio, sua primeira turnê pelo Brasil. Comandada por seu regente titular Semion Bichkov, a orquestra apresenta-se também em São Paulo (domingo, segunda e terça) e em Santos (quarta-feira). O programa das apresentações, no entanto, não é composto apenas pela obra de Mahler. Na verdade, o primeiro concerto que o grupo fará em São Paulo - domingo, às 11 horas no Parque do Ibirapuera, com co-patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura - é uma mistura de períodos e estilos, traduzida na escolha de algumas das mais populares peças sinfônicas do repertório. A orquestra inicia o concerto com a célebre abertura da ópera Os Mestres Cantores de Nuremberg, de Richard Wagner, que será seguida pelo Intermezzo da Cavalleria Rusticana, ópera do italiano Pietro Mascagni. Na seqüência, novamente Wagner, agora com a Cavalgada das Valquírias, trecho famoso extraído da ópera As Valquírias, a segunda da tetralogia O Anel dos Nibelungos. Brahms aparece em seguida, com a Dança Húngara em Sol Menor. De Berlioz, o grupo executa, então, a Marcha Húngara da ópera A Danação de Fausto. Um breve intervalo e a orquestra volta com a Dança Eslava, de Dvorak, a abertura da ópera Russian e Ludmilla, de Glinka, a Valsa do Imperador e a Tritsch-Trasch Polka, de Strauss, o Can-Can da opereta Orfeu no Inferno, de Offenbach, e a Marcha Pompa e Circunstância, talvez a mais conhecida peça do inglês Edward Elgar. No bis, mais do compositor vienense Johann Strauss: a polka Raios e Trovões e a Marcha Radetzky. Se nesses pouco mais de 60 minutos de viagem por diferentes estilos e gêneros musicais o grupo poderá mostrar um pouco da diversidade de peças presentes em seu reperório, é nos demais concertos que o público terá uma impressão mais precisa de seu potencial. Na segunda, a Sinfônica de Colônia abre a apresentação com o Concerto Para Piano e Orquestra n.º 3 de Beethoven, a que se segue o poema sinfônico Uma Vida de Herói, de Richard Strauss. O solista será o pianista russo Lev Alexander Vinocour. Na terça, além do concerto de Beethoven, aparece no programa a Sinfonia n.º 5 de Mahler. Na quarta, em Santos, a orquestra repete o programa de segunda. Na opinião do maestro Bichkov, o programa, apesar de não ter sido totalmente escolhido pela orquestra - como de costume, a entidade que promove o concerto interferiu na escolha - , ele mostra um pouco do que tem sido o trabalho da orquestra durante seus pouco mais de 50 anos de existência após a 2.ª Guerra. "Vale dizer que essas são peças capazes de mostrar porque a música é um dos maiores bens da humanidade e, além disso, são obras bastante próximas desta orquestra, que ajudaram a criar a nossa identidade musical", afirmou o maestro - que assumiu o cargo de regente titular do grupo no segundo semestre de 1997 - em entrevista. Dentre a numerosa quantidade de peças escolhidas para as apresentações, a presença das de Mahler é um dos principais destaques. Com os concertos da Orquestra de Colônia, o público paulistano terá tido a oportunidade de, em dois anos, ouvir em suas salas de concertos oito das 10 sinfonias do compositor austríaco, na interpretação de orquestras como as Sinfônicas do Estado de São Paulo, de Chicago e da Filarmônica de Berlim (apenas a 8.ª e a 10.ª sinfonias ficam de fora da lista). O relacionamento de Bichkov com a obra de Mahler é antigo. Ele contava apenas 9 anos de idade e estudava música na Glinka Choir School, em Leningrado, quando ouviu pela primeira vez uma peça do compositor. "Nossa escola ficava na sede da Filarmônica de Leningrado e, durante os intervalos, escapávamos para a sala de concertos para ver a orquestra ensaiar." Em uma dessas escapadas, o jovem estudante ficou fascinado pelo que ouviu. "Acabou o intervalo, mas não consegui voltar para a aula, fiquei vendo o ensaio e, até hoje, consigo lembrar do maestro regendo as cordas em uma melodia incrível." Mais tarde, Bichkov descobriria que se tratava do final da Sinfonia n.º 3. "Quando se tem um primeiro contato com um compositor de maneira incrivelmente bonita e sadia, a sensação é capaz de durar pela a vida toda." Para o maestro, a genialidade de Mahler residia na sua capacidade de compreender e reproduzir os sentimentos humanos. "O universo de Mahler é de uma complexidade enorme, suas composições contêm um mundo inteiro, reproduzem uma sensação de proximidade das dificuldades e belezas da existência humana." No que diz respeito à Sinfonia n.º 5, que ele não considera a mais popular do compositor - apesar da projeção alcançada com a inclusão na trilha do filme Morte em Veneza, de Luchino Visconti -, Bichkov acredita que essas características estão bastante presentes. "Ele escreve sobre o ciclo de uma vida, seu tema é fascinante", indica o maestro, que discorda da visão que muitos têm sobre a peça. "Até pela maneira como é usada no filme, muitos acham que a Quinta Sinfonia é quase uma música fúnebre, o que não é verdade: o adagietto foi escrito como uma espécie de carta de amor musical, para aquela que viria ser sua esposa, Alma." O adagietto, aliás, é um dos momentos em que se evidencia a presença de múltiplas possibilidades de interpretação musical. "Há notícias de que, quando Mahler regia a peça, este movimento durava entre oito e nove minutos mas, hoje, em algumas interpretações, ele chega a durar até 15 minutos." Perguntado sobre uma possível maneira ideal de interpretação, Bichkov diz que o mais importante é compreender o significado daquilo que está sendo tocado. "Não dá para tocar Mahler sem compreender o que está por trás das notas." Mas, não basta só isso para se fazer um "Mahler como dever ser feito". Bichkov aponta outros três elementos. "Em primeiro lugar, não se toca Mahler sem antes conseguir fazer bem compositores como Mozart e Beethoven". Depois, é preciso ter técnica. "Suas peças são bastante complicadas tecnicamente, o que exige instrumentistas capazes de encarar as dificuldades colocadas pelo compositor." Por fim, tempo. "Assim como em qualquer grande peça do repertório, é preciso tempo para que haja identificação entre os músicos e a música." WDR Köln. Regência de Semion Bichkov. Participação do pianista Lev Alexander Vinocour. Concertos dia 19, às 11 horas. Grátis. Parque do Ibirapuera. Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n.º; dias 20 e 21, às 21 horas. Sala São Paulo. De R$ 75,00 a R$ 170,00. Ingressos à venda na bilheteria da Sala São Paulo. Praça Júlio Prestes, s/n.º, tel. 3351-8000 e no Mozarteum Brasileiro. Avenida Brigadeiro Faria Lima, 1.811, conjunto 1.021, tel. 3815-6377

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