Sinfonia presta homenagem definitiva ao Rio

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Por Agencia Estado
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Na quinta-feira o Rio ganhará um presente de Natal. Quem o dará: Francis Hime, Ricardo Cravo Albim e mais setenta músicos, entre coro e integrantes da Orquestra Sinfônica Brasileira. Às 20h30 do dia 30, a Sinfonia do Rio será executada no Teatro Municipal para cerca de 2 mil convidados, que poderão conferir o trabalho que marca o retorno de Francis Hime à música sinfônica, em apresentação única. De volta de uma sessão de acupuntura, Francis disse à Agência Estado que está feliz em retomar a batuta e reger uma orquestra, aceitando alegremente as dores que os ensaios vêm provocando em sua coluna. Para ele, o shiatsu e a acupuntura resolvem. Ele parece satisfeito com os resultados de um trabalho que se prolonga há um ano e meio. O crítico e estudioso de música brasleira Ricardo Cravo Albim foi quem teve a idéia de prestar uma homenagem definitiva ao Rio com uma sinfonia. "Me entusiasmei com a idéia de fazer cinco movimentos, um para cada período da história da cidade", diz Francis, que compôs toda a sinfonia e delegou a Paulo Cesar Pinheiro e Geraldo Carneiro a feitura das letras. Entre a abertura e o gran finale, cinco composições retratam, seguidamente, a Colônia, o Império, a Primeira República, a Época de Ouro e as décadas de 50 e 60. Para cada um dos períodos, Francis trabalhou um ritmo correspondente e convidou alguém para cantá-los. Assim, a colônia terá um Lundu, cantado por Lenine, o Império virá através da Modinha cantada por Zé Renato. A Primeira República será feita de Choro, com voz de Leila Pinheiro, enquanto a Época de Ouro, do Samba, será cantada por Olivia Hime. No quinto movimento, as décadas dourada e rebelde de 50 e 60 serão representadas pela Canção Brasileira, cantada por Sergio Santos. No final, todos os cantores se reúnem no palco para um mosaico musical que refaz a sinfonia para então concluí-la. Para uma sinfonia feita durante mais de um ano, que conta com a Orquestra Sinfônica Brasileira e um núcleo popular dentro dela com direito a pandeiro, cuíca e tamborim, e um time de cantores de primeira linha, uma única apresentação é, sem dúvida, pouco. Mas Francis Hime informa que a Sinfonia do Rio deverá ser adotada pelo governo do Estado como música oficial da capital, o que significa que será executada com regularidade daqui por diante. "Além disso, estaremos no Municipal gravando o CD da Sinfonia no dia seguinte à apresentação", conta Francis. O disco deve sair em março de 2001. Uma onda de opiniões já tratou de alçar a Sinfonia do Rio à condição de hino carioca. Seu compositor, modesto, gentilmente declina: "pode ser um hino entre todos os outros que a cidade já tem", afirma. "Ricardo (Cravo Albim) quis fazer uma abordagem histórica do Rio de Janeiro pela música, mas sem critérios rígidos", diz Francis, "os cantores e letristas retrataram as épocas a seu modo". Os letristas são um capítulo à parte. Tanto Paulo César Pinheiro como Geraldo Carneiro são parceiros de longa data de Francis Hime. A escolha foi feita, sem dúvida, com base nas afinidades compartilhadas pelos três amigos. "Mostrava para eles o que já tinha composto, eles propunham letras, mas aí mudava a música e eles refaziam as letras", diz Francis, "e mudou muito até chegarmos aqui". Paulo César Pinheiro ficou com os movimentos da Modinha, Choro, Samba e a Canção Brasileira. Geraldo Carneiro teve a difícil incumbência de escrever para o Lundu, além de fazer a abertura e o final da Sinfonia. "Nossa intimidade é muito grande, isso nos permite um diálogo aberto sobre o trabalho", diz Francis, referindo-se a seus dois letristas. Francis Hime quase se tornou um músico exclusivamente erudito. Estudou na Suíça quando jovem e compôs para orquestra até voltar ao Brasil e encontrar Chico Buarque e Vinícius de Moraes, entre muitos outros parceiros que veio a ter. Essas amizades foram, certamente, definidoras de um gosto pelo popular que Francis agora expressa. "Essa é a primeira sinfonia popular bem elaborada, acho que o popular e o erudito se unem", diz Francis. Ele se rebela contra a idéia de que a maior parte da população não aprecia a música sofisticada: "isso tudo é muito embaralhado, as pessoas gostam sim, e muito". Com a apresentação de quinta e a gravação que fará na sexta, Francis Hime dá por concluída a Sinfonia do Rio, sua mais recente realização, fruto de muitas parcerias, que dura 50 minutos. A cidade, já tão cantada e homenageada, ganha mais essa para o acervo. E a temporada para convidados, de apenas uma apresentação, promete ser compensada com agendas como aniversário da cidade e recepções a chefes de Estado.

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