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Simonal é enterrado em São Paulo

Por Agencia Estado
Atualização:

O cantor Wilson Simonal foi enterrado nesta segunda-feira no cemitério do Morumbi, em São Paulo. Ele morreu ontem, aos 61 anos, devido a uma insuficiência hepática. Artistas e parentes estiveram no Cemitério do Morumbi. Simonal foi internado no Hospital Sírio-Libanês no início de abril e os médicos consideravam pequenas as chances de recuperação. No entanto, o cantor conseguiu reagir e, 40 dias depois, recebeu alta. A causa da morte foi a falência do fígado. Wilson Simonal de Castro foi um dos artistas mais populares do Brasil no fim dos anos 60 e início dos 70. Nasceu no dia 16 de fevereiro de 1939, em Água Santa, subúrbio do Rio. Sua mãe era lavadeira. O nome Simonal foi uma homenagem ao médico que a ajudava a manter a casa pobre: seu sobrenome era francês, Simonard. O tabelião grafou Simonal. Começou a cantar no fim dos anos 50. Ouvido por Sérgio Mendes, Luís Carlos Mile e Ronaldo Bôscoli, foi levado por eles ao Beco das Garrafas, em 1961. Mas o inquieto cantor, de voz afinadíssima, aveludada, e dono de um balanço infernal, único, nunca ouvido antes nos palcos da zona sul carioca, não ficaria preso às amarras formais da contida bossa nova. Simonal criaria seu próprio estilo - ainda que seu primeiro grande sucesso houvesse sido Balanço Zona Sul, samba de Tito Madi, um dos precursores da bossa. Simonal uniu-se artisticamente ao pianista Luís Carlos Vinhas e viajou com o trio dele, o Bossa Três, pelo mundo. Lançou, em 1962, um disco formidável, A Nova Dimensão do Samba, que trazia a antítese dos postulados estéticos da bossa. Era um trabalho vigoroso, extrovertido e trazia, pioneiramente a mistura do samba com a música pop negra norte-americana e intenções jazzísticas. Neste disco, Simonal gravou e tornou populares as músicas Nanã de Moacir Santos, e Lobo Bobo, de Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli. Eram interpretações sofisticadas, obra de um grande, inovador intérprete. No entanto, Wilson Simonal abandonaria, logo, a linha sofisticada apontada por esse trabalho. Em 1966, estava no comando do programa Show em Si Monal, da TV Record, e começava a estabelecer o feitio de seu sucesso popular, gravando Meu Limão, Meu Limoeiro, uma adaptação feita por seu amigo Carlos Imperial de uma cantiga tradicional norte-americana, e cortando as palavras do País Tropical, de Jorge Ben (antes de vira Ben Jor) - não cantava "Moro num país tropical/ Abençoado por Deus...", mas "Mo... num pa tro pi" - e assim por diante. A expressão "patropi" entrou na fala cotidiana. Era uma maneira simpática e debochada de referir-se ao Brasil sem liberdades do regime militar. Simonal não era político. Tinha amigos na polícia e quando, em 1971, descobriu o desfalque em suas contas dado por um contador, em vez de processá-lo, chamou os amigos policiais ligados aos órgãos de repressão para que dessem uma lição no desonesto. A história veio a público e, no auge do sucesso, quando comandava platéias nos estádios e era o único músico negro brasileiro com status de grande estrela, começou seu exílio. Era impossível, nos anos 70, que alguém fosse ligado aos organismos de repressão. Simonal foi banido - pelos artistas, pelas gravadoras, pelas emissoras de rádio e televisão. Até agora, 30 anos depois, vinha tentando provar que não era a pior coisa que um artista poderia ser: colaborador da repressão política. Morreu sem conseguir voltar à tona.

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