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Silverchair lança novo álbum, "Diorama"

Daniel Johns, vocalista do grupo australiano que foi um dos destaques do Rock in Rio, fala à Agência Estado sobre o novo disco e conta sobre a doença rara que o impede de fazer turnê

Por Agencia Estado
Atualização:

iorama é um quadro iluminado na parte superior por uma luz móvel e que produz ilusão ótica. É também o nome do novo disco da mais destacada banda australiana da atualidade no cenário internacional, Silverchair. Disco interessante, que evoca boas experiências do rock dos anos 70, como Queen, Beach Boys, Pink Floyd e Led Zeppelin, Diorama (Warner Music) não vai ter uma grande turnê internacional de lançamento. O motivo: a doença do seu vocalista Daniel Johns, que sofre de anorexia e uma espécie rara de artrite. "Não posso cantar nem tocar guitarra, nem tenho previsão dos médicos de quando isso poderá acontecer de novo", disse Johns à reportagem, na semana passada, falando por telefone da Austrália. O grupo foi forçado a cancelar seus shows já agendados, mas Johns manteve-se firme na divulgação do trabalho, falando com jornalistas do mundo todo - embora sob cuidados médicos em sua casa. "Escolhi dar o nome Diorama ao disco porque a idéia foi criar esculturas imateriais, compor peças que dessem a idéia de um diorama musical", ele contou. O cantor não refutou as diversas associações que os críticos fizeram do seu disco com o som de bandas ´setentistas´. "Acho legal ser comparado com Pink Floyd ou Queen, ninguém está errado, porque a música permite interpretações diferentes; mas se eu fosse arriscar algo, diria que sugere algo do Led Zeppelin", confessou. "Minha maior influência foi Jimmy Page, do Led Zeppelin, mas a intenção nesse disco foi explorar diferentes sonoridades, nenhuma canção parece demais com outra e eu realmente não sei dizer se soa assim ou assado." Vibração - Johns foi um dos destaques da mais recente edição do Rock in Rio, enfrentando com sua banda um público desconfiado e fazendo um dos melhores shows da última noite do festival. "Para ser honesto, eu não me lembro de muita coisa, só que foi inacreditável, uma sensação de gelar a espinha, havia gente pra caramba à nossa frente e o Rio é um lugar extraordinário, tem uma vibração incomum", contou. "Quero voltar ao Rio um dia, e dessa vez ter uns quatro ou cinco dias de folga para poder conhecer bem a cidade; o Brasil é um dos meus lugares favoritos no mundo." O Silverchair surgiu em meados dos anos 90, formado por músicos muito jovens. Muitas vezes o definiram como decalque dos grupos de grunge de Seatlle, como Pearl Jam - a voz do cantor realmente lembra a de Eddie Vedder. Hoje, além de Johns, o Silverchair tem na formação Ben Gillies (bateria e percussão) e Chris Joannou (baixo). Apesar da saúde frágil, Johns escreveu as canções, compôs a música e fez arranjos orquestrais para três faixas de Diorama, quarto disco de estúdio da banda. Para outras três (Across the Night, Tuna in the Brine e Luv Your Life), ele convidou um cobra, o músico Van Dyke Parks, que já tinha trabalhado com Brian Wilson, dos Beach Boys. Nas 11 faixas do álbum, há um bocado de auto-referência e boa dose de lirismo, além da alternância costumeira de barulho e calmaria. Os arranjos orquestrais relembram a ambição grandiloqüente de grupos dos 70, como o Queen (em After All These Years, centrada em piano e cordas). "All those years I was hurting to feel something more than life", canta Johns. Ele tenta injetar as próprias convulsões interiores na música. E é radical em suas decisões. "Diorama foi feito sem o uso de softwares de correção", avisa a banda no encarte do disco. E Johns explica. "Não sou um inimigo da tecnologia, mas definitivamente não sou amigo dos pitches de correção de estúdio", diz. "Estou em busca de uma coisa real, uma arte que seja uma expressão de um sentimento humano, e não tentando manipular algo, as emoções do artista e das pessoas que o ouvem." Essa disposição perpassa Diorama, disco que poderia ser facilmente enquadrado num desses rótulos de verão que a crônica especializada em música inventa no Primeiro Mundo, como o emocore (emoção com hardcore, pecha nova para a velha balada). As diferenças não são somente as letras de Johns e o peso do Silverchair, mais decisivo que a lírica. É a sinceridade da banda, garotos que começaram como epígonos do grunge, mas souberam fazer bem seu elogio da geração anterior. "Todas as pontes no mundo não vão salvar você/Se não há um outro lado para atravessar", canta Johns em World Upon Your Shoulders. "E o que repousa sob as nuvens é uma percepção alterada e eu vou pagar pela sanidade/Mas sanidade não custa barato", ele retoma, em Luv Your Life. Mais pop que seus ancestrais, Diorama traz visões adolescentes e um sopro de tensão para o rock internacional. Seus articuladores parecem saber para quem falam, já que o lançamento já teve boa acolhida de público. E o disco teve uma faixa, The Greatest View, indicada para o prêmio da "MTV".

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