Show de Roger Waters é caldeirão psicodélico

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Por Agencia Estado
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Durante boa parte dos anos 90, o único lugar em que se ouvia alguma música do Pink Floyd era em trilha de documentário científico ou programa jornalístico sobre economia, com o barulho das caixas registradoras de Money servindo como vinheta. Era uma banda de algum passado remoto. O que aconteceu então de lá para cá que o grupo renasceu nas mentes de jovens que têm hoje 18 ou 20 anos e que encheram o Pacaembu na noite de ontem para ver o ex-baixista da banda, Roger Waters? Vai saber. Assistir ao show In the Flesh, de Waters, junto a mais 26 mil pessoas - estimativa da Polícia Militar e dos organizadores - foi a comprovação de que o Pink Floyd não é mais apenas um fenômeno nostálgico, mas a sedimentação de revivalismos diversos no comportamento do jovem moderno. Tanto o libelo exagerado de Waters dos anos 80, The Wall, quanto a Swinging London dos anos 60, em Shine on You Crazy Diamond, comparecem no show. Não como efeitos de estranhamento temporal, mas como algo familiar, uma pulsão tão moderna quanto os chapéus de Macy Gray, as costeletas de Liam Gallagher ou a figura esfarrapada de Julian Casablancas, do The Strokes. Waters não é mais aquele dândi atrevido da Swinging London, mas um sarado pai de família, muque de academia evidente nos braços, camiseta por dentro das calças, cinto de fivela brilhante, cabelo repartido ao meio. Ainda assim, a platéia reconhece que ele sabe o caminho, bebeu da trilha de um tempo que eles veneram sem tê-lo vivido. Os pais conseguiram cooptar os filhos, essa é a verdade. E com um argumento musical, ao contrário do que faziam no passado. Foi emocionante ouvir o Pacaembu inteiro cantando Another Brick in the Wall, num coro afinado, e toda aquela atmosfera que transformou o Pacaembu num caldeirão psicodélico. O show de Waters é de extrema competência, uma banda experiente e talentosa - certo que são três guitarristas para substituir um insubstituível, David Gilmour. O concerto cai um pouco no seu set de músicas dos discos-solo, que têm um apelo mais new age, um certo clima de trilha de auto-ajuda. Suas três vocalistas de apoio - Katie Kissoon, PP Arnold e Linda Lewis são fenomenais.

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