Show de Maria Rita: firmeza como estrela da MPB

Maria Rita é graciosa, alegre, espontânea. Afinadíssima, sabe controlar a emoção quando quer. Traz a platéia na palma da mão, até quando controla as vaias para a prefeita Marta Suplicy

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Por Agencia Estado
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A música escolhida por Maria Rita para abrir o show de quarta-feira, no DirecTV Music Hall - o primeiro que faz em casa de porte grande, em São Paulo - era a menos boa de seu disco. Cupido é composição de Cláudio Lins, filho de Ivan, que no CD soa desossada, cava. No palco, ao vivo, o magnetismo da cantora impregna a canção e faz dela preciosidade. É privilégio das grandes intérpretes. Nara e Elis conseguiam isso. Nana e Bethânia conseguem. Marisa Monte, não. Gal já conseguiu, em outros tempos. Sim, é uma comparação. Na platéia, o compositor Celso Viáfora fez duas observações pertinentes. Primeiro: como Elis, e como ninguém até agora, Maria Rita consegue, cantando, rir afinado. Segundo: por mais que dance, pule, gesticule, faça firulas no canto, o espectador não se distrai da canção. Não perde uma nota, uma palavra. Os artifícios cênicos servem à música. Maria Rita traz a platéia na palma da mão. Anunciou a presença da prefeita Marta Suplicy. A casa superlotada vaiou escandalosamente. A cantora deu bronca: vaia não, isto aqui é festa, é música. A vaia foi dando lugar a aplausos. Não para a prefeita. Para a cantora. Era como se ela dissesse: a estrela sou eu. E o público entendesse o lugar das coisas. O show Maria Rita estreou segunda-feira, no Canecão, no Rio. O segundo show foi em São Paulo, prévia da temporada de lançamento do CD, que terá início no mês que vem. O repertório do espetáculo é o do disco, menos por três músicas: Conta Outra, do compositor Edu Tedesco, da nova geração de autores paulistanos; Tristesse, de Milton Nascimento, vencedora do Grammy de melhor música brasileira do ano, cantada por Maria Rita no disco Pietá, de Milton; e Todo Carnaval Tem Seu Fim, de Marcelo Camelo, do grupo Los Hermanos, autor que a cantora elogia desbragadamente. Canta quatro músicas dele num show de apenas 16 títulos. No disco são três. Ela acrescentou outra. Ganhou cinco minutos de aplauso depois da lenta Menina da Lua, do novato mineiro Renato Motha, que dedicou ao pai, César Camargo Mariano, presente. Emocionou-se. A platéia percebeu e aplaudiu mais. Puxou um cacho do cabelo. Mais aplausos. Passou a mão na testa. Delírio. A platéia na palma da mão. Ganhou mais cinco minutos de aplauso depois do blues Não Vale a Pena, dos veteranos Jean e Paulo Garfunkel, presentes. E ali, naquele palco, era só música. Nenhum cenário - uma cortina de fundo, cuja cor a iluminação mudava. Descalça, uma roupa só, um longo preto com sobressaia colorida que tirou para voltar ao bis. Nem sopros, nem cordas: um ótimo trio de baixo (Silvinho Mazzuca), piano (Tiago Costa), bateria (Marco da Costa) reforçado pela percussão criativa de Da Lua. Maria Rita é graciosa, alegre, espontânea. Afinadíssima, sabe controlar a emoção quando quer tornar denso o número que interpreta, sabe onde cabem os arroubos e quando o silêncio e a contrição são preciosos. Mexe os braços, bate os pés, move os quadris para frente e para trás, segura a sobressaia quando fala da Lavadeira do Rio, de Lenine e Bráulio Tavares. Mencionou só Lenine, devia falar também de Bráulio. Um espetáculo memorável. Maria Rita nem precisava, mas confirmou a grande estrela que é. Muita gente, na imprensa, anda fazendo críticas. Tom Jobim dizia que brasileiro detesta o sucesso: "A gente pode gostar do Garrincha, mas é preciso gostar também do Pelé." Pois é. Nota dissonante: o DirecTV Music Hall é um perigo. Ninguém consegue se mexer na casa superlotada. Um início de pânico pode provocar catástrofe, perceberam, autoridades?

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