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Sesc traz Renato Teixeira no sábado

Por Agencia Estado
Atualização:

Cantor, compositor, violonista, violeiro, poeta, Renato Teixeira sobe sábado ao palco do Sesc Pompéia, em São Paulo, para mostrar suas músicas e clássicos de sempre da música caipira. Renato é a atração da semana do projeto Causos & Modas de Viola. Estará acompanhado por Natan Marques (violão de 12 cordas), Ricardo Zohio (contrabaixo) e All Cleber (percussão). Vai cantar os sucessos que assina e todos conhecem - Romaria, o maior deles, lançado por Elis Regina em 1977, no elepê Elis, mais Tocando em Frente, que foi tema da novela Pantanal, Amora, Chalana, Amanheceu, Peguei a Viola, Frete, Um Violeiro Toca. Dos clássicos caipiras escolheu números como Rio de Lágrimas, De Papo pro Ar, Casinha Branca, Cálix Bento. Trilha - Promete alguma coisa nova, mas não vai adiantar nenhuma das canções da trilha sonora que escreveu para a peça A Luta Secreta de Maria da Encarnação, de Gianfrancesco Guarnieri, que tem estréia prevista para o dia 9 de novembro, no Teatro Sérgio Cardoso. Não é um musical, mas um drama em que a música comenta a narrativa. A trilha de Maria da Encarnação vai ser lançada em disco, possivelmente em dezembro. Os arranjos - de Natan Marques para orquestra sinfônica - estão prontos, a orquestra ensaiada, regida pelo saxofonista Roberto Sion. Fica faltando a gravadora. Renato Teixeira, que se orgulha de só tocar para teatro cheio (entenda-se: o público lota qualquer teatro onde ele se apresente), não é um artista "da mídia". Grandes gravadoras não lhe dão bola. O público o adora. Aquela velha questão. "Eu sou daquele tipo de artista que está esperando, na estação, pela passagem do trem da mídia", brinca. É brincadeira mesmo. "Grande sucesso, já tive; dá para viver do que faço; não me faltam shows nem público; então, tá bão", prossegue brincando e acentuando o sotaque. Santista - Renato Teixeira de Oliveira nasceu no litoral - em Santos, em maio de 1945. A infância foi passada em Ubatuba. Tinha 14 anos quando foi com a família para Taubaté. Foi lá que começou a compor. Em 1967 estava em São Paulo e classificou, no festival de música popular da TV Record, a canção Dadá Maria, que Sílvio César e Clara Nunes depois gravariam. No festival do ano seguinte, concorreu com Madrasta, parceria com Beto Ruschel interpretada por Roberto Carlos. Em 1972, participou do festival internacional da canção, da Globo, com Marinheiro, que constou do repertório de seu primeiro disco, Paisagem, lançado em seguida. Já era artista respeitado quando compôs Romaria: "Sou caipira, Pirapora, Nossa / Senhora de Aparecida" - versos e melodia dotados daquele toque mágico exclusivo das obras de arte que falam ao inconsciente coletivo, que parecem pertencer, à primeira audição, à seleção arquetípica das canções que definem a cultura - uma cultura de raiz caipira modificada pelo tempo do homem que a constrói. Uma proeza. Romaria foi um dos maiores sucessos de Elis Regina. Obscureceu as outras faixas do disco - inclusive outra obra-prima do mesmo Renato Teixeira, a valsa Sentimental Eu Fico, uma evocação de tom mais urbano. Confissões, reminiscências do boêmio que foi na capital paulista. Hoje, Renato Teixeira tem até um site, em que é possível conhecer detalhes biográficos e ouvir trechos de músicas (www.renatoteixeira.com.br). Mas não é dado a pirotecnias. Vai a cena, canta o que sabe - é o quanto basta. Contemporâneo - "Meu show não tem nada de ´luzes, câmera, ação´. Nem mesmo tenho roteiro prefixado, para deixar que a seqüência se faça de acordo com o que sinto da platéia", conta. "Canto os clássicos da música caipira e depois o meu trabalho, que é uma tentativa de tornar essa música contemporânea", revela. "Isso começou com Romaria e virou centro do meu trabalho, desde então, para sempre." A música caipira, hoje, já tem ídolo nacional, lembra Renato, citando Almir Saater, que fez "uma revolução na viola" ou o gaúcho gaiteiro-de-ponta Renato Borgheti - e não só eles. "A música do litoral sempre dominou, deixando as regionais em segundo plano; agora, o caipira está conseguindo projeção maior", avalia. Deve avaliar, também, embora não o diga, que está na ponta-de-lança desse movimento - desde Romaria. E essa questão do predomínio da música do litoral nem ao menos é questão econômica. Não é de hoje que cantores e duplas caipiras sustentam gravadoras. Renato lembra um confusão que houve entre fãs de Tonico e Tinoco que queriam embarcar num trem aqui em São Paulo, para ir ouvir os ídolos num show em São Miguel Paulista. E eles não estavam na mídia. Retrato de cultura - "É que essa é a música de uma cultura", diz. "Existe uma culinária, uma literatura, moda caipira - mas tudo isso ficou patinando, meio escondido. A música parou na fórmula do violão com viola, primeira e segunda vozes." Com sua informação basicamente da música popular do litoral, Renato começou a prestar atenção, em Taubaté, à música caipira. "Mas eu não queria formar dupla caipira, repetir Tonico e Tinoco; pretendi fazer uma leitura contemporânea daquela cultura, daquela música, uma visão que não perdesse a raiz, mas que atendesse a outros gostos, inclusive ao do mundo do disco, e que explorasse as possibilidades daquela música", diz. Porque, entende, a moda de viola, a música caipira, impregna - ainda que poucas vezes e por poucos detectada - a música popular, toda: "Estava em Noel, em Ari Barroso, está no Chico Buarque, no Caetano", avalia. "O espírito da viola está sempre presente. Ainda que a idéia que se faça da música caipira seja ruim, por culpa, em parte, dos artistas caipiras, que cederam muito à indústria", concede. "E a música deformou-se ao aceitar influências paraguaias, mexicanas... o que, se de um lado provocou descaracterização, por outro mostrou que ela, a música, está viva, em elaboração. Constatação que muito me agrada, a mim, um artista caipira." Dedicado até a alma ao gênero. Está montando, em parceria com o violeiro Ivan Vilela, uma Escola de Viola Caipira que vai funcionar em São Luís do Paraitinga e terá o primeiro vestibular em 2003. O aluno sai acadêmico. Serão, na verdade, três escolas: de teatro, de artes plásticas e de viola. Voltadas todas, para o universo sertanejo. Além disso, Renato já tem gravado, com o ator Lima Duarte, uma história de Nossa Senhora de Aparecida. São textos, que Lima Duarte narra, sobre fundo de viola, e algumas canções novas de Renato. "Começamos a fazer esse trabalho antes de ir ao ar a novela A Padroeira, da Globo, que tratava de Nossa Senhora Aparecida. Cheguei a mandar músicas para eles, mas não houve interesse", revela. Coisas da indústria. O trabalho com Guarnieri nasceu um tanto por acaso. O teatrólogo queria que Edu Lobo (com quem fez, nos anos 60, o espetáculo Arena Contra Zumbi) escrevesse a música. Mas Edu está ocupado com outra produção. Renato é vizinho - e amigo - de Guarnieri, na Serra da Cantareira. Veio o convite. Imensa satisfação. Uma pequena frustração: Renato queria que Guarnieri escrevesse as letras, para que ele as musicasse (como foi com Edu, no trabalho citado). Guarnieri preferiu que Renato assinasse letra e música. "Mas como vai ter o disco, guardei umas três melodias. Quem sabe, até lá, ele se anima? Ia ser muito bom." Renato Teixeira - Sábado, às 21 horas. De R$ 6,00 a R$ 12,00. Teatro do Sesc Pompéia. Rua Clélia, 93, tel. (11) 3871-7700.

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